Esta coluna reúne críticas literárias elaboradas por Menalton Braff e postadas originalmente em seu site www.menalton.com.br.
Livro Analisado: Vidas Secas
Autor: Graciliano Ramos
Livro Analisado: Vidas Secas
Autor: Graciliano Ramos
A obra - Vidas Secas
é a última obra de Graciliano Ramos, o mais importante escritor da geração de
30. Retrata a vida de uma família de retirantes nordestinos, que fogem da seca.
Consequência da vida que levam, sua vida é elementarizada. Pouco falam, às
vezes grunhem, gesticulam lentamente. Na primeira viagem, a fome os obriga a
sacrificar um dos membros da família: o papagaio. Encontram, finalmente, um
rancho abandonado, onde se instalam e de onde veem chegar a chuva. Ocupam a
pousada até que chega o dono das terras, que contrata Fabiano como vaqueiro.
Doente Baleia, Fabiano obriga-se a matá-la. O tempo passa e as chuvas deixam de
cair. No capítulo "O mundo coberto de penas" antecipa-se nova seca.
Novamente os retirantes juntam sua tralha e ganham a estrada.
Personagens:
Fabiano - Pai de família, homem rude, de poucas luzes. Anda
de braços desasados, pernas tortas, quase nunca fala. O narrador, ironicamente,
sempre que descreve o personagem, compara-o a seres elementares. Ele é uma
extensão da natureza. Por outro lado, sempre que descreve a natureza, o
narrador antropoformiza-a, num nivelamento geral de todos os
seres, mesmo os humanos. Analfabeto, seu grande ídolo é o Sr. Tomás da
bolandeira.
Sinha Vitória - A mãe. Sempre quieta, responde através de
monossílabos. Mas, da família, é quem tem o maior desenvolvimento intelectual.
Consegue fazer contas (usando grãos de feijão). Faz as observações mais certas.
Seu maior sonho era uma cama como a de seu Tomás da bolandeira.
Menino mais velho e menino mais novo - Sintomaticamente os
meninos não têm nome. Nunca falam e vivem simbioticamente com as cabras.
Louro - Papagaio que pode ser considerado um membro da
família. É comido para manter a família viajando.
Baleia - Uma das principais personagens. A parte final de
seu capítulo é um longo trecho de prosopopeia (o sonho da cadela com as preás -
o mundo cheio de preás - antes da morte). É o melhor sonho com um mundo melhor,
que o narrador, em lugar de atribuir a seres humanos, empresta a uma cachorra.
Espaço: A caatinga no Nordeste. Região das secas.
Estrutura: Vida secas, tecnicamente, deve ser classificado
como novela. É construído por meio de capítulos que independem entre si, isto
é, um não decorre do outro, como ações encadeadas. Une-os, entretanto, o mesmo
cenário inclemente, as mesmas personagens que quase desaparecem no cenário, a
mesma luta permanente contra a natureza madrasta.
Narrador: O narrador em terceira pessoa, não interferente,
mostra-nos, com detalhes, a realidade de uma família de retirantes. O
afastamento do narrador, entretanto, se por um lado isenta-o de qualquer tipo
de piedade, ao pôr-nos perante os olhos tamanha desgraça, provoca em seus
leitores o sentimento piedoso que merecem pessoas com tão terrível destino. Por
outro lado, como se trata de personagens zoomorfizados, o recurso ao discurso
indireto livre ajuda-nos a entender sua psicologia simples, quase mineral.
Estilo: A economia verbal, a exatidão vocabular,
"navalha afiada", no dizer de seu irmão João Cabral de Melo Neto, são
talvez sua principal característica. Além disso, é talvez o que melhor convinha
à descrição de cenário tão seco e inóspito, à descrição de personagens tão
secas e mudas. O realismo, de Graciliano Ramos, não deve ser entendido como um
neo-naturalismo. Sua literatura é de tensão dialética, pois não aceita um
destino inexorável, como as três condicionantes do determinismo. Em Graciliano,
a literatura se faz denúncia sem deixar de ser literatura. É a denúncia latente,
existente na própria explicitação da vida de alguns seres humanos, sem a
necessidade da interferência do narrador. O leitor que conclua, se quiser
concluir.
Tema: É evidente que se trata da luta do homem contra uma
natureza madrasta. Seu heroísmo ao resistir lutando sob as mais adversas
condições. Sua fragilização ao viver em falta das mínimas condições que a
civilização pode oferecer. Um sub-tema que convém ressaltar é o respeito pela
autoridade (o governo).
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