Reeducandos
do CPP de Jardinópolis participam de debate com Menalton Braff
Escritor e vencedor de
Prêmio Jabuti de Literatura conversou sobre obra, processo criativo e educação
Oito reeducandos do Centro de Progressão Penitenciária de
Jardinópolis participaram de uma roda de entrevista com o premiado escritor
Menalton Braff no último dia 1º. O encontro foi desenvolvido em homenagem ao
Dia Nacional do Livro e para debater a obra do autor, "Que enchente me
carrega", título do mês no Clube de Leitura da unidade.
O projeto de Clubes de Leitura é uma ação da Fundação
"Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel" - Funap, instituição vinculada à
Secretaria da Administração Penitenciária. É uma atividade inclusa na grade do
Programa de Educação para o Trabalho e Cidadania - "De Olho no
Futuro", que aplica práticas para o desenvolvimento de competências e
habilidades dos
reeducandos. No CPP de Jardinópolis o Clube de Leitura acontece
em parceria com o Instituto Palavra Mágica e com a direção da unidade.
Pensando no Dia Nacional do Livro, que é comemorado todo dia
29 de outubro, esta parceria projetou o evento com a ideia de trazer Menalton
Braff para uma conversa com os reeducandos, complementando o debate que é feito
dentro dos Clubes de Leitura todos os meses. A articulação para a realização do
evento foi feita pela Gerência Regional da Funap em Ribeirão Preto diretamente
com a direção da unidade e com o autor.
Intitulado "Programa Roda Viva com Menalton
Braff", em alusão ao programa de entrevistas da TV Cultura, a iniciativa
lotou o espaço ecumênico da unidade. Além dos oito convidados para o debate, um
servidor do CPP completou a bancada. A conversa, no entanto, não ficou
circunscrita ao livro. Caminhou pela história do autor, suas referências,
técnicas literárias, importância da literatura para a sociedade e sobre a
situação da educação nacional.
Roda Viva
Durante a roda de entrevista, Menalton contou que aprendeu a
ler muito cedo - com cinco anos de idade. Seu pai tinha o hábito de alfabetizar
os filhos em casa, através da leitura, em uma pedagogia, segundo ele muito
diferente da aplicada nas escolas regulares. Já sobre a escrita, o autor foge
do clichê e explica que um bom texto não é fruto de talento. Segundo ele, não
se usa mais o termo inspiração, mas sim transpiração "Escrevo sobre o que
me espanta e o que me encanta".
Sobre a construção de seus personagens, Menalton explicou
que há uma transversalidade entre a realidade e a ficção "A vida nem
sempre parece real, mas a literatura tem que parecer". Também falou sobre
como as tendências da sociedade influenciam no processo criativo e como a atual
liquidez e fragmentação de nossas relações colocam os autores em uma posição
onde não se pode mais escrever algo simplesmente linear. Ao contar sobre sua
maior conquista na carreira, o prêmio Jabuti de Literatura em 2000, na
categoria "Livro do Ano - Ficção", com o livro de contos À Sombra do
Cipreste, Menalton lembra com felicidade "Eu não sabia, não fazia ideia
que ia vencer. Foi o melhor susto da minha vida".
Menalton também enveredou por temas como o período da
Ditadura Militar, onde após ser perseguido pelos militares por sua atuação
política, foi obrigado a se esconder. "Vivi oito anos da minha vida sem
usar meu nome, sem a minha cidadania. Nem gosto de lembrar, de falar disso, me dá
calafrios". Já a respeito da educação, o autor debateu sobre o papel das
escolas, afirmando não estar contente com os rumos tomados nos últimos anos.
"A escola hoje é reformatório, refeitório. Ela não pode formar produtor e
consumidor, ela existe para formar cidadão".
Para encerrar o evento, Menalton Braff e o diretor geral do
CPP de Jardinópolis, Evandro Bueno Campanhã, participaram da cerimônia de
reinauguração da Sala de Leitura "Cândido Portinari" da unidade.
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