Esta coluna reúne análises literárias escritas por Menalton Braff e publicadas originalmente em seu site.
Morte e Vida Severina (1960?)
Autor: João Cabral de Melo Neto
A Obra
Morte e Vida Severina (auto de natal pernambucano)
- Poema
dramático, escrito em versos redondilhos, herança popular-medieval.
É o reteiro de Severino, que demanda o litoral em busca da
vida, mas topa em cada parada com a morte, presença anônima e coletiva
- no último pouso, enquanto discute com o Mestre Carpina o valor
de continuar vivo ou não, recebem a nova do nascimento de um menino:
signo de que
algo resiste à constante negação da existência.
- Primeiros versos: identificação com ampliação - Severinos.
- Emblema:
"E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual
mesma morte severina:"
-Morte severina?
de velhice antes dos trinta
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
- Vida severina?
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia
na mesma cabeça grande
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
o sangue que usamos tem pouca tinta
- Encontro com primeiro morto
- Severino Lavrador, carregado
numa rede morto numa emboscada
- Ironia: Sempre há uma bala voando desocupada.
- Tem medo de perder-se: O Capiberibe, seu guia, secou.
Monólogo do Retirante. A terra e o clima são acusados das mortes.
- Primeira parada:
Estão cantando para um defunto
-
Denúncia:
- Dize que levas somente
coisas de não:
fome, sede, privação
- Cansado da viagem, procura trabalho:
Comentário:
" Desde que estou retirando
só a morte vejo ativa,
só a morte deparei
e às vezes até festiva
só a morte tem encontrado
quem pensava encontrar vida"
- A mulher da janela
Depois de dizer que de nada adianta lavrar a terra, que nada
dá, ela arremata:
"Só os roçados da morte
compensam aqui cultivar
e cultivá-los é fácil
e dão lucro imediato;
nem é preciso esperar
(Melhor profissão do lugar: rezadora titular)"
- Na zona da mata: terra mais branda, macia
Depois de louvar as belezas de uma terra assim, assiste ao
enterro de um trabalhador de eito.
"É a parte que te cabe deste latifúndio"
"Mas não senti diferença
Entre o Agreste e a Caatinga
E entre a Caatinga e aqui a Mata
a diferença é a mais mínima."
- Em Recife: Cemitério de ricos e cemitério de pobres
(diferenças). Santo Amaro e Casa Amarela.
Bairro A: usineiros, políticos, banqueiros, industriais
Bairro B: funcionários, jornalistas, escritores, artistas,
bancários, lojistas,
boticários, profissionais liberais
Bairro C: industriários, comerciários, operários
Bairro D: indigentes, retirantes
- Em um dos cais do Capiberibe: intenção suicida
Aproxima-se Seu José, mestre carpina, com quem discute o
valor de continuar vivo. Uma mulher, de uma das portas, anuncia o
nascimento de um menino (Jesus?) como resposta a quem vinha procurando
fugir da morte.
O autor:
João Cabral de Melo Neto (1920). Nasceu em Recife, de
família ligada aos engenhos de açúcar. Concluiu seus estudos no Rio e prestou
concurso p/carreira diplomática. Pós-modernismo ou geração de 45. Morto no Rio
de Janeiro em 1999.
Características
Hermetismo como sondagens no mundo onírico.
Tendência em direção ao surrealismo.
Poeta-engenheiro: preocupação com a construção poética
(esteticismo).
Objetividade na constatação da realidade, do cotidiano.
Interrogações a respeito dos meios de expressão poética.
Apuro estético.
Equilíbrio entre seus materiais (palavra, imagens) com a
temática social. Incorporação de palavras do cotidiano prosaico ao mundo
lírico.
Temática:
a) o Nordeste com sua gente (retirantes, tradições, herança
medieval, engenhos, mocambos, cemitérios, o rio Capibaribe).
b) a Espanha e suas paisagens (pontos em comum com o Nordeste
brasileiro).
c) a própria arte e suas várias manifestações (a pintura:
Miró, Picasso, etc.; a literatura: Valéry, Cesário Verde, Augusto dos Anjos,
etc.)
Outras obras
Pedra do sono (1942)
O engenheiro (1945)
O cão sem plumas (1950)
Duas águas (1956)
Terceira feira (1961)
Fábula de Anfíon e Antiode
Psicologia da composição
O rio
Auto do frade
Agrestes
Crime na Calle Relator
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