quarta-feira, 20 de setembro de 2017

CANTIGAS DE AMIGOS


POEMA SOBRE TELA
(Cássio Vasconcelos)

"Vontade que vem
Tantas vezes que vem
De um raiar a outro do dia
De prostituir minha fantasia
Signos deveras complexos
Recolho em meus léxicos
Minha paleta, um tesouro
Douto ouro
repleta de tintas
Palavras assaz distintas
Cada cor a minha preferida
Todo vocábulo na mira
Pululam os tons
Ululam os dons
Pego então meus pincéis
Lápis amigos fiéis
Ante a tela vazia

Um papel, uma tira
Aos pés da musa me atiro
Por ideias, suplico
Então o que era branco
Tinha já em cada canto
Versos mil
Rimas mil
Uma gema
Uma lenda
A encantar alguém
Talvez ninguém
Ou quem sabe você
Que não me vê
Que clama por poesia
Quiçá por uma heresia
Um belo dito
Um desenho escrito
Um dito bendito
Um quadro bem tinto
Pintado com palavras
As mais lindas palavras
Com as nuanças mais vívidas
As emoções mais límpidas
Paisagem em letras
Em cores também neutras
Que brotam afoitas
De fontes não outras
Senão do caro léxico
Do nexo perplexo
Razão sob coação
Do coração em convulsão
E da musa que agora se vê
Andando nua pelo meu ateliê
Eis aí, então, não óleo sobre tela
Muito menos uma aquarela
A minha obra mais singela
Tão somente um poema sobre tela
A ser exposto sem alarde

Num versejado vernissage.

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