quinta-feira, 22 de março de 2018

INÉDITOS


Até dias atrás, Menalton Braff nos contou, na coluna MOTIVOS, o que o levou a escrever cada um dos seus 24 livros já publicados. A partir de agora, o título da coluna passa a ser INÉDITOS e as obras em questão são aquelas que ainda não foram publicadas. O livro apresentado hoje é uma história infantil.

Galinda

Se não de todos, pelo menos de uma grande maioria dos narradores ficcionais a memória é um poderoso instrumento. Cenas vividas, casos ouvidos no decorrer da vida nas mãos de um narrador vão tomando certa coerência ao se juntarem num texto único de forma a constituir um todo verossímil. Não em seu cotejo com a realidade, mas verossímil de maneira interna ao próprio texto.

Este parágrafo introdutório já está indicando a continuação destes Inéditos. Era criança, com toda certeza ainda não tinha chegado aos oito anos, quando, nas férias em visita à casa de um tio, vendeiro e marceneiro no meio rural, assisti a uma cena jamais esquecida. Uma galinha havia chocado doze ovos de galinha e três ovos de pata. Daí resultaram doze pintinhos amarelinhos e três patinhos da mesma cor.

Ocorre que quase no fundo do quintal e atravessando o pomar, passava um córrego de uns dois metros de largura. Quando a galinha com seus filhotes se aproximou do córrego, três deles se jogaram na água numa felicidade que só vendo. A mãe zelosa pôs-se desesperada, voando de um barranco ao outro, voando por cima de seus filhos adotivos muito nervosa como temesse que eles fossem afogar-se. Os restantes pintainhos não pararam de piar temerosos ao verem a mãe naquele desespero.

Lá pelas tantas a galinha se jogou na água, mas batendo muito as asas saiu do outro lado gritando alucinada. A cena durou vários minutos até que os três trânsfugas saíssem à terra interessados

agora em algo para comer. Imagino que para crianças urbanas (filhos de apartamento, como são chamadas) e que jamais terão oportunidade de uma experiência dessas, podem viver o que vivi “ao
vivo” pelo menos com a imaginação.

Confesso ter enviado os originais a mais de uma editora que trabalha com livros infantis. Nenhuma delas se interessou por minha história. E como não explicam suas razões, fico a pensar que não consigo alcançar uma linguagem adequada às crianças. Apesar de meus esforços. O livro continua inédito. Seu título é Galinda.

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