quinta-feira, 16 de novembro de 2017

MOTIVOS

Nesta coluna, Menalton Braff nos conta como surgiu cada um de seus livros.
MOTIVOS

Uma ideia antiga. Já não me lembro por que nem com quem visitei uma casa antiga cercada de árvores num quintal imenso. Ao remover uma pedra de uns cinquenta centímetros de diâmetro, encontrei, entre uma enormidade de insetos, esses bichinhos que vivem praticamente enterrados, encontrei um pequeno canivete, já bem enferrujado. Há quanto tempo esse canivete esteve ali escondido? Quem terá escolhido aquela pedra para o esconderijo do objeto? Por que fez isso?
Bem, as perguntas não tinham respostas imediatas e isso, quando me acontece, me exige alguma imaginação para dar sentido ao fato.

Que era coisa de criança eu não tinha a menor dúvida. Um menino acabava de ser criado no escuro da minha mente. Mas um menino sozinho naquele imenso
quintal parecia coisa quase impossível. Ele precisava de uma irmã, um ou dois anos mais nova do que ele, sua companheira de aventuras debaixo daquelas árvores.

Mas um casal de crianças, numa casa velha, precisa de pais. E o professor nasceu dessa necessidade. Mas professor de quê? Então me surge matéria de que sempre gostei muito e ele tornou-se um professor de História. Mas para ser professor de História era necessária dar a ele e sua matéria função dentro da história.

Enfim, a mudança por causa de uma transferência, a escolha de uma casa com quintal muito grande para que os filhos pudessem brincar e/ou estudar em ambiente mais ou menos fechado. Então a aventura das crianças chega ao ponto de descobrir algo escondido debaixo da terra. Como o canivete. Mas era preciso ligar o feito das crianças com a matéria do pai, por isso foram livros proibidos (livros políticos) e cheguei a um fato que foi muito comum logo depois do golpe de 1964: as pessoas tiveram de enterrar livros que as comprometessem. E é claro, eram livros de esquerda.

Por fim, o pai dá uma verdadeira aula aos filhos sobre o golpe de 1964, com a consequente perseguição de políticos opositores ao regime.
A Editora FTD publicou o livro No fundo do quintal em 2010.

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