Que
enchente me carrega? é um romance que germinou durante longo
tempo e teve variados, mas conhecidos, motivos.
Uma tarde, o Sol se pondo, vínhamos da Foz do Iguaçu
e quando entramos em Laranjeiras do Sul por uma avenida relativamente nova me
impressionou um barranco vermelho, coisa de uns cinco metros de altura, e, lá
no alto, muito próxima do barranco, uma casinha de madeira. Aquela claridade
amarelo-avermelhada batendo no barranco e na casinha formaram uma paisagem que
me bateu no fundo da imaginação. Comecei pensando na possibilidade de um
desbarrancamento engolindo a pequena casa de madeira. Como decorrência disso,
comecei a pensar no que poderiam estar sentindo os moradores da casa num dia de
chuva pesada.
Pronto, o espaço já estava preparado. Agora, quem
vai morar lá?
Muito perto do nosso apartamento, quando morávamos
na Mooca, havia um sapateiro que me impressionava. Ele estava sempre sério,
cara de poucos amigos, uma mecha de cabelos, de seus cabelos lisos, caída sobre
a testa. Raramente se levantava e, ao fazê-lo, seu corpo arqueado lembrava
sua
posição de trabalho. Era ele, sem dúvida nenhuma, que habitaria a casinha no
alto do barranco. Então tive de lhe inventar uma esposa. E a esposa está
ausente. Ele mesmo, o Firmino, tem horas que supõe tê-la enterrado no fundo do
quintal. Tem horas que pensa na esposa fugindo na boleia de um caminhão.
A profissão já viera com o protagonista. Então as
histórias, ou seja, os temas do romance. Como esse tipo de profissional é raça em extinção, o
artesão como o alfaiate, o sapateiro, e mesmo o pequeno armazém, aquele armazém
onde se comprova com o caderno para pagar depois de recebido o salário, esse
mundo estava sendo deletado pelos grandes shoppings, pelo grande supermercados,
do ofício fui aso tema. Um artesão sendo engolido por uma fábrica. Seu trabalho
é cada vez menos solicitado. Por isso o artesão começa a perder. A avenida que
cortara quase inteiro seu quintal nos fundos da casa, vai ser o símbolo das
perdas, do mundo que está sendo transformado: o capitalismo engolfando os modo
medievais de produção. O mestre e o aprendiz – o avô de Firmino e ele próprio.
No final, uma corticeira à beira de um rio e cansada
de viver, reclama Que enchente me
carrega?
O romance foi publicado pela Palavra Mágica em
2.000.
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