quinta-feira, 9 de outubro de 2014

ECOS DO BOLERO

Organizado pela professora Dra. Helena Bonito Pereira, a Editora Mackenzie publicou em 2013 o livro de crítica literária Ficção brasileira no século XXI - terceiras leituras, que só agora me chega às mãos.

São doze ensaios críticos todos eles produzidos por doutores militantes do magistério em nível de pós-graduação em universidades brasileiras.

Entre eles, o Dr. Arnaldo Franco Junior, pós-doutor pela Université de Paris VIII, apresentou o ensaio Jogando com leituras previsíveis: Bolero de Ravel, de Menalton Braff. 

Do ensaio, peço vênia ao autor para reproduzir um parágrafo:

"No caso de Bolero de Ravel, não se trata apenas de lermos a história de um outsider cujos drama e fracasso já se anunciam como fatalidade previsível em sua renitente recusa a integrar-se à ordem produtiva. Um dos efeitos mais importantes do romance está, exatamente, em fazer o leitor participar da intriga mediante uma identificação com Laura, antagonista-mor de Adriano. À previsibilidade da derrocada do anti-herói corresponde, no plano dos efeitos dramáticos, uma participação interessada do leitor, que, embora se disponha a acompanhar o drama do protagonista, não se identifica com ele, mas, sim, com os valores e práticas - amoralidade média, a ética do trabalho, a ordem social, enfim - das personagens e do mundo com que ele rivaliza. Nesse sentido, a previsibilidade do destino de Adriano é, na recepção do romance, elemento que força o reconhecimento do lugar que, também previsivelmente, o leitor ocupa quando chamado a posicionar-se em relação ao anti-herói e seu drama. A eficácia desse dispositivo - a previsibilidade da recepção - se dá a ver na criação de uma expectativa deliberadamente frustrada: a de que Adriano reaja positivamente às injunções de Laura, que lhe impõe o desafio de integrar-se à ordem produtiva. Efeito criado pelo romance, essa expectativa implica o leitor, obrigando-o a reconhecer-se parte integrante do mundo recusado por Adriano. Não é difícil constatar a manifestação dessa expectativa frustrada., Ela se dá mediante um conjunto automático de avaliações morais da personagem protagonista, facilmente rotulável como vagabundo, inútil, parasita. Ele não teria direito algum de queixar-se e, ressalvado o aspecto legal, nem mesmo de reclamar a herança dos pais, já que nunca trabalhou, não se emancipou economicamente, não teria se tornado adulto nem maduro de fato, permanecendo na casa paterna, alimentado por um vínculo simbiótico com a mãe."


O ensaio ocupa 27 páginas do livro.

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