terça-feira, 30 de agosto de 2016

NO BLOG LIVRO SEM FRESCURA

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Novo livro, livros da modinha e Bienal são os temas da entrevista com Menalton Braff

O escritor Menalton Braff ganhou o prêmio Jabuti com o livro “Sombra do Cipreste”, em 2000. Antes, ele já havia escrito “Janela Aberta” e “Na Sombra da Mulher” com o pseudônimo de Salvador  dos Passos. Com o prêmio, o professor saiu do anonimato e ganhou o mundo da literatura para encantar os leitores com sua obra. Hoje, aposentado e se dedicando a escrever, ele participa de encontros com leitores, mantém um blog na internet, uma página e um grupo de leitura no Facebook.

Ele acaba de lançar o livro de contos “O peso da gravata” e ainda este ano deve sair em formato digital “Que enchente me carrega”. No dia 01 de setembro, Menalton vai bater um papo com os leitores na 24ª Bienal do Livro de São Paulo, mas antes deu uma entrevista para o blog por e-mail.

Livro sem frescura:  Você já foi professor, conviveu com os alunos na sala de aula e os desafios da profissão. Este período influenciou sua vida de escritor de que maneira?


Menalton Braff: O convívio com adolescentes contamina em certo sentido nosso modo de ver a vida. Há neles uma força de propulsão para o futuro que passa a nos empurrar para frente, com a mesma sede de realizar, construir. Mas é claro que não é só isso. Seus dramas, suas dúvidas, seus conflitos, vistos de perto, compartilhados com eles, é também matéria de muitas de minhas obras para adolescentes. Acredito que, não fosse esse convívio, não me arriscaria na produção de literatura infanto-juvenil.

Livro sem frescura: São 23 livros publicados, alguns premiados e outros que figuraram nas listas de indicados a prêmios. Hoje, você vive de literatura. Como você analisa essa conquista, já que é tão difícil para um escritor sobreviver apenas com os direitos autorais de seus livros.

Menalton Braff: Bem, viver de literatura não quer significar o mesmo que viver de direitos autorais. Participação em eventos, palestras, mesas redondas são tantas outras atividades que ajudam no orçamento. Se dependesse apenas de direitos autorais, talvez conseguisse viver, mas com muito aperto. No que diz respeito aos direitos autorais, é preciso dizer que, não sendo um bestseller, é preciso contar com uma quantidade razoável de obras. Ainda mais no meu caso, que não sou de explodir no mercado. Em geral meus livros ficam pingando, devagar e sem parar. E isso foi conquistado com muito esforço e em muito tempo.

Livro sem frescura: Hoje, as pessoas  têm acesso a vários “estilos” de escrita por plataformas na Internet. São livros de youtubers, romances eróticos, distopia…Você acha que para começar a ler vale “qualquer” tipo de livro ou você acredita que os clássicos ainda são as melhores opções?

Menalton Braff: Não sei se para começar eu escolheria os clássicos, mas uma coisa é certa: desconhecer os clássicos não qualifica escritor nenhum. A não ser que não haja nenhuma preocupação com a literatura. E na verdade, o que tem proliferado com maior intensidade é o que o Adorno chama de literatura banal, isto é, de baixo valor literário e cultural. Em geral esses “estilos” que você cita são produzidos por pessoas sem a menor noção do que seja literatura. Obras toscas, sem qualidade tanto no plano da expressão quanto no plano do conteúdo. Mas não se pode esquecer que existem exceções.

Livro sem frescura: Pesquisas divulgadas nos últimos dias mostram que o mercado literário está em crise. Em uma entrevista a Folha de São Paulo Eva Furnari disse que nunca viveu uma época tão ruim.  Como você avalia este período para os escritores?

Menalton Braff: Leitores propriamente de literatura foram sempre muito reduzidos. Mas isso é extensível às artes em geral. O usufruto de qualquer arte, e a literatura é arte também, pressupõe certa educação da sensibilidade, que nem todas as pessoas conseguem. Você imagina quanto por cento dos brasileiros apreciam, por exemplo, a obra do Picasso?  Ou sentem-se extasiados com uma sinfonia do Mendelssohn? Mas é claro que a mentalidade tecnológica atual desvia ainda mais as pessoas para os Pokemons da vida, isto é, a mentalidade rasa cada vez mais rasa. E não se deve ter esperança de que melhore a situação. Vai continuar assim: os consumidores de arte vão ser sempre um número reduzido de pessoas que, na minha opinião, são uns privilegiados. E isso, independe de poder aquisitivo ou de grau de escolaridade. Isso depende de sensibilidade.

Livro sem frescura: Seu último livro “O Peso da Gravata” traz uma coletânea de contos. Na obra você circulou pelo realismo fantástico e pela rotina da vida do ser humano. Como foram escolhidos os contos para esta obra?

Menalton Braff: Meu livro de contos anterior foi publicado em 2006. Nesses dez anos de intervalo, eu escrevi contos, mas apenas quando algum deles se enganchava na minha mentalidade. E foi um período em que quase por brincadeira quis ter minhas experiências com outras formas de narrativa. Depois dos primeiros, e, ao gostar da experiência, escrevi mais alguns, foram minhas tentativas principalmente nas três modalidades do realismo mágico (metafísico, ontológico e antropológico), inclusive alguma tentativa de fantástico. Então a escolha se deu pelas modalidades narrativas, querendo abrir um leque maior de experiências. Mas incluí alguns textos de um realismo mais tradicional, que tivessem algum conteúdo poético. E acho que consegui o equilíbrio a que me propus.

Livro sem frescura: Nesta obra você quis mostrar o “homem moderno” atolado em suas buscas, consumismo, trabalho e com pouco tempo para viver? Você conseguiu fugir desta rotina tumultuada?
Menalton Braff: Bem, não só, mas também. O primeiro conto, por exemplo, que me foi sugerido por um livro do Freud (O mal-estar da civilização), na verdade é a constatação de que quanto mais o homem se civiliza, mais impedimentos ele se acrescenta, mais proibições lhe são impostas, fonte de uma grande quantidade das neuroses em que mergulhamos nos dias que correm.
Livro sem frescura: Tem como você dar uma dica do que você pretende falar no bate papo da Bienal de São Paulo ?

Menalton Braff: Bem, o que me foi pedido pela editora (Primavera Editorial), foi um bate-papo sobre uma técnica narrativa que é o fluxo da consciência. Uma técnica, que, apesar de ter surgido em fins do século XIX, com um escritor francês (Dujardin) desenvolvida quase aos seus limites por James Joyce, sobretudo em seu Ulisses na primeira metade do século XX, teve como continuadores autores como William Faulkner e muitos outros, apesar disso, continua sendo uma técnica moderna e que tem ainda muita literatura a produzir.

Livro sem frescura: Quais os seus planos literários?

Menalton Braff: Continuar escrevendo e, se possível, publicando. Por estes dias deve ser lançado em e-book meu “Que enchente me carrega?” , e já tenho contrato assinado para lançar, talvez ainda este ano, o romance Cenas de um amor imperfeito. O romance que estou escrevendo ainda não tem título.

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