segunda-feira, 7 de agosto de 2017

CRÔNICA

Esta coluna reproduz crônicas de Menalton Braff publicados anteriormente em seu site ou em revistas diversas.

Uma brisa gentil

Não me lembro do tempo que faz, mas pouco tenho certeza de que não é. Estávamos a mangueira e eu dando água às plantas do jardim (naquele tempo era eu quem tomava conta do jardim) quando uma brisa um tanto gentil passou por nós. Passou também pelos ciprestes, e os quatro sacudiram-se saudando a brisa. Então observei os ciprestes e aborrecido pensei que estavam mais ou menos da mesma altura da semana anterior. O mais alto, de dois metros, foi o que mais se inclinou na saudação. Estava a ponto de ficar irritado com tanta morosidade quando tropecei num balde cheio de água e tomei um banho involuntário.

 Minha pressa lembrou-me de uma história contada pelo Adamastor, meu escudeiro importado do Sul da África e que já teve boas relações com o Luís. Qual Luís? Ora, ora, aquele Vaz de Camões, que registrou a historia do Adamastor em “Os Lusíadas”. Voltando ao Adamastor, ele me contou que um amigo seu, texano daqueles de chapéu, foi visitar a Inglaterra. Não muito longe de Londres conheceu um castelo e ficou deslumbrado. O palácio, impondo-se aos prédios menores, o parque, com seus gramados e jardins imensos, tudo era perfeito.

De volta ao Texas, depois de ter conversado longamente com o dono do castelo, durante um chã ao ar livre, contratou um arquiteto e um agrônomo e os mandou para a Europa. Copiassem tudo, até os mínimos detalhes.

Suas ordens foram cumpridas, e o texano reproduziu nos EUA o castelo que conhecera no velho mundo. Até a inclinação da colina, suas ondulações, tudo foi copiado.
Passado um ano, o texano ligou para o dono do castelo, queixando-se de que não ficara tudo igual. O europeu perguntou se ele seguira os projetos do arquiteto e ele respondeu que sim, os prédios estavam praticamente iguais. Até mais bonitos, orgulhou-se, porque de pintura nova. Mas a grama, lamentou-se, a grama é que não tem jeito. Seu anfitrião do ano anterior perguntou se mandara fazer tudo conforme fora recomendado. Sim, tudo. Plantou a grama, como eu disse?, perguntou o britânico. Sim, plantei, com o adubo importado de sua cidade.

Pois bem, respondeu-lhe o amigo britânico, agora irrigue todos os dias durante duzentos anos, e seu gramado vai ficar igualzinho ao meu.
Em geral somos imediatistas como esse texano, não é mesmo?

Os chineses (e falemos de chineses enquanto não forem transformados nos vilões da vez) têm um ditado sobre a pressa: não se faz a árvore crescer, puxando-lhe o caule.

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