sábado, 22 de novembro de 2014

O JORNAL CELULOSE ONLINE PUBLICA ARTIGO DE MENALTON BRAFF SOBRE LITERATURA


Literatura – Menalton Braff – Literatura: o que é isso?


Uma das perguntas mais difíceis de se responder (pelo menos em poucas palavras) é a do título acima. E isso por diversas razões. Uma delas é o fato de ser um conceito histórico, isto é, o que se pensa como sendo literatura não tem sido sempre a mesma coisa. O que se tem por literatura ontem pode não ser mais hoje; e textos que nasceram com outra finalidade que não a literária, atualmente são lidos como literatura. Outra razão da dificuldade é a variedade de correntes críticas, em alguns pontos coincidentes, em outros divergentes.

Apesar de todas as dificuldades, vamos tentar neste espaço, encontrar algumas respostas que sejam mais consensuais, que permitam distinguir um texto literário de um texto não literário. E isso, é óbvio, de acordo com parâmetros contemporâneos.

Em que pese o fato de ser uma impropriedade vocabular, devemos buscar o início da literatura, isto é, seu gênese, em períodos os mais afastados de que temos notícias. Logo, precisamos recuar na História até o homem da caverna. Lá vamos encontrar as primeiras narrativas, histórias com que os mais velhos (portanto, mais experientes) procuravam educar as crianças. Essa foi nossa primeira escola: um adulto, sentado ao pé da fogueira, e, cercado por meninas e meninos, narrava fatos exemplares do dia a dia, com o intuito de os preparar para a sobrevivência. Tais narrativas, que de literárias eram apenas o gérmen inicial, justificavam-se porque o conhecimento abstrato é facilmente esquecido, ao passo que a memória torna-se muito mais eficiente ao guardar uma história. Ressalte-se que tais histórias tinham uma finalidade educativa e não artística.


Além disso, eram textos orais, que não se fixavam, sendo a literatura oral, sem letra ou littera, apenas uma designação de caráter histórico e não pragmático.

Bem mais tarde, pode-se dizer que nas civilizações mais antigas e mesmo na antiguidade clássica, tanto a prosa quanto a poesia mantinham ainda seu caráter educativo. O poeta era uma espécie de profeta, aquele que deveria educar o povo. Num patamar bem superior àquele do home da caverna, mas mantendo muito das finalidades primevas. O mesmo acontecia com textos narrativos, que, na verdade, tinham como objetivo a instrução, a educação do povo. Tais formas textuais foram intensamente utilizadas pelos sacerdotes da antiguidade, quando se propunham a educar o povo rude, incapaz de assimilar conceitos abstratos.

O que se convencionou chamar de primeira manifestação literária narrada, foi o Decamerom, de Giovanni Boccaccio, escrito entre 1348 e 1353. Nos cem contos de que se compõe o livro, não se encontram histórias exemplares, que sirvam de modelo ao povo, que o instruam a respeito do que quer que seja, que propaguem qualquer tipo de conhecimento. São histórias para o puro deleite da leitura.

Dado este início do que se pode chamar com propriedade de literatura, e por uma questão de espaço, precisamos interromper aqui nossa dissertação, que pretendemos continuar no próximo mês.

Uma observação final: no início precisamos desta discussão conceitual, mais árida, menos atrativa, mas isso para evitar, no futuro, incompreensões possíveis. Quando se falar do que é e do que não é literatura, será bem mais fácil o entendimento.


* Menalton Braff é escritor, com 21 obras publicadas e colunista da revista Carta Capital

Nenhum comentário:

Postar um comentário

http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças