terça-feira, 16 de janeiro de 2018

MOTIVOS

Que enchente me carrega?

Que enchente me carrega? é um romance que germinou durante longo tempo e teve variados, mas conhecidos, motivos.

Uma tarde, o Sol se pondo, vínhamos da Foz do Iguaçu e quando entramos em Laranjeiras do Sul por uma avenida relativamente nova me impressionou um barranco vermelho, coisa de uns cinco metros de altura, e, lá no alto, muito próxima do barranco, uma casinha de madeira. Aquela claridade amarelo-avermelhada batendo no barranco e na casinha formaram uma paisagem que me bateu no fundo da imaginação. Comecei pensando na possibilidade de um desbarrancamento engolindo a pequena casa de madeira. Como decorrência disso, comecei a pensar no que poderiam estar sentindo os moradores da casa num dia de chuva pesada.

Pronto, o espaço já estava preparado. Agora, quem vai morar lá?

Muito perto do nosso apartamento, quando morávamos na Mooca, havia um sapateiro que me impressionava. Ele estava sempre sério, cara de poucos amigos, uma mecha de cabelos, de seus cabelos lisos, caída sobre a testa. Raramente se levantava e, ao fazê-lo, seu corpo arqueado lembrava
sua posição de trabalho. Era ele, sem dúvida nenhuma, que habitaria a casinha no alto do barranco. Então tive de lhe inventar uma esposa. E a esposa está ausente. Ele mesmo, o Firmino, tem horas que supõe tê-la enterrado no fundo do quintal. Tem horas que pensa na esposa fugindo na boleia de um caminhão.

A profissão já viera com o protagonista. Então as histórias, ou seja, os temas do romance. Como esse tipo de profissional é raça em extinção, o artesão como o alfaiate, o sapateiro, e mesmo o pequeno armazém, aquele armazém onde se comprova com o caderno para pagar depois de recebido o salário, esse mundo estava sendo deletado pelos grandes shoppings, pelo grande supermercados, do ofício fui aso tema. Um artesão sendo engolido por uma fábrica. Seu trabalho é cada vez menos solicitado. Por isso o artesão começa a perder. A avenida que cortara quase inteiro seu quintal nos fundos da casa, vai ser o símbolo das perdas, do mundo que está sendo transformado: o capitalismo engolfando os modo medievais de produção. O mestre e o aprendiz – o avô de Firmino e ele próprio.

No final, uma corticeira à beira de um rio e cansada de viver, reclama Que enchente me carrega?

O romance foi publicado pela Palavra Mágica em 2.000.     

Nenhum comentário:

Postar um comentário

http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças