Esta coluna reúne textos de Menalton Braff, publicados originalmente em seu site.
Anedota
socrática
Nada contra
a posse de bens, mesmo os materiais, pois sem eles a vida seria impossível. Quanto aos bens espirituais, bem, sem eles
vive-se tanto quanto vivem patos e marrecos, bois e cavalos, e alguns bípedes
muito encontradiços em nosso meio. A busca
de bens materiais é natural, se deles dependemos. O que causa espanto,
desalento, o que causa descrença nesse pequeno ser que se chama humano é ver
como algumas pessoas vendem a alma ao diabo. Não, não vou falar de literatura,
que por ela já passeei bastante ultimamente. Não vou falar do Fausto, tampouco
do Robaldo, famosas personagens que se deixaram seduzir pela ideia de que o
diabo podia ajuda-los a alcançar algum objetivo em troca da alma, que a ele
deveriam entregar após a morte. A venda da alma de que me ocupo é outra. Falod
a sedução exercida pelo mercado e que conquista muitas almas. Nos dias que
correm ( e céleres) pode-se dizer que o mercado conquista a grande maioria das
almas.
O ser há
muito perdeu sua importância. Vivemos, como já se disse por aí, numa época em
que ter vai
conquistando a maioria dos corações. Pior ainda. Há quem diga que
parecer, nos dias atuais, é o canal, a verdadeira causa de satisfação. Talvez
seja, mas o que me ocupa agora é o modo fácil como a maioria absoluta da
população é capaz de sacrificar afinidades, valores éticos, amizades, prazeres,
sonhos e encantamento pela posso de um objeto qualquer. E muito qualquer. Quase
nunca um objeto lhe trará algum beneficio. Não aprendemos com a semiótica que
se compra não um objeto, mas sua significação? Em outras palavras, compra-se o objeto
que dê status, a marca que dê prestígio, isto é, compram-se aparências.
E o
Sócrates, o grego? Por que razão aparece no título? Bem, um dia ele passeava pelas
ruelas do mercado em Atenas. Ele passeava por ali com um de seus discípulos,
apreciando a infinidade de mercadorias expostas dos dois lados da rua. Então
parou e, com o braço num amplo gesto, chamou a atenção do discípulo: - Veja só,
meu jovem, de quanta coisa eu não preciso para viver.
O tempora, o
mores! Diria Cícero se estivesse por aqui.
Querido Menalton!Excelente reflexão para um início de semana.Se eu estivesse com Sócrates,eu o convidaria a passear numa avenida imaginária com dezenas de lojas que oferecessem graciosamente coisas absolutamente necessárias e que nos encheriam de alegria e prazer: boas amizades, afeto,sinceridade, vulnerabilidade,consciência,justiça,docilidade, amabilidade,carinho, amor,boa prosa,livros do Menalton,livros da Semíramis,rs,gatinhos, cães e pássaros cantantes,música e poesia,respeito,atenção,saudade...e tantas delícias mais cujo preço é a conquista da sabedoria e da simplicidade.Abraço carinhoso
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