sábado, 28 de fevereiro de 2015

RESENHA DO MÊS

            Aider Cruz Oliveira
No mês de fevereiro a resenha do livro lido ficou a cargo da Aider Cruz de Oliveira, uma das integrantes do grupo.


Os participantes do Grupo de leitura Dom Quixote leram o livro “Contagem Regressiva" de Vanessa Maranha e reuniram-se para, a apreciação do mesmo no último domingo do mês.
Foi destacado que, no princípio da leitura, e talvez sugestionado pelo título, o leitor tem a impressão de que  a personagem João, um homem já maduro e com filhos adultos  que decide pela auto-internação, em um hospital psiquiátrico, vai ter o tempo final de sua vida narrado.

Entretanto, não é isso que ocorre, pois a narrativa flui do tempo presente para o passado, numa criativa inversão numérica de partes, que começa com a de numero III e vai até a de número I.  As partes são divididas em capítulos com a narração feita basicamente em primeira pessoa, com exceção do capítulo 8, único da parte II, que é feito em terceira pessoa imitando talvez uma ponte entre a idade adulta e a infância.


Foi destacado que, em toda a obra, a linguagem é enxuta, limpa de adjetivos ou advérbios desnecessários e que há uma adequação do plano de expressão à narrativa de acontecimentos da infância e bem como à narrativa dos acontecimentos da vida adulta.  A poesia, imiscuída na prosa, já se percebe, nas primeiras páginas, com construções do tipo“...um ouriço cheio de fingimentos de ser macio”( p 15), “...O corpo vai sendo lavrado  e assim inventaria a vida.”( p 21). Também, nos títulos, há esse cuidado poético como em “histórias alheias costuram o mundo” ou “voos desabridos”, só para citar dois deles.

Quanto à temática, foi unânime a constatação de que permeiam o texto as questões da finitude, da loucura e da eterna tentativa de o homem ler-se no relato de suas memórias. Foi, ainda, observada a estratégia utilizada pela autora de inserir os episódios de violação de correspondência feita pelas crianças, para dar ensejo a temas relacionados a outras questões humanas como a inveja, a dúvida, a ambição, entre outros.
O livro conta a história de João. O João-criança é rodeado por figuras femininas marcantes e por figuras masculinas pouco palpáveis: um pai quase ausente, um avô morto e um anjo inventado. O João-adulto não se entende com os filhos; tem mais de um casamento desfeito; interna-se por vontade própria num manicômio; apaixona-se pela juventude e beleza de uma enfermeira e é rejeitado por ela; aceita a aventura de uma relação não motivada pelos atrativos físicos, mas através da qual encontra algum aconchego. João faz escolhas e vai vivendo a que é possível viver.
 Parece tudo muito simples dito assim resumidamente, mas no modo peculiar de contar a história de João, a autora pinta cenas, sugere intenções e, sobretudo, não fecha portas à participação do leitor experiente e inventivo.


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