segunda-feira, 21 de maio de 2018

CARTAS DO INTERIOR

A febre que salva

Além do frio, que aos poucos vem chegando, por aqui acontecem eventos que se podem classificar como alvissareiros. Aqui, como de resto pelo Brasil afora, costumamos sentar e chorar. Ou mais ou menos isso. Com todo nosso “complexo de vira-latas” costumamos babar nas imagens de um casamento qualquer que nos venha de fora, e repetir o que eles querem que repitamos: O Brasil não tem jeito.

Essa contestação com as trevas do pessimismo me ocorre quando penso nos índices de leitura do brasileiro. Nossa média é baixíssima. Lemos menos de dois livros por ano. Porque outras estatísticas menos angustiantes, podem ter certeza, dão como leitura livros didáticos, receita de bolo e que tais. A média argentina é de oito livros/ano por cabeça. Da Suécia são dezesseis.



Mas nossa comparação não deve ser exógena. Cada país tem sua história e suas razões. A nossa comparação deve ser diacrônica. Considerando nossa história. País jovem, última escravidão racial do mundo, falta de interesse tradicional das autoridades pela educação do povo. Tudo isso é relevante para que se tenha uma análise correta da situação humilhante em que vivemos. Então, sentamos e choramos? Nada disso. Temos, todos nós os privilegiados que atingimos certo nível cultural, temos, dizia eu, que arregaçar as mangas e toca trabalhar pela mudança desse quadro.

E isso vem acontecendo. E de forma visível. Nunca se viram tantas feiras de livros (em que pesem os defeitos de tais eventos, os desvios de objetivos, principalmente) pelo país afora. E agora, começam a surgir os Clubes de Leitura. Presenciais, alguns, outros utilizando os recursos da informática, o fato é que começam a pipocar por todo o país.

Faço referência ao fato, por ter participado como homenageado do lançamento do Clube de Leitura, inaugurado no dia 14 de maio pelo Centro do Professorado Católico de Ribeirão Preto. O primeiro livro escolhido pelo grupo foi meu Noite adentro, livro que encerra a trilogia Tempus fugit.

Convidado a conversar com o grupo no ato inaugural, constatei que a maioria dos integrantes do clube já tinha lido o livro. Então foi atacado por alguns deles por causa de passagens obscuras, as muitas elipses.

Tive de concordar com os leitores. Ocorre que a escolha do último romance da trilogia, apesar de ser possível uma leitura isolada dos dois primeiros livros, deixou lacunas de sentido. Os espaços vazios para serem preenchidos pelo leitor ficaram excessivamente vazios. E a escolha se deu por ter sido o romance lançado recentemente. Bem, por fim chegamos a um acordo.

De tudo isso, tiro lição: o hábito de ler e discutir a obra em grupo, com as várias visões possíveis, vai-se tornando uma febre que nos salva.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças