Os romances Volto Semana que Vem, de Maria Regina Jacob Pilla, e Na Teia do Sol, de Menalton Braff são analisados em artigo acadêmico pelo mestrando Arthur Aroha Kaminski da Silva, do Programa de Pós Graduação em Letras da Universidade Federal do Paraná - UFPR.
O artigo foi publicado na revista EM TESE, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e reproduzido a seguir.
O artigo foi publicado na revista EM TESE, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e reproduzido a seguir.
MEMORIES OF
THE RESISTANCE: FROM MARIA PILLA TO MENALTON BRAFF
Arthur Aroha Kaminski da Silva*
*aakds@hotmail.com
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Letras da
Universidade Federal do Paraná – UFPR.
RESUMO: este artigo pretende analisar e comparar processos
construtivos de representação e memória da resistência contra as ditaduras
militares latino-americanas. A abordagem ou recorte escolhido consiste em
análises individuais de dois romances de cunho parcialmente autobiográfico:
Volto semana que vem (2015), de Maria Regina Jacob Pilla, e Na teia do sol
(2004), de Menalton João Braff, e posterior comparação dos processos e tom de
escrita dos dois autores – bem como da imagem que cada um constrói ao representar os movimentos de resistência de que faziam parte, além das
descrições dos efeitos destes atos de resistência em si mesmos. Ademais, o
artigo pretende relacionar essas duas obras com as discussões teóricas sobre o
romance histórico e autobiográfico, e com os debates sobre a fronteira disciplinar entre Literatura e História, a partir de autores como Alfred Döblin, Cristiane da Silveira e Linda Hutcheon.
romance histórico e autobiográfico, e com os debates sobre a fronteira disciplinar entre Literatura e História, a partir de autores como Alfred Döblin, Cristiane da Silveira e Linda Hutcheon.
PALAVRAS-CHAVE: resistência; memória; ditadura militar;
romance histórico.
ABSTRACT:
this article intends to analyze and compare constructive processes of
representation and memory of the resistance against Latin American military
dictatorships. The chosen approach consists in individual analysis of two
partially autobiographical novels: Volto semana que vem (2015), by Maria Regina
Jacob Pilla, and Na teia do sol (2004),
by Menalton João Braff, and posterior comparison of the processes and tone of
writing of the two authors – as well of the image that each one builds to
represent the resistance movements of which they were part, in addition to the
descriptions of the effects of these acts of resistance in themselves.
Moreover, the article yet intend to connect these two literary works with the
theoretical discussions about the historical and autobiographical novels, and
with the debates about the disciplinary frontiers between Literature and
History, as understood by authors like Alfred Döblin, Cristiane da Silveira and
Linda Hutcheon.
KEYWORDS:
resistance; memory; military dictatorship; historical novel.
O presente artigo pretende analisar duas diferentes maneiras
de apresentação literária de memórias e sentimentos relacionados ao período
mais duro dos regimes militares sul-americanos. Esta análise se dará através da
comparação entre duas obras de teor parcialmente autobiográfico de dois escritores
gaúchos: Maria Pilla e seu livro Volto semana que vem (2015), e Menalton Braff
e seu Na teia do sol (2004), obras em que percebo diferentes objetivos e
sentimentos no que tange à impressão a ser passada em relação aos efeitos,
sofrimentos e conquistas decorrentes da participação na militância contra as
ditaduras latino-americanas: ela nos passando uma imagem mais otimista dos
resultados da militância, ele uma mais pessimista. Percebo também diferentes
usos ou maneiras de encarar a questão autobiográfica em obras literárias. Este
artigo não tem o objetivo de fazer uma comparação qualitativa dessas obras
literárias. Desejo apenas discutir as diferentes escolhas dos autores em
relação ao foco e ao tom dados a determinadas questões, e procurar compreender
os motivos que levaram cada um a fazer essas escolhas.
Maria Pilla e Menalton Braff possuem muitas coisas em comum.
Além da compartilhada origem gaúcha, ambos viveram e militaram durante os anos
de chumbo da ditadura militar brasileira e demais ditaduras do Cone Sul. Ela,
na época estudante de jornalismo na UFRGS, e ele, em período muito próximo,
estudante de economia na mesma universidade, se envolveram na militância de
tendência esquerdista contra o regime militar brasileiro. O resultado em curto
prazo para ambos: prisão, perseguição, necessidade de sumir socialmente e
exílio. Embora exílios bastante distintos, como veremos adiante. Para
iniciarmos esta análise comparativa, proponho então que comecemos mergulhando
separadamente em cada um dos romances, para nos familiarizarmos com os temas que aqui serão discutidos. Feito isso, às
impressões e discussões construídas a partir dos romances poderemos por fim
somar alguns paralelos com textos relacionados à teoria literária e ao romance
histórico e autobiográfico.
PARTE I.
VOLTO SEMANA QUE VEM DE MARIA PILLA COMO UMA ENTREVISTA
GUIADA PELA PRÓPRIA AUTORA
O livro Volto semana que vem de Maria Pilla é dividido em curtos
episódios que reconstroem a história de vida e de militância da autora. Cada
episódio é composto por uma curta narrativa de algum evento ou acontecimento da
vida da escritora. Narrativas estas elaboradas tanto a partir de lembranças diretas
– caso das memórias de infância e juventude em Porto Alegre, da adolescência
nos Estados Unidos da América, do exílio em Paris e da prisão na Argentina –
como a partir de lembranças indiretas ou memórias inventadas, quase de contextualização
da história, caso das citações dos textos de Rodolfo Walsh, 1 jornalista e militante
argentino que acabou assassinado pelo regime militar. Ou dos trechos em que a
autora descreve acontecimentos que não presenciou, mas sobre os quais leu ou
ouviu (seja na época ou depois): como o ataque à Faculdade de Arquitetura de La
Plata, a Noite do lápis ou os golpistas que enganavam famílias em busca de
desaparecidos. 2 Além da morte de um militante do ERP (Ejército Revolucionario
del Pueblo)3 dentro de um ônibus em Buenos Aires, 4 do trecho em que descreve
um dia da vida e posterior morte de um aparentemente fictício militante
denominado galego, 5 da descrição do assassinato de dois representantes
políticos argentinos por paramilitares da Alianza Anticomunista Argentina 6 ou,
ainda, do ficcional diálogo com a mãe na torre Eiffel em Paris. 7
Apesar de não seguirem uma ordem cronológica – uma escolha
de cunho literário, como veremos adiante –, os capítulos ou episódios por ela
narrados nos são apresentados quase como microrrelatos ou documentos
organizados e datados. Bem datados: todos os títulos são acompanhados do ano a
que o relato se refere em “letras” garrafais, e alguns dos trechos de relatos
indiretos contam inclusive com dia e mês.
No fim, a aparência do livro para mim parece a de um diário que
foi cuidadosamente bagunçado. Outra das primeiras impressões que Volto semana
que vem pode passar além dessa aparência de diário e do cunho autobiográfico, é
que ele também exala jornalismo. Não só a autora é jornalista, e nos lembra
disso o tempo todo ao longo da narrativa, como a maneira pela qual escreve é
carregada de um ar de reportagem e, no caso de alguns capítulos, de citações
diretas de textos de outro jornalista – o já citado argentino Rodolfo Walsh.
Além disso, algumas falas da autora em entrevista sobre o livro em questão me
fizeram passar a encarar esse romance memorial como uma entrevista ou reportagem
guiada pela própria autora. E é esta visão ou impressão que agora procurarei
desenvolver.
A entrevista a que me refiro foi cedida por Maria Regina Pilla
para o jornal Sul21, de Porto Alegre, em Novembro de 2015.8 Nela a autora fala
da motivação pela qual escreveu o livro – “uma necessidade de colocar para fora
as coisas pelas quais passou” –9 e das escolhas de construção narrativa e de
personagens. Uma dessas escolhas, nas palavras de Maria Pilla, foi por “um tom
de não truculência, pois não interessa, já contaram, todo mundo já sabe como é
que é a prisão, a tortura”.10
De forma que ela se propôs a fazer uma abordagem de
outros aspectos desse tipo de história.
Essa característica do livro é perceptível pela não extensão
ou detalhismo de descrições da tortura sofrida pela autora,11 que foca a maior
parte dos relatos diretos nas situações cotidianas da prisão, a convivência com
as colegas detentas, suas técnicas e táticas de comunicação e resistência
interna na prisão, além de lembranças de contexto familiar na infância e de
militância e amizades na universidade e exílio. Essa escolha de focalização se
dá, aparentemente, pelo objetivo e construir uma personagem não vitimista. Diz
ela: “Não sou vítima, eu escolhi a militância. Não sabia tudo que aconteceria,
mas sabia que não ia ser fácil, que tinha morte, tortura. É idiota e desonesto
quem fala que não sabia. Foi uma escolha minha que assumo”.12 O que é ainda
reforçado por outro trecho da entrevista, no qual Maria Pilla conta sobre quando,
recém-chegada à França após ser libertada da prisão na Argentina, foi procurada
por um jornalista francês para uma entrevista sobre a ditadura argentina. Ela
relata que ele se frustrou e foi embora bravo após uma breve conversa, em função
dela não falar detalhadamente da tortura e violência sofrida: “(ele) queria que
eu contasse coisas horrorosas, mas eu estava imbuída daquele espírito de
resistência coletiva na prisão. Apesar das ameaças, a gente nunca deu para trás”.13
Outra escolha, a da não cronologia da narrativa, é abordada
pela autora da seguinte maneira: “O livro tem a forma de pequenos textos, com
datas que vão e vêm. Acho que é coisa da memória, em que não se tem a lembrança
cronológica. O livro corresponde a como a memória acontece na cabeça da gente
anos depois dos episódios passados”.14 Nesse ponto, eu entendo a intenção da autora em buscar criar
uma impressão de fluxo de memórias, mas não sei se concordo com a efetividade literária do resultado. Não creio
que a memória funcione com referências
ao ano ou momento exato em que a lembrança se deu. Como disse antes, a
impressão que (eu, não sei vocês, demais leitores) tive do texto foi mais a de
um diário cuidadosamente desarranjado do que o de um fluxo de lembranças e
memórias tido muitos anos depois. A falta de cronologia está lá, mas não é
assim, datada, que a “memória acontece na cabeça da gente anos depois”. A
memória se dá em fluxos muito mais caóticos, confusos, desorganizados e incontroláveis.
Ela não respeita escolhas por caracterizações específicas de personagens, ou de
fuga de memórias violentas, a meu ver.
Mas, mantendo o foco na primeira escolha, creio que é perceptível
ou possível concluir através destas falas e da leitura de Volto semana que vem
que Maria Pilla, tanto enquanto personagem/protagonista do livro quanto
enquanto pessoa/autora, tem muito orgulho de sua militância e luta. E esse orgulho
perpassa, entre outras coisas, essa resistência em não sucumbir ao medo
infligido pela ameaça (ou prática) de tortura e em manter ativas as memórias de
militância coletiva, de coragem e de relações de apoio entre os militantes.
Essas são as memórias que Maria Pilla almeja manter vivas e presentes, não as
da dor e sofrimento da tortura.
A mídia em geral tem, entretanto, certa tendência a focalizar
na violência, na crueldade, no que choca.15 A postura de Maria Pilla me faz
lembrar a do personagem interpretado por Gael García Bernal no filme chileno No
(2012), dirigido por Pablo Larraín, filme no qual o ator mexicano interpreta René Saavedra, um publicitário responsável
pela campanha do Não no plebiscito pela permanência de Pinochet no poder no
Chile e que defende e propõe a construção da campanha através de uma imagem
positiva – simbolizada pela frase la alegria ya viene –, com o objetivo de
desvincular a resistência à ditadura apenas de memórias de sofrimento e dor e
focar no resultado positivo que essa oposição viria a gerar. Creio que é algo
nesse sentido que Maria Pilla também busca: focar no que de bom a militância
contra a ditadura trouxe, e não no terror que ela sofreu. Focar na resistência,
não na tortura.
Não que o livro de Maria Pilla não tenha momentos tensos, relatos
de ações violentas e terríveis dos regimes militares. Mas esses trechos, no geral, são abordados quando das memórias
indiretas, da contextualização: a autora lembrando algo que leu ou que contaram
a ela, ou ainda através das palavras de outro, no caso dos trechos em que cita
e fala sobre Rodolfo Walsh.16 Já quando se trata do que ocorreu com ela mesma,
a autora tende a, no geral, descrever situações como a do capítulo “O poder de
uma rabanada”17 – em que as detentas conseguem improvisar uma ceia –, a da
resistência coletiva ao uso de uniformes,18 ou ainda a do sistema de
comunicação das presidiárias pela tubulação sanitária da prisão, “o telefone de
Devot”. 19 Ou seja, foca em sentimentos de pertencimento, coletivismo e empatia
aos grupos em que se insere, sejam eles o povo latino-americano ou os grupos de
resistência de que fez parte.
Daí a minha percepção do livro como uma “entrevista guiada”
desenvolvida através dos elementos que abordamos nos últimos parágrafos: se os
entrevistadores focam sempre nos mesmos pontos, repetitivamente, e não dão
liberdade a Maria Pilla de contar as histórias que para ela são realmente importantes,
uma maneira de conta-las é escrever suas memórias. Pois isso permite que o
autor ou a autora selecione apenas as lembranças que quer na construção da
memória e da personagem. Somem-se a isso os trechos de citação jornalística
direta e de contextualização do Volto semana que vem e se tem como resultado
algo que lembra uma reportagem da autora sobre ela mesma.
Para falar de livro-reportagem, aliás, nada melhor do que consultar
outros jornalistas. Em sua dissertação de mestrado sobre o tema, a pesquisadora
Sabrina Schneider aponta que o livro-reportagem surge como fruto da inquietude
do jornalista que tem algo a dizer, mas não encontra espaço para fazê-lo no seu
âmbito regular de trabalho, pois permite a abordagem de assuntos desprezados pelos
periódicos por razões editoriais, como o possível desinteresse do público. E
permite, ainda, que o assunto desejado seja abordado conforme um ângulo
preestabelecido.20
É assim que eu encaro o foco de Maria Pilla nas lembranças
felizes e de resistência na prisão: é o ângulo escolhido por ela para abordar o
assunto da ditadura. Ângulo este que atua como uma ferramenta na construção de
um indivíduo e de uma personagem que não quer ser lembrado como vítima, mas
como militante. Que quer ser lembrado pelo que fez, não pelo que fizeram a ela.
É uma escolha de cunho político-ideológico.
PARTE II. NA TEIA DO SOL DE MENALTON BRAFF: DE PROUST À
DESILUSÃO DA MILITÂNCIA
O romance de Menalton Braff, assim como o romance de Maria
Pilla, se constrói a partir de memórias do protagonista. É no protagonista,
entretanto, que também surge a primeira diferença entre os dois: enquanto quem
protagoniza o Volto semana que vem é a própria autora (ainda que transmutada em
personagem ficcionalizado), o personagem principal de Na teia do sol é um
indivíduo chamado Tito. E embora esse personagem e Menalton Braff tenham
características em comum suficientes para que se possa afirmar que o livro é
parcialmente autobiográfico, o autor faz questão de nos lembrar por diversas
vezes que Tito é apenas um personagem e não ele mesmo.
Na Teia do Sol se desenrola inteiro a partir das memórias e da
perspectiva do protagonista Tito (André), um ex-universitário e militante
político procurado pelos militares, situação que o obriga a se manter escondido
com a ajuda de companheiros de um grupo de resistência de esquerda,
inicialmente num apartamento e depois numa chácara. O narrador acumula o cargo
de personagem principal, pois narra suas próprias experiências sempre a partir
de uma focalização interna, de fluxos de consciência em que revisita memórias e
divaga sobre sua condição. A ação se dá, assim, através de monólogos
interiores. Por “ação” entenda-se o dia a dia de Tito na chácara em que se
mantém escondido: cuidar de uma horta e de seu cachorro Barão, explorar as
redondezas em busca de possíveis rotas de fuga, aguardar as visitas semanais do
“velho verdureiro” (seu único contato com o mundo), se apavorar e se esconder
frente à aproximação de qualquer ser humano que não o velho, fumar, e pensar
sobre as pessoas que deixou para trás e perdeu. No romance de Braff, o
protagonista vive as lembranças intensamente no presente. É por meio do recurso
à memória que as relações do protagonista com os outros personagens vão se
esclarecendo.
Nesses monólogos interiores se misturam, num fluxo não linear,
pensamentos sobre as ações que efetua no presente e memórias de diversos tempos
diferentes (infância, juventude, vida adulta). É através dessa mescla de
memórias que aparecem todas juntas nos mesmo parágrafos – até porque cada capítulo
tem um único parágrafo – que o leitor vai recebendo, em doses vagarosas e pouco
claras, informações sobre os fatos que levaram Tito àquela condição em que se
encontra, bem como outras questões relativas à sua vida e visão de mundo. A impressão
de fluxo de pensamento contínuo é reforçada pela escrita, com frases e linhas
de raciocínio sendo interrompidas pela metade e substituídas por outras sem que
o leitor tenha sequer tempo de perceber.
A localização temporal e espacial dos acontecimentos,
enquanto plano de fundo ou de aparência de realidade histórica, nos é dada
através dessas lembranças pelas quais poderíamos localizar o enredo em um lugar
indeterminado do Brasil, provavelmente no final da década de 1960, início dos
anos de chumbo da ditadura militar, período do qual Tito seria testemunha
ocular, tendo suas memórias da perseguição política registradas nessas memórias
escritas.
Claro que o relato de Tito não pode ser utilizado como fonte
para uma pesquisa histórica, sendo um personagem declaradamente fictício,
diferente da protagonista de Volto Semana que vem. Mas é interessante pensar no
quanto de Menalton Braff há em Tito: Braff era universitário e militante
político nos anos 1960. Ele, assim como Tito, foi perseguido pelo regime
militar, e também se viu obrigado a abandonar a universidade, a usar um nome
falso e a desaparecer como cidadão por algum tempo. Ou seja, Tito, em grande medida,
é o próprio autor contando parte de sua história.
Independentemente de Braff ter ficado isolado numa chácara
efetivamente, de ter tido um cachorro chamado Barão, uma namorada chamada Têre,
ou de esses elementos todos serem parte apenas da vida do personagem, o fato é
que nesse romance o autor, o narrador e o protagonista por vezes se sobrepõem
tão firmemente que se torna quase impossível separá-los.
Digo “quase” porque, como apontei anteriormente, há algumas
piscadelas do autor ao longo da narrativa, no sentido de brincar com essa
relação quase biográfica e nos lembrar que Tito ainda é apenas um personagem.
Essas sugestões se dão, por exemplo, nas recorrentes afirmações de Tito no sentido
de ser fã de Marcel Proust.21 Da metade do texto para o fim, o personagem
inclusive lê os sete volumes do Em busca do tempo perdido (1913) que o velho
verdureiro traz para ele passar o tempo. O que por si só já insinua o tipo de
relação que existe entre o protagonista, o narrador e o autor de Na Teia do
Sol. Outro desses lembretes ao leitor se dá através de um joguete que o autor
insere no romance e que dialoga diretamente com outro texto dele mesmo. Esse,
entretanto, para ser reconhecido, exige que o leitor já tenha tido contato com outras
obras do autor, mesmo que indiretamente (como foi meu caso): em artigo em que
analisa o conto “Moça debaixo da chuva: os ínvios caminhos”, presente no livro
À sombra do cipreste (1999), Mariângela Alonso descreve um trecho do conto de
Braff que é muito similar, se não igual, a trecho presente no romance Na teia
do Sol.
Conta-nos Mariângela Alonso que em “Moça debaixo da chuva:
os ínvios caminhos”, um homem se protege da chuva em um bar enquanto observa
uma caixa de papelão sendo levada pela enxurrada para um bueiro. Até que de
repente vê, do outro lado da rua, uma moça tentando se esconder do aguaceiro
embaixo de uma estreita marquise, já começando a se molhar.22 A descrição é a
mesma que Tito faz em Na Teia do sol sobre o dia em que viu sua futura namorada
Têre pela primeira vez (ainda que seja uma descrição mesclada a memórias de
outros períodos de sua vida).23 Entretanto, o próprio Tito revela ao leitor
que, após efetivamente conhecer Têre em outro contexto e começar o
relacionamento, a ouviu afirmar que nunca passou naquela rua, nem se lembrava
de tal situação, o que o deixa confuso. Essa confusão em suas memórias pode
soar quase como uma fusão completa entre o protagonista-narrador e o autor,
pois o personagem assimila uma “memória” presente em outro livro do autor. Mas
gosto também de pensar que é um aceno do próprio autor, que, enquanto faz
referência à outra obra dele mesmo, relembra o leitor, uma vez mais, de que
não, aquele texto não é uma biografia, mas um romance; de que Tito não é o
autor, pois ele inventou Tito, o que para mim soa como uma indicação de Braff
de que além de simples inserções autobiográficas, o que ele faz em Na teia do
Sol é experimentar e jogar com o conceito de memória: seja dele, seja de seus
personagens, seja literária.24 Outra autora que analisa contos de Menalton
Braff é Natali Costa e Silva, que em seu artigo “A relação entre texto e contexto
em ‘A Coleira no Pescoço’, de Menalton Braff”, diz que:
As reflexões apontadas pelo narrador [...] discorrem acerca
da inutilidade das ações diante da impossibilidade de se mudar o mundo. Tais
reflexões conduzem ao questionamento da finalidade das atitudes e, em última
instância, da finalidade da vida. Perante essa situação as personagens
acomodam-se em uma postura apática diante de seu desencontro com o mundo, a
resignação instaura-se e o sujeito torna-se frágil, desarticulado, solitário.25
Como sabemos pelo nome do artigo da Natali,26 esta análise
se refere ao conto A coleira no pescoço (presente em livro homônimo, de 2006),
mas é bastante aparente que as caracteísticas psicológicas do narrador são
similares às do texto que aqui analisamos: as reflexões de Tito sobre para onde
suas atitudes o levaram, o que e quem ele perdeu em função de suas escolhas,
qual fora a finalidade dessas atitudes; a solidão e a postura apática que
atingem Tito ao longo de seu exílio e/ ou confinamento forçado; e a conclusão
da impossibilidade de mudar o mundo.
Natali cita, inclusive, uma fala do próprio Menalton Braff em
entrevista. Nela, o autor fala sobre esse tom desiludido comum também a outro
já citado livro de contos, o À sombra do cipreste, cuja unidade temática desde
o início partiu da ideia do homem colocado ante o seu limite, mas falhando.
Questão que Braff explica como resultado biográfico:
Isso até daria para explicar como resultado, digamos, que
biográfico. Eu vinha de uma situação em que tinha vivido o limite dos meus
sonhos. O limite dos meus sonhos foi, entre outras coisas, o fim do socialismo
real, o fim da União Soviética, o fim do muro de Berlim. Tudo isso aí – um
mundo bipolarizado que nos deixava sempre uma válvula de escape – ruiu porque de
repente o mundo passou a ser de um pólo só, ou você sonha com este mundo deste
pólo ou seu sonho acabou. Essa situação vivida em 1988 é que vai ter como fruto
mais tarde os contos desse livro. Tudo vai falhando, essa sensação de que o
homem é um ser inviável.27
Apesar de Braff estar se referindo a outro livro, anterior ao
Na teia do sol, creio ser perceptível que essa temática persista ainda nele,
talvez até com um teor biográfico ainda mais marcado. O que dá o tom ao romance
aqui analisado são as memórias solitárias, carregadas de medo, insegurança, e desilusão
de Tito. As memórias e reflexões de Tito giram todas em torno de lembranças de
violência e perseguição:
são mais que recorrentes as referências à grávida agredida por
militares numa manifestação, a invasão da igreja em que os manifestantes
procuraram se abrigar, a impossibilidade de se confiar nas pessoas, a prisão (à
que o próprio título é uma referência), e a perda de pessoas queridas e até da própria
identidade em função da perseguição. Na Teia do sol é marcado por uma espera,
uma promessa de uma virada político-ideológica que, no fundo, o protagonista
sabe que não virá. Ao menos não da forma plena, globalizada e romantizada que
seu jovem sonho militante almejava.
PARTE III. DOIS ROMANCES, DOIS SENTIMENTOS E DUAS IMPRESSÕES
Feitas essas breves análises dos dois romances selecionados para
debate neste artigo, proponho agora que aprofundemos algumas das questões que
surgiram ao longo deste texto. Para começar, creio ser interessante um rápido
mergulho na região fronteiriça entre a História e a Literatura, especialmente no
que tange ao uso desta como fonte para pesquisa naquela. O que nos levará
também a algumas discussões acerca do romance histórico em si, já que ambos os
livros aqui analisados podem ser alocados nessa categoria.
Linda Hutcheon, no capítulo “Metaficção Historiográfica: o
passatempo do tempo passado” de seu livro Poética do Pós- Modernismo (publicado
originalmente em 1988), diz que “a própria história e a própria ficção são
termos históricos e suas definições e inter-relações são determinadas
historicamente e variam ao longo do tempo”.28 Sobre o mesmo assunto, o autor alemão Alfred
Döblin, em seu texto “O Romance histórico e nós” (originalmente publicado em
1938), aponta que, ainda que o romancista não almeje concorrer com a ciência da
escrita histórica, que seu objetivo seja outro em relação ao do historiador, há
pontos em comum, pois ambos querem evocar a imagem, plena e concreta, de uma
realidade acontecida, ainda que de um pequeno pedaço ou recorte. Que, impelidos
pelo motivo que for a escrever sobre determinado período, imaginam entender
aquele tempo, vendo-se capazes de repor ele no mundo, quase trazer ele de
volta.29
É isso que Menalton Braff e Maria Pilla fazem em seus respectivos
romances: evocam a imagem e as sensações de uma realidade acontecida. Uma
realidade da qual fizeram parte e a qual vivenciaram. Mas fazem disso um
romance, não um relato histórico cru. Até porque, como diz Döblin, “O romance
não tem a capacidade de concorrer com o jornal e a fotografia. [...] trabalha
aí, da parte do escritor, uma força muito viva: a fantasia individual, a
tendência a um inventar e a combinar”.30 E é por isso que o alemão também
aponta que há diferenças entre o processo de escrita do historiador e do
romancista: em princípio o mandamento do historiador é manter todos os fatos
intactos, enquanto o romancista trabalha com o material disponível (no caso de
nossos autores gaúchos, as próprias memórias) como quer, sem obrigatoriedade de
objetividade, clareza ou neutralidade no relato.
Embora isso seja praticamente impossível, como ele mesmo também
aponta, e no fundo sabemos que muitas vezes os historiadores são também
romancistas históricos.31 Seja como for, no romance histórico “[...] reconhecemos
a antiga intrínseca e não extinta função do romance, que é a de transmitir e
preservar os grandes acontecimentos na consciência das massas, do coletivo”.32
E essa intenção podemos reconhecer nos romances de Maria Pilla e Menalton
Braff: a de manter viva a memória de um período sombrio da história brasileira,
e da militância que resistiu a ele.
Diz também Döblin que no romance, e só nele, se encontra
material e território íntimo: vida pessoal, social, coisa do indivíduo,
sentimentos, amizade, elementos não presentes em profundidade em jornais,
revistas ou livros de História, já que estes tendem a tratar acontecimentos e
eventos políticos e ideológicos a partir de um panorama generalizante.
Ele afirma que “além da função do relato, cabe ao romance simples
uma nova e específica função na arte de narrar: a de reportagem sobre uma realidade
peculiar, pessoal e individual”.33 É no romance que se poderão expor os efeitos
desses grandes eventos num plano individual. Döblin expõe crer que é preciso
que os olhos percebam não só os fatos históricos, mas também a “História em
profundidade, que rodeia o indivíduo e suas condições sociais”.34 E conclui o
raciocínio afirmando que daí se desdobra um novo ramo do romance: a reportagem,
tema também abordado por Linda Hutcheon, que diz: Provavelmente não é por acaso
que essa forma de Novo Jornalismo, como foi chamada, tenha constituído um fenômeno
americano. A guerra do Vietnã criou uma verdadeira desconfiança em relação aos
“fatos” oficiais conforme eram apresentados pelos militares e pelos meios de
comunicação, e, além disso, a ideologia da década de 60 permitira uma revolta contra
as formas homogeneizadas de experiência. O resultado foi um tipo de jornalismo
declaradamente pessoal e provisório, autobiográfico em seu impulso e realizador
em seu impacto.35
Vê-se então, mais uma vez, que a escolha pelo texto autobiográfico
ou pelo romance-reportagem é por si só um ato político. Pois como já vimos com
Schneider, esse tipo de texto comumente surge como fruto da inquietude de um indivíduo
que tem algo a dizer mas é desprezado por periódicos por razões editoriais.36 É
uma forma de divulgação, de denúncia ou de relato que transcende os meios tradicionais
e ditos “oficiais” de imprensa. É uma ferramenta de difusão: um meio de relatar
o real através do ficcional, quando quem declara divulgar a realidade impõe à
esta divulgação filtros autoritários. Ou quando se pretende incutir o relato
com as sensações que um texto estritamente jornalístico não permitiria ou não
seria capaz de reproduzir.
A estas reflexões gostaria de somar alguns apontamentos de
outra autora: Cristiane da Silveira, que na introdução de seu texto “Entre a
História e a Literatura: a identidade nacional em Lima Barreto” (2006), citando
Nicolau Sevcenko, diz que “o estudo da literatura traz consigo nova
possibilidade de análise do passado, por meio da fala dos não ajustados socialmente.
[...] Permitindo, finalmente, o conhecimento de uma realidade que não apenas a
sacralizada pela história dos vencedores”.37 Ao falar dessa possibilidade de
uso da literatura como fonte para o estudo histórico, Cristiane Silveira defende
que:
[O plano político de um período estudado por um historiador]não
está presente apenas nas relações travadas pelo Estado, mas nos diferentes
âmbitos da vivência social, pois o “político não constitui um setor separado: é
uma modalidade da prática social” que se concretiza no cotidiano e é
reelaborado de acordo com as expectativas e experiências pessoais. Sendo assim,
os registros históricos não ficam meramente circunscritos às práticas
oficiais.38
Os registros históricos estão circunscritos também a obras literárias,
bem como a outras formas de arte, das plásticas ao cinema e à música. E são
esses registros “não oficiais” que permitem, num país como o Brasil, em que a
abertura dos arquivos da ditadura militar nunca ocorreu plenamente, que tenhamos
acesso a informações sobre o que ocorreu no período, e sobre a luta e
militância dos tantos indivíduos que se opuseram ao totalitarismo. Num dos
países latino-americanos em que o processo de abertura dos arquivos se encontra
em processo mais atravancado, atrasado, protelado, uma das grandes formas de
acesso a informações e divulgação de ações e acontecimentos do período seguem
sendo canções de músicos como Chico Buarque, obras de arte como as de Carlos Zílio39
e livros como os de Menalton Braff e Maria Pilla, entre tantos outros
escritores. Por isso, utilizo e concordo com as palavras de Cristiane Silveira: Acreditamos
que por meio da literatura o historiador possa alcançar uma distensão maior entre
os limites de ambos e contribuir para a amplitude da construção histórica,
privilegiando os sentimentos dos sujeitos que procuraram refletir sobre o momento
vivido, a partir das possibilidades de vivências pessoais e de seus ontemporâneos.40
Dito isto, gostaria agora de contrapor a maneira pela qual os
dois romancistas analisados neste artigo escolheram manter viva a memória de
militância e resistência à ditadura militar brasileira. Como indiquei na
análise de Volto semana que vem, encaro as escolhas de Maria Pilla na
construção de seu romance e protagonista como uma proposta político-ideológica
de enaltecimento do ato de resistência. Seus enfoques e recortes tendem a não
vitimizar os militantes perseguidos, mas sim a valorizar suas escolhas, suas
posições políticas, sua coragem e união, a apontar para os efeitos positivos
conquistados em longo prazo pela resistência, propondo construir uma imagem
viva, pulsante e orgulhosa da memória da militância, procurando fazer com que
essa memória se desvincule da recorrente ligação exclusiva que se faz entre
militância e sofrimento, entre resistência e os horrores da tortura. Como diz
Linda Hutcheon, “a intertextualidade pós-moderna é uma manifestação formal de
um desejo de reduzir a distância entre o passado e o presente do leitor e
também de um desejo de reescrever o passado dentro de um novo contexto”.41
Já na análise de Na teia do sol, expus que Menalton Braff constrói
um protagonista carregado de um sentimento de solidão e desilusão. O que como
vimos se vincula, conforme o próprio autor, a uma desilusão pessoal em relação
ao fim da União Soviética, e à sensação de sucumbimento frente ao capitalismo
quando do momento em que iniciou o planejamento temático de algumas de suas
obras literárias, já em 1988.42 Este abatimento que acometera Tito, o
protagonista, e também seu criador, Braff, provavelmente fora induzido em
grande parte, além dessa desilusão político-ideológica, pelo isolamento
forçado. Pois, enquanto o exílio de Maria Pilla a levou inicialmente à França,
onde manteve contato direto com lideranças mundiais de esquerda e com grupos de
ativistas, tendo voltado por escolha própria à América do Sul para atuar na
resistência argentina, Tito sofreu um tipo de exílio diferente: teve de se
isolar em uma autoprisão rural, um ambiente que não só o impossibilitava de ter
contato com qualquer pessoa (com exceção de uma curta visita semanal), como o
impossibilitava de atuar na resistência. Daí tantos questionamentos sobre a
efetividade de sua luta. O exílio de Maria Pilla foi geográfico. O exílio de
Tito – e como sabemos também de Menalton Braff –, por outro lado, foi um exílio
de sua própria luta.
As consequências de se ter a própria identidade negada é
tema presente em ambos os livros.43 Mas os protagonistas se viram nessa
condição em situações diferentes: Maria Pilla pôde manter seu nome e identidade
durante seu exílio na França. Sua perda de identidade temporária se dá por uma
escolha consciente: a decisão de se vincular ao Ejército Revolucionario del
Pueblo do Partido Revolucionario de los Trabajadores (PRT/ERP) argentino e
voltar à militância de campo, o que exigia uma identidade falsa. Já Tito/Braff tem
não só sua identidade negada pela perseguição política, mas também a atuação de
campo que desejava para sua militância. Repito: o exílio de Tito, além de
exílio de si mesmo, foi também um exílio forçado da luta da qual fizera parte e
da qual almejava ainda fazer, foi um exílio do convívio humano.
Acredito que essas relações e situações podem ajudar a explicar
as diferenças entre as representações de memória de militância nos dois autores
aqui analisados. Não que eu creia que Menalton Braff não se orgulhe, assim como
Maria Pilla, de sua juventude militante. O que ocorre é que enquanto Braff tem
uma preocupação maior em relação ao teor teórico literário de seu livro
(incluindo discussões e jogos de cunho teórico à sua narrativa, o que torna seu
livro mais denso no que tange à discussão do próprio conceito e representação de
memória em textos literários), Maria Pilla foca em transcrever suas memórias
numa espécie de diário, num objetivo de manutenção de memórias mais diretas e
individuais: uma espécie de reportagem. O que considerei interessante foi
comparar a maneira de construção das memórias dessa militância e procurar
compreender os motivos e escolhas que levaram a essas representações, sem
procurar fazer comparativos valorativos em relação à maturidade literária ou história
de militância de cada um destes escritores, focando na representação,
construção, e manutenção da memória de resistência às ditaduras militares.
REFERÊNCIAS
ALONSO, Mariângela. Nódoas poéticas e impressionistas em um
conto de Menalton Braff. Revista Querubim, Rio de Janeiro, no 15, vol. 2, 2011, p. 45-49. Disponível em:
pdf>. Acesso em: 08 abr. 2017.
BRAFF, Menalton. Na teia do Sol. São Paulo: Ed. Planeta,
2004. COSTA E SILVA, Natali F. A relação entre texto e contexto em “A Coleira
no Pescoço”, de Menalton Braff. Revista Hispeci & Lema Online, Bebedouro,
no 3, nov/2012. Disponível em: .
Acesso em: 08 abr. 2017.
DÖBLIN, Alfred. O Romance histórico e nós. Trad. Marion Brepohl.
História: questões e debates, Curitiba, v. 44, n. 1, 2006, p. 13-36.
FREITAS, Artur. Arte e contestação: o Salão Paranaense nos anos
de chumbo. Curitiba: Medusa, 2013.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade.
Trad. Tomaz Tadeu da Silva. Rio de Janeiro: DP&A, 2011.
HUTCHEON, Linda. Poética do pós-modernismo: história, teoria,
ficção. Trad. Ricardo Cruz. Rio de Janeiro: Imago, 1991.
NO. Roteiro: Pedro Peirano. Direção e produção: Pablo
Larrain. Chile: BF
Distribuición, 2012. 1
DVD (118 min).
PILLA, Maria; PAIM, Lorena; PORTO, Adélia. Maria Regina
Pilla relembra momentos da ditadura e de tortura, sem rancor ou truculência.
Porto Alegre: Jornal Sul21, 15 nov. 2015. Disponível em: .
Acesso em 08 abr. 2017.
PILLA, Maria. Volto semana que vem. São Paulo: Cosac Naify, 2015.
SILVEIRA, Cristiane da. Entre a História e a Literatura: a identidade
nacional em Lima Barreto. História: questões e debates, Curitiba, v. 44, n. 1,
2006, p. 115-145.
SCHNEIDER, Sabrina. A Ficcionalização do real no livro-reportagem
Abusado: o dono do morro dona Marta, de Caco Barcellos. Dissertação (Mestrado
em Teoria literária) – Departamento Letras da
PUC-RS, Porto Alegre, 2007.
Disponível em: . Acesso
em: 08 abr. 2017.
1.
PILLA. Volto semana que vem, p.71-73
2.
PILLA. Volto semana que vem, p. 36-39.
3.
O Ejército Revolucionario del Pueblo foi uma
organização de guerrilha que atuou como braço militar do Partido Revolucionario
de los Trabajadores (PRT) no decorrer do período de levante armado que esse
partido de tendência trotskista-leninista operou durante os anos 1970 na Argentina.
4.
PILLA. Volto semana que vem, p. 15.
5.
PILLA. Volto semana que vem, p. 46-50. Creio ser
possível que o personagem gallego tenha sido inspirado em Alejandro “el
gallego” Álvarez, fundador da Guardia de Hierro argentina – organização peronista
de resistência à ditadura atuante no mesmo período que Pilla.
6.
PILLA. Volto semana que vem, p. 69-70. A Alianza
Anticomunista Argentina, também conhecida como Triple A, se tratava de um grupo
paramilitar de extrema direita vinculado a setores da Polícia Federal e das
Forças Armadas Argentinas, os quais procuravam desestabilizar o governo de
Isabel Perón com o intuito de facilitar o golpe militar que veio a ocorrer. O
Triple A operou em meados da década de 1970, atuando como um esquadrão de
extermínio que perseguia e matava pessoas vinculadas aos grupos considerados
marxistas ou comunistas.
7.
PILLA. Volto semana que vem, p. 65-66. Na
entrevista que abordaremos a seguir a autora afirma ter inventado o
encontro/diálogo.
8.
PILLA; PAIM; PORTO. Maria Regina Pilla relembra
momentos da ditadura e de tortura, sem rancor ou truculência.
9.
PILLA; PAIM; PORTO. Maria Regina Pilla relembra
momentos da ditadura e de tortura, sem rancor ou truculência.
10.
PILLA; PAIM; PORTO. Maria Regina Pilla relembra
momentos da ditadura e de tortura, sem rancor ou truculência.
11.
A única referência direta a isso se encontra em
PILLA. Volto semana que vem, p. 45-46.
12.
PILLA; PAIM; PORTO. Maria Regina Pilla relembra
momentos da ditadura e de tortura, sem rancor ou truculência.
13.
PILLA; PAIM; PORTO. Maria Regina Pilla relembra
momentos da ditadura e de tortura, sem rancor ou truculência.
14.
PILLA; PAIM; PORTO. Maria Regina Pilla relembra
momentos da ditadura e de tortura, sem rancor ou truculência.
15.
Creio que o interesse da mídia por sangue não
surpreende ninguém que, como eu, vive num país com incontáveis programas de
temática violenta e/ou policial na televisão.
16.
PILLA. Volto semana que vem, p. 71-73.
17.
PILLA. Volto semana que vem, p. 57-59.
18.
PILLA. Volto semana que vem, p. 8-10.
19.
PILLA. Volto semana que vem, p. 22-23.
20.
SCHNEIDER. A Ficcionalização do real no
livro-reportagem Abusado: o dono do morro dona Marta, de Caco Barcellos, p.
9-23.
21.
Ver por exemplo: BRAFF. Na teia do Sol, p.
116-117 e 125.
22.
ALONSO. Nódoas poéticas eimpressionistas em um
conto de Menalton Braff, p. 45-49.
23.
BRAFF. Na teia do Sol, p. 90-92.
24.
Estas autorreferências são também
características bem marcantes da obra de um contemporâneo de Proust: James
Joyce, que construía muitas conexões e referências entre seus livros.
25.
COSTA E SILVA. A relação entre texto e contexto
em “A Coleira no Pescoço”, de Menalton Braff, p. 3.
26.
Em se tratando do fato de que este artigo que
escrevo ronda a ditadura militar, e que este sobrenome tem uma grande carga
histórica relacionada ao tema, tomarei a liberdade de me referir à pesquisadora
apenas como Natali.
27.
BRAFF apud COSTA E SILVA. A relação entre texto
e contexto em “A Coleira no Pescoço”, de Menalton Braff, p. 5-6.
28.
HUTCHEON. Poética do pós-modernismo: história,
teoria, ficção, p. 141.
29.
DÖBLIN. O Romance histórico e nós, p. 24-25. A
escolha por Döblin se mostrou interessante, para além de suas contribuições às
discussões sobre as relações entre Literatura e História, também pelo fato de
que suas proposições foram elaboradas durante a ditadura nazista na Alemanha,
da qual era ferrenho crítico, motivo pelo qual foi exilado (publicava seus
textos em Moscou).
30.
DÖBLIN. O Romance histórico e nós, p. 20.
31.
DÖBLIN. O Romance histórico e nós, p. 21-25.
Apesar de tentador, aprofundar essa questão faria este artigo fugir de seu
script original. De forma que não o perscrutarei neste estudo.
32.
DÖBLIN. O Romance histórico e nós, p. 22.
33.
DÖBLIN. O Romance histórico e nós, p. 26.
34.
DÖBLIN. O Romance histórico e nós, p. 27.
35.
HUTCHEON. Poética do pós-modernismo: história,
teoria, ficção, p. 153.
36.
SCHNEIDER. A Ficcionalização do real no
livro-reportagem Abusado: o dono do morro dona Marta, de Caco Barcellos, p.
9-23.
37.
SEVCENKO apud SILVEIRA. Entre a História e a
Literatura:a identidade nacional em Lima Barreto, p. 119.
38.
SILVEIRA. Entre a História e a Literatura: a
identidade nacional em Lima Barreto, p. 117.
39.
Sobre as Artes Visuais no período do regime militar
e Carlos Zílio, ver, por exemplo: FREITAS. Arte e contestação: o Salão
Paranaense nos anos de chumbo.
40.
SILVEIRA. Entre a História e a Literatura: a
identidade nacional em Lima Barreto, p. 119.
41.
HUTCHEON. Poética do pós-modernismo: história, teoria,
ficção, p. 157.
42.
Como visto em: “O limite dos meus sonhos foi,
entre outras coisas, o fim do socialismo real, o fim da União Soviética, o fim do
muro de Berlim. Tudo isso aí – um mundo bipolarizado que nos deixava sempre uma
válvula de escape – ruiu porquê de repente o mundo passou a ser de um pólo só,
ou você sonha com este mundo deste pólo ou seu sonho acabou. Essa situação
vivida em 1988 é que vai ter como fruto mais tarde os contos desse livro. Tudo vai
falhando, essa sensação de que o homem é um ser inviável” (BRAFF apud COSTA E
SILVA. A relação entre texto e contexto em
“A Coleira no Pescoço”, de Menalton Braff, p. 5-6).
43.
Para um estudo mais aprofundado sobre a questão
de identidade, seria interessante fazer um paralelo com as reflexões de Stuart
Hall, que aborda o processo de construção das identidades nacionais e
individuais, e também os processos que ele chama de fragmentação da identidade
do indivíduo pós-moderno. Pela extensão do presente artigo, entretanto, optarei
por deixar essa possibilidade de relação para os próprios leitores. Ver: HALL. A
identidade cultural na pós-modernidade.
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