Moça com chapéu de palha

O título deste romance, Moça com chapéu de palha, antecipa muitos aspectos da técnica narrativa de Menalton Braff. De imediato, ele sugere uma composição impressionista, que induz o leitor a participar da criação do significado da obra. 

O texto é lírico, intenso, e a análise do narrador, voltada para a crise existencial mais grave de sua vida, modifica-se com o passar do tempo. Nesse sentido, o estilo narrativo de Menalton nos remete - ao reavaliar o mesmo fato à medida que o protagonista se distancia dele - à série de pinturas de Claude Monet sobre a catedral em Rouen.


INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTA POSTAGEM:
  1. Dados do livro
  2. Preço 
  3. Pontos de venda ( links para lojas virtuais)
  4. Resenha completa
  5. Fragmento
  6. Comentário (link para publicação original)
DADOS DO LIVRO

Título: Moça com chapéu de palha
Editora: Língua Geral
Ano: 2009

PREÇO: entre R$ 29,00 e R$ 36,00


PONTOS DE VENDA:


COMENTÁRIO



RESENHA COMPLETA

O título deste romance, Moça com chapéu de palha, antecipa muitos aspectos da técnica narrativa de Menalton Braff. De imediato, ele sugere uma composição impressionista, que induz o leitor a participar da criação do significado da obra.

O texto é lírico, intenso, e a análise do narrador, voltada para a crise existencial mais grave de sua vida, modifica-se com o passar do tempo. Nesse sentido, o estilo narrativo de Menalton nos remete - ao reavaliar o mesmo fato à medida que o protagonista se distancia dele - à série de pinturas de Claude Monet sobre a catedral em Rouen.

Este livro ainda revela muitas cenas campestres, pinceladas como se fossem uma natureza morta. É quando também há maior abertura para o registro de cenas cotidianas, triviais, mas que, pela qualidade com que as e os movimentos são manipulados, ganha um papel muito relevante em Moça com chapéu de palha: elas completam o papel impressionista, que vai misturar a leveza do erotismo com o peso da incerteza sobre a vida.

As impressões nascem ora do que vai sendo mostrado com solidez, o amor entre o protagonista e Angélica, sua mulher, ora pelas incertezas do narrador em torno do seu destino. E é justamente em torno das incertezas que o romance ganha um contraponto, um tom que por vezes, de modo instigante, nos faz lembrar da literatura noir, repleta de mistérios e suspenses. Acentua-se também um cenário urbano, da redação do jornal e das relações profissionais ali estabelecidas, da falta de ética, do poder que consome o compromisso com a verdade, um lema que a imprensa carrega consigo feito um estandarte.

De um lado, o campo, o cuidado na preparação da comida, na arrumação da mesa de jantar, no zelo como jardim, na vida amorosa e sentimental, enquanto, de outro, estão a cidade e sua máquina incessante, brutal e estressante. Qual dos dois é mais verdadeiro? Qual dos dois é mais importante? São perguntas que se colocam neste romance e são formuladas em diálogo com a própria criação literária, num jogo metalinguístico que apenas um autor maduro como Menalton Braff poderia conquistar. 


FRAGMENTO



"O telefone ricocheteando pelas paredes do apartamento, muito súbito e sério, com o castigo deste seu grito estridente, que ele repete obstinado, e repete, acaba esmagando meus nervos. Minha mão para, atenta, e de minha boca entreaberta escorre um fio branco de pasta e baba, que a água da torneira carrega para o ralo da pia. É uma sangria, uma vida que se esvai para fora do tempo. Em geral o telefone não me aborrece, instrumento de trabalho, mas domingo de manhã, quando estou escovando os dentes e tenho de fazer um bochecho rápido para ver quem, no mundo, já está acordado, sinto uma dor que me sobe pela coluna, dor fria que acaba com meu bom humor. Enquanto saio do banheiro limpando a boca, só não tenho a certeza do que se trata porque ainda não consegui acordar direito. De ontem, quase nada além da boca amarga do uísque nacional e uns pedaços de música na memória de meus ouvidos. Umas duas horas quando saímos da boate. O resto do dia parece ter sido apagado ou envolto numa bruma cinza. Então o telefone me lembra o esforço para convencer Ernesto, aquele burocrata retino que responde pela gráfica, uma criatura estúpida e de imbecilidade crônica, cruamente engessada em suas normas e procedimentos. Vontade de quebrar seu pescoço com minhas mãos. Queria a ordem por escrito. Com assinatura, ele gritava histérico, com assinatura. Mas teu diretor está na Bélgica, grande imbecil, não está vendo que é impossível? De boca, não, ele berrava, de boca não aceito. E sacudia a cabeça, o rosto muito vermelho e duas veias descendo grossas por dentro do pescoço."