sábado, 17 de novembro de 2018

ENTREVISTAS QUE VOCÊ NÃO LEU

Há cerca de um ano, publicamos aqui no blog uma entrevista em que Menalton Braff respondeu a 36 perguntas. A publicação foi feita em três postagens, com 12 perguntas cada. Hoje vamos repetir a dose, só que agora as 36 perguntas serão postadas de uma só vez. Boa leitura!


      Como você se sente quando escreve?
Depende do que estiver escrevendo. Para citar um exemplo: Durante trinta e poucos anos tentei escrever o Na teia do sol. A emoção me bloqueava e não conseguia avançar. Eram lembranças muito dolorosas. Por fim, aliviado do teor autobiográfico do assunto, consegui prosseguir até o fim. Mesmo assim, foi um texto que em muitas passagens tive de parar com lágrima nos olhos e nó na garganta. Diferentemente, Moça com chapéu de palha foi um exercício de alegria. O distanciamento que se consegue entre autor e texto é muito importante.  O envolvimento real com o assunto pode causar as mais disparatadas emoções.

       Sempre foi assim, ou a sensação foi mudando ao longo dos anos?
Sempre foi assim, apesar de que com o caminhar com os textos, aprende-se certo controle sobre as emoções, mesmo quando se faz laboratório. Então, diria que o amadurecimento técnico e estético
auxilia no controle das emoções, que o Fernando Pessoa definiu tão bem em um poema: “só a que eles não têm.”  “O poeta  é um fingidor”,  não é mesmo?  

        Qual a sua relação com suas personagens? Já aconteceu de sentir paixão ou ódio por algum deles?
Toda personagem me provoca paixão, e, na pior das hipóteses, indiferença. Mesmo aquelas personagens que se poderiam classificar como “do mal” não conseguem me provocar ódio. E por uma simples razão: nada é mais difícil para mim do que julgar uma pessoa/personagem.

    
      Quando o livro acaba, você sente saudade das personagens?
Ah, sem dúvida. Por muito tempo ainda convivo com o povo que ficou preso no livro. Uns mais, outros menos, mas todos continuam me visitando quando deito e fecho os olhos para dormir. Muitos deles me tiram o sono.
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       Já aconteceu, alguma vez, de você sentir vontade de retomar um personagem em um segundo livro?
Isso acontece com muita frequência, mas quase sempre nos últimos capítulos de um romance, por exemplo, já estou fazendo anotações para o próximo, por essa razão nunca voltei para trabalhar personagens de que já me despedi.

        Qual foi o personagem que mais lhe cativou nesses seus 24 livros?
Ataulfo, de O casarão da rua do Rosário, que eu me lembre, foi a personagem que criei com mais emoção. Trata-se de um quarentão, um dos irmãos habitantes do casarão. Ele é rejeitado pela família por ser fraco da cabeça. Mas em meio à violência e aos conflitos dos irmãos, Ataulfo é doce, amante de animais, plantas e crianças. Um ser ingênuo, mas em essência um ser poético.  Gostei muito de construir o contraste entre os familiares, com este sopro de bondade e poesia. 
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      Já imaginou fazer um livro em que um personagem secundário de outra obra seja nesse o protagonista? Como seria esse livro?
Não, nunca pensei nisso.  No meu caso acho que isso não daria certo.

1    Como você cria seus personagens?

Olhando em volta.  O braço de um, o cabelo de outro, a teimosia de alguém, a safadeza de alguém, tudo isso costurado de acordo com as necessidades da história.  Não gosto de trabalhar só com personagem plana, então não me assusto quando tenho de criar alguma contradição em uma personagem.  A vida é assim, assim somos nós.

      E as histórias? Ao começar você já tem ideia de como será o final ou isso vai sendo construído na medida em que escreve?
Em geral, não começo a escrever enquanto não tiver certeza do início e do fim. O meio é o caminho que deverá justificar determinado fim.  Mas é claro que muitas vezes esse meio, o enchimento, segue uma trilha imprevista e acaba modificando não só o fim como também o início, que exige modificação. No transcorrer da narrativa não se pode perder a coerência.

         Você sente alívio ao terminar um livro?
Me parece que uma comparação com o parto não é descabida. Aquilo que gestou por muito tempo, aos poucos foi-se transformando em palavras revelando personas, com meses de convívio, alguns casos, anos, mesmo, ao término do livro sente-se um misto de alívio de um peso e saudade dos que ficaram presos entre as duas capas.

        As ideias para o livro seguinte surgem enquanto você está escrevendo o livro atual ou só depois que você termina?
As ideias, não só para o livro seguinte, surgem quase sempre motivadas por algo externo, e isso é imprevisível. Podem surgir num mesmo dia ideias para dois, três livros. Claro que em estado bem embrionário. Os elementos que se vão agregando à ideia inicial geralmente esperam o fim do texto que esteja produzindo.  Mas isso não é uma regra fixa. Não tenho controle sobre a mente neste caso.


          Você tem muitos livros inéditos, o que significa que tem um ritmo acelerado de escrita, já que lança em média mais de um livro por ano. De onde vem tantas ideias e tanto fôlego para escrever?
Eu tenho um arquivo de dados em que anoto tudo que surge. Muita coisa vira lixo por alguma razão, mas aproveito muito do que está guardado.  Como estou aposentado do magistério, que pagou meu aluguel por muitos anos, tenho meus dias inteiramente livres. Toda manhã, quando acordo, estico os braços e penso Que bom, hoje é domingo. Estou quase 24h por dia em disponibilidade para a literatura. Ou leio, ou escrevo. Então, publicar um livro por ano, ou até mais, não é milagre nenhum. E olha que sou bem lento na produção. Faço e refaço, transformo, troco palavras, inverto suas posições, enfim, não tenho pressa a não ser quando outro tema começa a me incomodar.  As ideias estão por aí, basta manter as antenas ligadas.

Para quem você escreve? Para você mesmo, para Roseli (esposa), para seus colegas escritores ou para o público?
Meu primeiro leitor sou eu mesmo, um cara enjoado que joga muito texto no lixo por não ter sido do seu agrado. O prazer da criação é ainda maior do que o prazer do consumo. Aliás, não costumo voltar muito aos textos já publicados. O maior prazer é o parto, é ver surgir algo que não existia, umas coisas que inventei: uma personagem interessante, uma combinação inusitada de palavras, um achado qualquer de alguma originalidade. A Roseli é minha segunda leitora. Muitas vezes ela torce o nariz para alguma coisa que eu tenha produzido e já sei que tenho de continuar trabalhando. O público, os outros leitores estão fora do meu controle. Não sei quem vai ler. Tenho poucos leitores (pelo menos sou fraco de vendas), o que me indica que minha leitura não agrada muita gente. Não posso fazer nada quanto ao público – Escrevo como sei escrever e ponto final.  

Quando está escrevendo, você pensa no impacto que causará nos leitores?
Não, não penso. Nem sei se causo algum impacto. Eu procuro fazer arte e para isso escrevo com minha cosmovisão sobre assuntos que me espantam ou me encantam, mas isso é uma necessidade
minha.  Também não procuro agradar, passar a mão na cabeça de ninguém.  A arte pode ir do sublime ao grotesco e manter-se arte. O modo como isso é recebido eu não sei, mas sei que nunca existe unanimidade entre os receptores. 

Você acredita que todo livro é, de alguma maneira, autobiográfico ou a ficção pode se libertar completamente dos fatos e temas vivenciados pelo escritor?  
Sem dúvida, no meu caso, me libertei dos fatos vivenciados.  O sentido do “autobiográfico”, assunto tão discutido por especialistas, me parece que se restringe ao fato de que o escritor escreve aquilo que tem na mente, e o que ele tem na mente passa muito por sua experiência pessoal. Mas isso é uma regra geral com infinidade de exceções. Há autores que até disfarçam, às vezes, mas jogam no papel os fatos de sua experiência. Ultimamente o narrador em primeira pessoa predominando é resultado disso.  Existem autores que não conseguem narrar usando narrador em terceira pessoa.  É uma questão de técnica narrativa.

Você viveu intensamente a época da ditadura e esse tema está presente em mais de um dos seus livros. Você acha que a literatura tem necessariamente uma função política? E educativa?
Não obrigatoriamente. Pode até ter tais funções, mas não se prende a isso. Quando o eixo principal deixa de ser o eixo da expressão, deixa de ser literatura e passa a ser panfleto. E isso é outro departamento. Se é útil, não é arte. No sentido kantiano da expressão. A arte é tão inútil quanto é inútil ter filho. Porque ver utilidade no filho transforma-o em mão-de-obra, arrimo da velhice, coisas assim.

Seus dois primeiros livros foram assinados com pseudônimo porque na época você temia perseguições políticas. Foi diferente escrever como Salvador dos Passos e escrever como Menalton Braff, ou essa questão da assinatura não influenciou em nada o processo de criação?
Na hora da produção, na verdade, não me lembro nem do meu nome.  Por uns tempos andei meio cabreiro com as notícias de amigos e colegas meus que sofreram golpes muito duros dos governantes da época.  Sei de casos até de assassinatos.  Então resolvi usar o disfarce do pseudônimo, pois não tinha conhecimento da minha verdadeira situação junto aos órgãos repressores.  Mas acho que a questão da assinatura era de menor importância.

Sua obra inclui livros para adultos, jovens e crianças. É o mesmo Menalton que escreve para os três públicos ou você sente uma mudança de estado ao se transportar de um público para outro?
Não me sinto muito confortável escrevendo para jovens e crianças. As questões da estética literária são obnubiladas por questões de ética. Para jovens e crianças devo escrever numa linguagem adequada, vocabulário corrente (não simplório) mas sem obstáculos em excesso, com ausência dos considerados temas politicamente incorretos, como propaganda de violência, racismo etc.  Essas questões e muitas outras funcionam como amarras na produção.

Qual dos seus livros você mais gosta e por que? Como você escreveu para adultos, jovens e crianças, talvez fosse interessante apontar o livro preferido de cada categoria.
Resposta muito difícil. Cada livro é fruto de um momento, uma emoção, uma experiência de vida, uma experiência estética. Não é simples. Valorar as emoções? De que maneira? A angústia está num patamar superior ao medo? A alegria é superior á emoção causada por uma vitória? Enfim, como dizer que num livro estou melhor representado, dizer que ele me deu maior satisfação? Essa eu passo.

Você é casado com uma professora de literatura que é também editora de livros. Esse ambiente familiar literário influencia em suas obras?
Talvez me sinta estimulado pelo ambiente, nossas conversas. Mas comentamos muito mais a literatura de terceiros. Não sou eu, porém, que posso responder. Isso de influência é outra coisa muito complicada. Existe influência positiva, mas também existe influência negativa, cujas intensidades é impossível avaliar.

Você é um homem antenado. Tem presença significativa nas redes sociais e vem aderindo, ao longo dos anos, a cada nova forma de comunicação (E-mail, Skype e agora WhatsApp). Esta não é a regra entre os escritores, especialmente os que já passaram dos 60 anos. A que se deve esse ‘antenamento’? A uma curiosidade natural, a uma afinidade com a tecnologia, ou a uma necessidade de se sentir conectado?
Na verdade não nutro lá grande simpatia pela tecnologia. Sou muito físico, material, prefiro a conversa olhando no olho do interlocutor. Parece que eu era mais feliz com a minha Lettera do que agora. Mas a tecnologia é imperativa, não há como fugir dela. Tenho celular e recebo umas cinco ligações por mês, mas não posso me privar dele, porque uma dessas cinco é aquela que vai me levar para o céu. Eu me anteno porque não me dão a oportunidade de curtir a vida isolado. A tecnologia é o mal necessário na minha vida.

Por falar em conexão, compartilhamento, há anos você compartilha suas impressões e conhecimento literário com um grupo de pessoas que se reúne em Ribeirão Preto em um grupo batizado como Grupo Dom Quixote de Leitura. Como funciona esse grupo e o que ele lhe proporciona?
O Grupo Dom Quixote, que já existe há quinze anos, reúne-se no último domingo de cada mês durante duas horas para cada integrante falar de suas impressões sobre o livro escolhido daquele mês. Procuramos escolher obras que sejam canônicas, mas às vezes damos passagem à curiosidade e descobrimos romances que podem ser ótimos ou não. Nós nos reunimos em um grupo informal, porque a troca de opiniões é sempre enriquecedora. Os integrantes têm com a literatura apenas uma relação de amor, e na vida exercem as mais diversas profissões. 

Você tem hoje um uma intensa agenda de visitas a escolas, centros culturais e até a presídios. O que esses encontros lhe proporcionam em termos de troca? Essas interações chagam a influir em seu trabalho literário pela experiência humana que proporcionam?
Não, os encontros não influem absolutamente em nada da produção. São experiências humanas como quaisquer outras. Claro que uma das condições do escritor é estar sempre de antena ligada, então os encontros são captados como uma cerveja com um amigo, o aniversário de um sobrinho e la nave va.

Alguns escritores contam que obedecem uma rígida disciplinam relação à escrita. Alguns, inclusive, reservam determinado horário do dia para escrever. Você tem essa disciplina? Como é o seu dia a dia?
Não tenho isso de “dia a dia”. Na verdade sou livre para ter “dias a dias”. Quando estou trabalhando em um romance, então sim, tenho a manhã para escrever. Todos os dias. E tenho a tarde para outras atividades, entre as quais a principal é a leitura, principalmente de textos teóricos. À noite vejo os noticiários e termino o dia lendo outra vez, que ninguém é de ferro. Costumo ler dois livros simultaneamente, em horários diferentes.

Você ganhou o prêmio máximo do Jabuti (Livro do ano 2.000 com À sombra do cipreste) e vários outros prêmios, inclusive o Selo Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ (com Castelo de Areia).  O que significou cada um deles para você?

Do ponto de vista de uma carreira literária os prêmios são importantes, pois representam o reconhecimento alheio a seu trabalho. Mas ninguém escreve pensando em prêmios. O prêmio, se acontecer, é bem-vindo, mas sua notícia fica restrita ao meio, isto é, àqueles
que de alguma forma formam a comunidade literária por fazeres ou consumo.  O Selo da FNLIJ tem um resultado mais prático. Muitas instituições culturais ou de ensino tomam suas decisões com base no Selo.

Seus livros juvenis foram adotados por programas oficiais de educação, sendo levados a milhares de jovens. Como você se sente em relação a isso? É uma realização ser lido por tanta gente? Isso aumenta a responsabilidade em relação ao que você transmite aos jovens?

Na verdade não me sinto, pois não posso imaginar onde vão parar os livros, quem lê, o que pensa sobre o que lê. Não se tem este feed-back. Logo, ou tenho o senso da 
responsabilidade ou não tenho.  Não existe esta relação entre leitores e produção literária.
O Mário de Andrade disse que seria lido por cinquenta pessoas. E já estava satisfeito. Cinquenta, quinhentos, cinco mil, que diferença faz?

Você alcançou também o público internacional. Um de seus contos,  “A dona da casa”, foi escolhido para integrar a coletânea  "Brasilianische Kurzgeschten" (Contos brasileiros) publicada por uma editora alemã e lançada durante a Feira Internacional de Literatura de Frankfurt, em outubro de 2013. É importante para um escritor ganhar público fora de seu país, ou permanece aquela impressão de que as traduções são sempre insuficientes e é melhor ser lido em seu próprio idioma?

Bem, do ponto de vista comercial deve ser importante, mas o fato de ser publicado fora do Brasil não consegue emocionar.  O autor não sente que ficou melhor ou pior, não cresceu ou diminuiu por ter sido publicado em outra língua. Se conquistei um espaço ainda muito pequeno no Brasil, por que me preocupar com publicação no exterior?

Alguns de seus livros foram estudados por pesquisadores acadêmicos, em dissertações de mestrado e teses de doutorado. Você se sente confortável com essa ‘devassa’ que os pesquisadores fazem em seu trabalho? Isso lhe traz alguma revelação sobre seus próprios textos? Alguma vez você pensou nessas análises enquanto escrevia um livro?

De maneira alguma no ato da produção penso em algo alheio ao que estou fazendo.  Os textos acadêmicos não me são desconfortáveis, pois suas conclusões esclarecem sobretudo outros estudiosos. Mas muitas vezes descubro que aquilo que havia feito intuitivamente está teorizado, e isso me joga luz nos conhecimentos teóricos e no uso das técnicas narrativas. É o caso, por exemplo, da dissertação de Mestrado da Beleboni, que trabalhou os traços impressionistas de “À sombra do cipreste”. Eu produzi contos durante algum tempo com algumas características comuns porque isso me agradava, mas a dissertação da Rafaela me aumentou a consciência do que havia feito.

O fantasma da página em branco assombra muitos escritores, mas parece que com você isso não acontece com frequência, a julgar pela quantidade de livros que já escreveu. Em algum momento você já ficou sem inspiração para escrever?

Ah, mas não sou escritor online 24h por dia. Tenho meus lapsos de produção, que podem variar de algumas horas a alguns meses.  Chega um momento em que me sinto cansado, com vontade de me enfurnar no mato, me isolar, e nesses momentos não consigo nem ler. Boto a cabeça em repouso e quase viro vegetal.

Rainer Maria Rilke pergunta ao ‘jovem escritor’ se ele morreria se não pudesse escrever. Você acha que todo verdadeiro escritor morreria se não pudesse mais escrever?

Acredito que a afirmação do Rilke seja metafórica, mas não entendo que a compulsão à escrita seja assim tão violenta. Não escrever causa profundo mal-estar, um desconforto muito grande em estar aqui sem objetivo algum. Mas isso depende do escritor. O caso do Raduan Nassar é emblemático. Escreveu duas obras-primas, ninguém pode negar que foi um dos grandes escritores do século XX, de repente e inexplicavelmente parou de escrever e não morreu. Disse o que tinha de dizer e não disse mais nada.

Há quem diga que o escritor não vive a realidade concreta porque passa o tempo trancado em casa vivendo a vida de seus personagens. Você concorda com isso?  É possível conciliar as duas coisas; a vida concreta e a literatura?

Não me agradam as generalizações. Não existe “o escritor”, mas “os escritores”. Cada um vive, sente, age a seu modo. Huysmans, por exemplo, me parece um escritor que caberia na sua afirmação. Mas e o Lima Barrreto? O próprio Machado, funcionário exemplar, assíduo e dedicado a seu serviço. Não, não concordo. A literatura é também parte da “vida concreta”. Não há por que conciliar.

Você tem hoje um uma intensa agenda de visitas a escolas, centros culturais e até a presídios. O que esses encontros lhe proporcionam em termos de troca? Essas interações chagam a influir em seu trabalho literário pela experiência humana que proporcionam?


Não, os encontros não influem absolutamente em nada da produção. São experiências humanas como quaisquer outras. Claro que uma das condições do escritor é estar sempre de antena ligada, então os encontros são captados como uma cerveja com um amigo, o aniversário de um sobrinho e la nave va.

Em sua opinião, qual é a função da literatura, o que ela pode proporcionar aos leitores?

A verdadeira literatura não tem função no sentido prático. A verdadeira literatura é arte e a arte basta-se a si mesma. Mas como as pessoas querem respostas sobre a utilidade das coisas, (o Kant virou-se no túmulo), podemos dizer que a literatura promove um melhor auto-conhecimento do leitor, clareia para ele mesmo sua identidade, além de expressar (queira ou não) a identidade de um povo. Mas acima de tudo, a literatura deve causar emoção. Como dito acima, o que é básico na literatura é seu aspecto estético, sem o quê pode ser considerada literatura de consumo, ou literatura banal.

Existe uma forte relação entre Menalton escritor e Menalton leitor, ou o Menalton leitor busca obras inteiramente diferentes daquelas que escreve?

Mas o Menalton escritor não deixa de ser o leitor de si mesmo.  Todas as obras são diferentes entre si. Mesmo os meus livros, não tenho dois que sejam semelhantes. Quando procuro um livro para ler, me baseio em opiniões de críticos, de outros escritores, procuro literatura de qualidade, aquela que me transforme, que me provoque alguma reação, alguma emoção (estética ou não).

Quando o escritor sente mais alegria? Ao escrever, ao concluir o livro, ao conseguir uma editora, ao vê-lo impresso, no dia do lançamento, quando recebe uma premiação?

Não há como aferir os diversos sentimentos de alegria, mas depois do ponto final posso afirmar que, no meu caso, existe muito mais sofrimento do que alegria. Lidar com o mercado editorial é sentir-se queimando no fogo do inferno.

Você foi professor por muitos anos. Quais as diferenças entre as duas profissões? Como conseguiu conciliá-las por tanto tempo?

Não, não existe conciliação. Uma coisa não tem a menor relação com a outra. Falar de literatura em sala de aula é falar de um objeto que se adquire, ou não, principalmente aqui no Brasil, em que as aulas de literatura na verdade são aulas de história da literatura brasileira. Gosto de falar do Machado de Assis? Claro! Tenho a maior veneração por sua obra. Mas quando estou escrevendo o Machado volta para o Brasil de 1908 e não me lembro mais dele.

O que você recomendaria a um escritor que ainda está começando a carreira?

Bah, isso não existe. Não recomendo nada. Se está começando, continue procurando seu próprio caminho.

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