DADOS DO LIVRO:
Título: Tapete de silêncio
Editora: Global
Ano: 2011
PREÇO: de R$ 21,10 a R$ 32,00
ONDE ENCONTRAR:
Livrarias:
SINOPSE:
O que fariam dez homens reunidos no coreto da praça da
Matriz de Pouso do Sossego, numa noite chuvosa? Entre cochichos, risos abafados
e pigarros, eles aguardam a meia-noite. Liderados pelo comerciante Osório,
esses respeitáveis senhores de bem têm um dever a cumprir: manter a ordem e a
honra do lugar onde vivem.
Tendo como cenário uma pequena cidade interiorana, nomeada
ironicamente Pouso do Sossego, o autor cria dois planos narrativos: o primeiro
tem a duração de uma noite e é narrado em primeira pessoa por Osório, cujo
olhar conduz o leitor por essa longa e trágica noite; no segundo plano,
batizado de "Coro", um narrador em terceira pessoa retoma episódios
do passado.
Presente e passado dialogam ao longo do romance, num jogo de
sombra e luz: as ações do presente são envolvidas pela noite, pela chuva, por
sombras e vultos, ódios e rancores; os acontecimentos do passado desfilam
coloridos, sobretudo pela chegada à cidade de ruidosa e alegre companhia
circense.
Nesse microcosmo povoado de personagens emblemáticas, Braff
desnuda os subterrâneos do poder, calcado na hipocrisia e na intolerância.
Diferente de seu último romance, Bolero de Ravel, também publicado pela Global,
em que o ficcionista detém suas tintas na composição de um único e enigmático
personagem central, em Tapete de Silêncio pode-se dizer que Pouso do Sossego (e
suas mazelas) constitui a peça nuclear do romance. E a tradição, moeda de honra
do lugar, deve ser mantida com a paz dos cemitérios.
TRECHO DO LIVRO
"Esta chuva surpresa nenhuma, aquelas nuvens grossas
amontoando-se a tarde toda no topo do morro escuro. Primeiro aviso se formando
além da Vila da Palha, no alto. Então pensei, vai chover. Depois o vento frio
que varreu por baixo a rua, arrepiando os braços da cidade. Da porta do armazém
eu olhava na lonjura o morro: esta noite vai chover. Agente sentia com a pele,
o sentido, mesmo sem pensamento, nosso corpo. E chovendo, assim, a cidade toda
no resguardo, a televisão na sala. Com sol ou chuva, o recado firme pra nossa
turma. De hoje não passa, o safado. Na praça, o banco debaixo da
seringueira."
RESENHA:
TAPETE DE SILÊNCIO
Menalton Braff
é, sem sombra de dúvida, um dos mais importantes romancistas brasileiros
atuais. Conseguiu concretizar o sonho de todo escritor: dedicar-se
integralmente à Literatura. Assim se
explica, além do talento inquestionável e a criatividade fértil, seu sucesso
como escritor. Tapete de Silêncio
(Global Editora, SP, 2011) é seu décimo oitavo livro publicado. Em 2000,
conquistou o Prêmio Jabuti__Livro do ano, com a coletânea de contos À sombra do
cipreste. Várias vezes Menalton foi finalista dos mais importantes prêmios da
literatura brasileira.
A narrativa se
passa no povoado Pouso do Sossego. O nome do lugar já é uma metáfora, pois
nesse microcosmo vivem as personagens
principais e as secundárias, no seu mundo repleto de medos, cismas,
dúvidas. A trama se inicia com dez homens reunidos no coreto da praça da
Matriz. Por que a reunião? O que pretendem fazer? Liderados por Osório, esses
respeitáveis senhores de bem têm um dever a cumprir: manter a ordem e a honra
do lugar onde vivem. Bizarros executores de sentença lavrada por um pretenso
juiz. Os acontecimentos da noite trágica são narrados em capítulos e Coros: os
primeiros narram fatos atuais, contados por Osório, em primeira pessoa; os
segundos, com foco narrativo em terceira pessoa, elucidam episódios do passado.
Ao longo do
romance, presente e passado se misturam,
em um jogo de sombra e luz. As ações do presente se passam à noite, sob a chuva
e o frio; sombras e vultos, ódios e rancores,
tudo compõe o quadro sinistro. A chegada à cidade de ruidosa e alegre
companhia circense é o vetor que desencadeará os fatos macabros. O autor desnuda, com maestria, os
subterrâneos do poder, alicerçado na hipocrisia, na intolerância, nos falsos
valores. Poder-se-ia afirmar que Pouso
do Sossego é a peça nuclear do romance. Como é denunciado na orelha do
livro, a pequena cidade se arvora a
defensora da tradição, moeda de honra do
lugar, que deve ser mantida com a paz dos cemitérios.
Menalton
Braff sempre se realçou, em toda sua obra, como um estilista, exímio conhecedor da
língua portuguesa, autor que se preocupa não só com o conteúdo, mas também com
a forma. Em Tapete de Silêncio, os capítulos são narrados pela personagem
principal, Osório. Por isso, provavelmente, há uma espécie de licença
gramatical, com uso repetido da
próclise, no início da frase e o emprego de corruptelas, como “pra” e algumas
expressões coloquiais, talvez para
enfatizar a oralidade na narrativa.
Inteligente e
sobriamente, tiradas filosóficas sobre os seres humanos, a vida e a morte, são
inseridas no relato. Sobressai a atmosfera de mistério que antecede o crime,
assim como a intrigante personagem da velha desconhecida, que arrasta seu
anonimato e sua miséria, “distribuindo sua tosse por onde andava” e é
encontrada morta na escada do coreto. Este mistério não é desvendado, o final
do livro é aberto e também o crime hediondo, com a morte do sedutor, o
assassinato em defesa da honra fica impune.
É Osório que afirma: “A cidade toda, se pudesse saber o que se passou,
apoiaria o que fizemos. Pelo menos as pessoas de bem desta cidade. Um crime ,
mesmo um crime de sedução, não pode ficar sem castigo. E severo para que sirva
de escarmento”.
O romance Tapete
de Silêncio é uma obra densa, que envolve o leitor em um mergulho nas regiões
abissais da alma humana.
VÍDEO:
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