terça-feira, 7 de julho de 2015

RESENHA DO MÊS

Informações biográficas : Graciette Borges da Silva , graduada em Ciências Políticas e Sociais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de S.Paulo; pós-graduada em sociologia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de S. Paulo. Profa. Aposentada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto- USP .




Resenha. Livro de Evandro Affonso Ferreira, Os piores dias de minha vida foram todos.Rio de Janeiro . Edit. Record, 2014.



Evandro Affonso Ferreira, mineiro de Araxá,vivendo há mais de 40 anos em S. Paulo,capital, emergiu no mundo literário em 2.000, recebendo alguns importantes prêmios  desde então.
"Os piores dias de minha vida foram todos", publicado em 2014, é o terceiro livro de uma trilogia que se inicia com " Minha mãe se matou sem dizer adeus", prêmio da APCD de melhor romance de 2010.
Da leitura que fiz e da discussão em grupo da obra referida, selecionei alguns comentários críticos que apresento, resumidamente, a seguir. 
Trata-se de uma novela em que uma narradora moribunda, confinada em um quarto de hospital, sente-se enterrada viva como Antígona. Nessa condição, passeia desnuda pela cidade de S.Paulo, em um extenso fluxo de consciência, revisitando vários lugares ( devidamente identificados) e observando cenas do seu cotidiano em que seres anônimos  ----- mendigos, velhos, dementes, drogados ---- são , como ela, perdedores das batalhas da vida. Aliás, a desesperança, os sentimentos de solidão e de derrota, frutos de  sucessivas perdas  e fracassos,permeiam todo o texto, bastante amargo e deprimente.
Imaginação e memória fundem-se, na mente da narradora, em seus estertores de lucidez, em múltiplos fragmentos integrados por temas recorrentes --- solidão, angústia, depressão, derrotismo, falta de sentido da vida, sensação de vazio total e de inutilidade absoluta. O texto é obcecado pela busca de uma linguagem original ( influência de Guimarães Rosa?), evidente no emprego abusivo,muitas vezes inadequado, de termos inusuais . Linguagem estruturada em frases curtas, sem vírgulas, mas que exorbita em repetições "ad nauseam", entre outras, do título do livro, da expressão latina "in totum", de metáforas mitológicas, de determinada construção sintática em que as preposicões (de, em) são substituídas por suas contrações pronominais (dela, nela). Tais repetições,  somadas a meras referências a inúmeros filósofos e escritores, são entediantes, pecam pelo exagero, transparecendo certo pedantismo intelectual.
Não obstante essas críticas, ressalto que gostei de ler esse livro, pois aprecio textos curtos, fragmentados, que instigam o leitor a buscar interpretá-lo e a esclarecer-se melhor sobre alguns pontos. Sobretudo, a leitura de "Os piores dias de minha vida ..." despertou em mim a curiosidade de reler os outros que compõem a sua trilogia.


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