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quarta-feira, 6 de maio de 2020

CANTIGAS DE AMIGOS

FOBOFOBIA*
(Alfredo Rossetti)

Ao Guto

três pessoas passam:
cruzam
trocam caminhos com meu temor
três pessoas passando ao redor:
instintos babilônicos
decretam-se em sustos
entrelaços
- pés em redes flutuam
no átimo da calçada e pavor
três pessoas no espaço e no tempo:
sorvedouro de pedaços de vida
instante do olhar encriptado
síntese de mordaça
o anonadado
três pessoas passaram e deixaram sem saber
como um prelúdio de morte um rastro de asfixia
três pessoas ao longe:
soçobram raios de sol inférteis
pequenos tremores de aguardo
pela nova estação

*Poema do livro VOZ, lançado pela editora Legis Summa.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

CANTIGAS DE AMIGOS

ISOLAMENTO*

(Alfredo Rossetti)

“O resto do mundo que temiam e evitavam”
Nota de rodapé.
OS SERTÕES – Euclides da Cunha

hoje sou um verso minúsculo
e o resto é terras grandes
um olhar na janela
sem ver a nascente de quaisquer rios
hoje sou do Euclides, o tabaréu
e seu arcabuz
lá fora uma vastidão
em que me não reconheço
minhas mãos seguram meu queixo
fora da guerra santa
na caatinga das cidades
hoje sou algumas palavras
e o mundo inteiro me pesa
no travesseiro
hoje estou só
e o resto é um só
repulsado e oceânico

*Poema do livro VOZ, lançado pela editora Legis Summa.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

CANTIGAS DE AMIGOS

DO APOCALIPSE ÍNTIMO*

(Alfredo Rossetti)

espectros da noite assombram
curvas da tarde como maré:
alta onda que avança lambendo
o fim do dia de um fim de ciclo
paixão posta a termo
um de profundis na pele
o último sexo pleno de trombetas
queda de wi-fi
boca toda seca
nos dedos
nos bolsos
nas gentes
nos dentes cerrados
nos gemeres e sentidos e cios
nos afazeres incompletos
no olíbano que no ar lento queima
no tuite sem lógica para um quê
na toca o baseado no toco
restos de nina no piano
o copo
o corpo
espada ouro e paus
as costas
as dores
o embaçar dos óculos

dos olhos
do amor
nuvem de penumbra a proclamar
que o dia está morto
o ocaso não foi além
de se sentir aquém

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

CANTIGAS DE AMIGOS

POEMA NASCIDO COM A MANHÃ*  

(Alfredo Rossetti)

Acordo o dia com palavras
em forma de vasos líricos,
repletos de Drummond.

Lá estão elas – chaveadas -
trancadas no fundo do baú
cheio de ouro das minas,

alteado das mãos e dos cabelos
dos escravos (dos mais sofridos
aos mais sabidos) – lá estão

como um raio de anil,
anunciando o tempo perene
e intocável da poesia por

mais de sofreguidão que tenha
tido em seus caminhos de busca
e desencontos – lá estão elas,

as loucas e as santas, alterosas,
as nuas e as revestidas de festejos
dos dias do Império, lá estão

todas elas,
como um abanão
em nossas verdades incertas.

Lá estão alvorando
como um sino sultão
no alto de torres onde o sol

anuncia o ambulacro.
Lá estão proclamadas;
sentido para a vida.


*Poema do livro VOZ.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

LANÇAMENTO DA SEMANA

Na próxima sexta-feira, dia 13 de dezembro, o embaixador Lauro Moreira lançará em Ribeirão Preto, o livro "Quincasblog: Meus Encontros".                                                                                    O livro reúne crônicas memorialísticas e será apresentado pelos escritores Alfredo Rossetti e Menalton Braff.                                                                                                                                    O evento será realizado na sala Meira Júnior, do Teatro Pedro II, a partir das 19h. Estão todos convidados!



CANTIGAS DE AMIGOS

VENTO MEU

(Alfredo Rossetti*)

há um vento meu
que não sei se real
ou invento d’arte
já veio como tufão
em verso de brisa leve
já secou roupa molhada
derrubou porta fechada
já confortou meu rosto
levou meu chapéu
trouxe areia pros olhos
poesia nos cabelos dela
não sei se é um vento d’arte
ou um invento meu
só sei que tem faces:
uma me carrega a calma
outra me traz castidade
às vezes eriça meus pelos
liberta demônios rapaces
que assoviam nos sentidos
tem o canto da anunciaqcão
que embala as palmeiras
um vento sim, que inventa
a voga da nota da flauta doce
(podia me levar para o mar)
há um vento todo meu
real ou invento d’arte
de olho nas minhas cinzas

*Poema publicado originalmente no livro VOZ.

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

CANTIGAS DE AMIGOS

CENAS & CAOS*

(Alfredo Rossetti)

Tenho um roseiral cheiroso
na minha cabeça.
Meu coração confuso
traça ritmos desgovernados
e o roseiral, pobre de ação,
sucumbe ao tremor da tarde;

eterna a luta dos pássaros
que em mim comem sobras
e só voam quando o inverno
vem aonde pouco se espera.

Tenho um roseiral tenebroso
quando fujo das esquinas.
Meu coração só desperta
se trago versos lacônicos
e o roseiral, rico de fel,
ressurge ao lamber dos lábios;

segunda-feira, 23 de julho de 2018

MENALTON 80 ANOS - por Alfredo Rossetti

Menalton Braff chegou aos 80 anos com 24 livros publicados,
 vários prêmios, entre os quais um Jabuti, e muita coisa boa para relembrar.
Além disso, conquistou muitos amigos/admiradores
e alguns deles resolveram homenageá-lo com pequenos textos sobre sua obra,
que publicaremos a partir de agora.


Alfredo Rossetti:

Entre amigos, surgiu o exercício de cada um citar um grande poeta. Quando chegou a minha vez, fui enfático: “a minha preferida é a Lúcia!”. Ante olhares indagadores, expliquei: “a Lúcia faz poesia enquanto pensa. Enquanto raciocina.” E antes de perguntarem o que estava dizendo, elucidei a questão dizendo que Lúcia era a personagem de Pouso do Sossego, livro que acabara de ler de uma trilogia de Menalton Braff. Aí, veio a afirmativa esperada, inexorável: “Ah! Então o poeta é o Menalton, que a criou.” Pois é. Também acho. E dos grandes. Dono da melhor prosa poética a contar histórias da literatura brasileira contemporânea. Então, nestes 80, só me resta saudá-lo como se deve: Evoé, Menalton!

quarta-feira, 28 de março de 2018

CANTIGAS DE AMIGOS

(Poema de Alfredo Rossetti)


ocaso morno
um verso passa e não me leva junto
som seco de fúria tira de toda via a isenção do medo
a noite embrenha-se além de onde estaria
e derruba estacas
um doce sorriso
(que imantava outros)
fica escuro – seca
parece que há noites que rejeitam tardes
de sonoridade plena

- pequeno verso viajor,
que sejas no mínimo arraiado e carrossel

quarta-feira, 21 de junho de 2017

CANTIGAS DE AMIGOS

O vulto*
(Alfredo Rossetti)

Na casa velha da esquina, na janela
embaçada pela dúvida,
um rosto no alto. Dois olhos
que ferem mesmo penumbra,
mesmo sombra.

Raio de medo eu me intercorre
como conhecesse os atalhos de meu interior
(moradia da maior parte de minha vida).

Sinto estar nu à procura de um oásis.
O incógnito fere minha pequenez
através do véu (ou de mim mesmo?),

domingo, 28 de maio de 2017

LANÇAMENTO DA SEMANA

Título: VOZ
Autor: Alfredo Rossetti


Data: 3 de junho (sábado)
Horário: 9h30 às 13h
Local: Biblioteca Padre Euclides
Endereço: Rua Visconde de Inhaúma, 490,
1º andar.


quarta-feira, 17 de maio de 2017

CANTIGAS DE AMIGOS


a menina nina
disse que a vovó
contou a ela
e que não é balela:

“que um poeta português
era um grande fingidor
que a dor que sentia
conseguia fingir que era
uma outra dor
e porisso
ficou sendo chamado
de O Outrador
aí ele se chamava Fernando
e ficava só outrando

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

CANTIGAS DE AMIGOS

A TARDE QUE FORA TARDEZINHA 
(churrasco atrás do muro)
(Alfredo Rossetti)

o que vem da festa                                                                             
loquaz, indigesto
uso perdulário
de fonemas ilegítimos
quebra a sintonia
o modelo, o divino
parte a medula
do silêncio lusco-fusco


acende a maneira
de galimatias
e inimigos da leitura,

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

CANTIGAS DE AMIGOS

ENTRE PALAVRAS
O autor

(Alfredo Rossetti)

entrepalavras
entes-bercário
fundo musical
do silêncio da linguagem

nega-se o papel de nascer ou de ser
algo a mais do que cumprir
a ativa ação de atinar o compasso
e o entendimento visual do poema

assim como o azul
entre árvores
que olhos deitados
fogem da visão
da cidade fuligem

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

CANTIGAS DE AMIGOS


O poema que segue é da autoria de Alfredo Rossetti, e consta de seu livro Dia de chuva.

Versos para quem me ama

Não veja apenas a infrutescência
de minha vida. O vago, o corriqueiro,
onde há o céu sem astros,
o opaco.

Não se sirva somente da iguaria falsa
e inapetente,
usada apenas onde não engrinaldam
nossas videiras.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

CANTIGAS DE AMIGOS


O poema abaixo é de Alfredo Rossetti, e consta de seu livro tempo do meu tempo.


OLHARES MORTOS

Ontem no velório rostos do passado
              choravam a morte.
              Eu chorava a vida.
Eu chorava pelos rostos cindidos
         e ações não governadas.
Eu chorava pelos olhares que me viam
                        e não me viam
         eu chorava pelo que viam.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

CANTIGAS DE AMIGOS





O poema abaixo foi por nós escolhido do livro Dia de chuva, do amigo Alfredo Rossetti.



Dia de chuva

                                     Tomei minha velha mala
                                      e coloquei objetos.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

CANTIGAS DE AMIGOS

O poema abaixo é de Alfredo Rossetti e encontra-se em seu livro dia de chuva.

Amor obstrutivo
 
Naquela casa tinha um ferrolho na porta.
Trancado por chaves imensas.
Jogadas no pântano de um amor obstrutivo.

Mas ao lado, esquecida pelos anos e senhoria,
tinha também uma janela aberta.
E por ela, um dia, entrou um poema.

Esvoaçando pelos quintais
com tal indissolubilidade
que os corredores ofereceram-lhe logo
o próprio âmago da casa.

(naquela casa tinha também uma estante com livros)

E o ferrolho, meândrico,
não teve outro caminho senão acabrunhar-se
a serviço do cinismo.

Naquela casa,
aprendemos a ser eternamente moleques
a equilibrar em peitoris,
transcendendo palavras e sonhos.


Sempre burlando a nossa existência.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

CANTIGAS DE AMIGOS


O poema que segue é do poeta ribeirão-pretano
Alfredo Rossetti.


CELULAR

os olhares mudaram
de direção
- agora só nas mãos


no ônibus no namoro
no passo
[laço
na atenção]

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

CANTIGAS DE AMIGOS

Poema de Alfredo Rossetti.


SOLIDÃO

Leio o Ítaca do Kaváfis.
Choro e rio na certeza
de que somos corpos
e sentidos nesta vida.

De que há caminhos
 absolutos de regalos
 e presentes forças
 que a beleza nos traz.

Mas me faltam outros
 corações ao redor.

Ouço o amor de Tristão
e Isolda no prelúdio
na semeação de Wagner.
Choro e rio na certeza
que fosse minha vida
somente este segundo
já seriam estas lágrimas
o que pensamos de eterno.