A PALAVRA NOVA
(cecília figueiredo*)
As quadrinhas das palavras graves no meu pequeno dicionário
dão me conta tardiamente de que iluminada não sou,
tampouco sã. Dão-me temor em tudo –
horripilam-me as filigranas frágeis da representação da
fonética nas
expressões ferinas de um português tísico
de pernas finas e olhos de abutre cerrados por paus,
e essa altivez de acinte das classificações etéreas por
gênero tais
que minam-me a mente na confusão malévola das variáveis
entradas,
que a tudo, respeito,
dentro do meu temor.
Nada temeria se meu dicionário
pudesse me trazer uma palavra obsoleta e vaga,
e que viesse graciosa até mim como um borrifar cheiroso
finíssimo de flor
– uma rosa da pérsia, aberta e rubra, antiga como
todos os sais do mundo, do cheiro do almíscar açucarado
morno
e que eu pudesse sonhar com essa palavra desusada
e no entanto ainda nova,
nessas tardes de desesperança,
longuíssimas e sem quintais.
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*Cecília Figueiredo é professora de inglês, escritora e membro da Academia Ribeirão-pretana de Letras.
Tem dois livros publicados: "Paixão vírgula paixão" e "A casa da instabilidade".
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