quinta-feira, 28 de maio de 2015

QUESTÕES DE ESTÉTICA DA LITERATURA (140)


E continuamos com o texto fundamental do prof. Alfredo
Bosi. As fotos são do Derrida porque ele é citado
no texto que vamos transcrever hoje.

O OUTRO EXTREMO: A HIPERMEDIAÇÃO

"Mas a Era é dos Extremos. Ao pólo da literatura brutalista e imediata opõe-se, ao menos teoricamente, o pólo da literatura hipermediadora: é o maneirismo pós-moderno feito de pastiche e paródia, glosa e colagem, em suma, refacção programada de estilos pretéritos ou ainda persistentes.
Este também é um fenômeno da cultura globalizada e se verifica em todas as artes.




Quem vai a Lisboa, vê, ao lado de Chiado, da Alfama, do Castelo de São Jorge, do Terreiro do Paço, da Torre de Belém e da Casa das Janelas Verdes, algo estranho, que é o maior shopping center das terras lusas, as Amoreiras. Que vem a ser? Mistura de clássico, barroco, neo-romântico, modernoso, onde se aglutinam colunas e arcos, torrinhas e pastilhinhas. Rosa-choque e amarelo-pimpão, verde-bandeira e roxo-procissão. O arquiteto que fez as Amoreiras definiu sua obra alvarmente: 'Arquitetura de citação'. E comentou: própria de um shopping.
Quem diria que nos viria do nosso velho Portugal a boa definição da hipermediação pós-moderna? Arquitetura de citação.
Derrida dixit: 'Todo signo, escrito ou falado, pode ser citado e posto entre aspas'. A desconstrução é a desfiação da tessitura textual. Os fios estão colados. A operação própria do analista de texto seria a descolagem.
Ora, o que há de citação ou de alusão nas obras do romance ou da poesia hoje corresponde ao que há de análise retórica desconstrucionista na crítica literária. Uma literatura que pasticha estilos alheios estimula e é, em ricochete, estimulada por uma crítica para a qual todo texto é uma rede de topoi ou clichês, de camadas de remissões diretas ou oblíquas, concentradas ou disseminadas, voluntárias ou não, em suma, uma crítica que desenvolve e promove uma concepção cumulativa e paroxística de intertextualidade. Quando tudo já vem mediado pela convenção literária, tudo na verdade é citação. Como, inclusivamente, já o tinha inferido o nosso arquiteto português.
A crise de identidade do sujeito que escreve, que a prática desconstrucionista tende a exasperar, é, no limite, a morte do autor auspiciada, a certa altura, por Barthes. Sujeito da escrita e autor seriam, em última instância, encenadores móveis de mensagens pelas quais não passaria uma consciência estruturante estável nem uma personalidade criadora de um estilo próprio. A escrita seria, portanto, um produto de aglutinação de subdiscursos que caberia à Retórica ou à História das Mentalidades classificar."

(CONTINUA)









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