quinta-feira, 9 de abril de 2020

CRÍTICA LITERÁRIA

Esta coluna reúne críticas literárias de Wagner Coriolano de Abreu, publicados originalmente no livro SEMPRE AOS PARES, lançado pela Carta Editora.


O LUGAR DE SÉRGIO FARINA


(Wagner Coriolano)


A revista Letras de Hoje, dezembro de 1970, guarda um texto exemplar de Sérgio Farina, verdadeiro exercício didático de análise literária de um poema moderno. Com sua habitual clareza, o autor deixa as pegadas de um trabalho calcado sob o princípio de simpatia, de paciência e do conselho de leitura, elementos que, no seu entender, dariam um caminho para a participação na experiência vital do poeta, transfigurada em obra de arte.

O ensaio de Farina reúne dois campos através dos quais palmilhou a vida universitária: as letras e a metodologia científica. Ainda nos anos 80, a segunda área de atuação profissional ofuscava o fino leitor e o cronista discreto, haja vista o número de edições do livro Apresentação de trabalhos escolares, realizado em parceria com os professores
Fernando Becker e Urbano Scheid. Como se não bastasse àquela presença, em diversas áreas da academia, outros apontamentos de como produzir textos técnicos despontaram, em série, nas páginas da revista Entrelinhas, de outubro de 2000 a março de 2003, na edição impressa.

De tão singular ofício de crítico e de pesquisador, uma história trintenária, vieram as crônicas jornalísticas dos anos 90, no jornal Vale dos Sinos. Farina fez um movimento da academia para o chão da cidade. Como os poetas de sua admiração, transitou da cultura letrada para uma ênfase maior da linguagem cotidiana. As crônicas revelam o escritor que soube colher as circunstâncias escalenas da cultura regional. Em depoimento recolhido no livro Histórias de vida nos 31 anos da Unisinos, organizado pelo poeta Lauro Dick, afirma que, com o mestrado concluído em 1977, sua visão acadêmica foi se alterando também. Apanhei o crachá, aquele mesmo que recebi ao ingressar, e, no verso da face que dizia ensino, escrevi pesquisa. Iniciei, acompanhado por alguns colegas, a dar mais importância à pesquisa, em minhas aulas, como forma de redimir a graduação.

Quando escreveu que o pesquisador é o criador de seu próprio conhecimento, o leitor contumaz Sérgio Farina sabia o que estava dizendo. As janelas da casa defronte à rua padre Nóbrega é que o digam. Entre livros e revistas, praticava o antigo exercício de recortar textos e novamente costurá-los com seu traço saboroso.

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