segunda-feira, 28 de novembro de 2016

CARTA CAPITAL| UMA REFLEXÃO SOBRE O HUMOR

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Uma reflexão sobre o humor

Nada é mais temido por qualquer homem público, nada é mais corrosivo para sua imagem e seu prestígio do que o riso

Umberto Eco, em seu monumental romance O nome da rosa, propõe uma das mais contundentes reflexões de que se tem notícia a respeito do riso e suas relações com a Igreja.

Certo que o mundo andou, que não estamos na Idade Média, e que muita coisa mudou, mas é sempre prazeroso voltar ao texto do autor:

‒ Mas o que te assustou nesse discurso sobre o riso? Não eliminas o riso eliminando o livro.

‒ Claro que não. O riso é a fraqueza, a corrupção, a insipidez de nossa carne. É o folguedo para o camponês, a licença para o embriagado, mesmo a igreja em sua sabedoria concedeu o momento da festa, do carnaval, da feira, essa ejaculação diurna que descarrega os humores e retém de outros desejos e de outras ambições... Mas desse modo o riso permanece coisa vil, defesa para os simples, mistério dessacralizado para a plebe.

Na situação narrativa, um monge medieval esconde, nos labirintos de uma biblioteca, o único exemplar existente de um livro de Aristóteles sobre o riso.

Trata-se de uma obra de ficção e Aristóteles não escreveu livro nenhum sobre o riso. A criação do autor baseou-se na frase “O homem é o único animal que ri”, atribuída ao filósofo.

Tenho certeza de que Aristóteles não conheceu o Delfim, um cachorro que tive na infância. Se conhecesse, talvez mudasse de ideia.

Nada é mais temido por qualquer homem público, nada é mais corrosivo para sua imagem e seu prestígio do que o riso. Para os franceses, que sabem geralmente das coisas, a pior desgraça é cair no ridículo. Nada eles temem mais do que isso.

Um bom chargista, em um jornal, faz estrago pior na carreira de um político do que todos os comícios que possam fazer seus opositores.

Vocês viram que nosso presidente parou de usar as mesóclises? Claro, foi o riso nacional. Agora alguém começa a imitar aquela mão direita dele. Logo, logo ele muda o gestual, não é mesmo?

Outro dia eu vi uma charge sobre o Renan Calheiros montado em uma vaquinha. E todo mundo conhece de sobra as relações do senador com os referidos animais. Caiu? Não caiu, pois é bom de montaria, e, por isso, continua montado e não há corcovo que o tire de lá.

Meu amigo Adamastor, gigante de origem portuguesa, me contou que certa dama usou o púlpito de um palácio vestida de camisola. Ora, mas o Adamastor, com toda experiência de vida que tem (cinco ou seis séculos) não deveria confundir simplicidade com inadequação no vestir. Tenho certeza de que não era camisola.

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