quinta-feira, 17 de maio de 2018

ORELHA

Os Excluídos

Há muitos tipos de exclusão, e o Rafael Rodrigues, que finalmente aparece em livro, trata não dos excluídos da moda, mas daqueles que a custo sobrevivem entre nós e que não podem ser identificados. O escritor premiado e outros contos, a primeira coletânea reunida pelo autor, constitui-se de contos curtos, flashes de vidas obscuras que lançam luz sobre dramas comuns nem or isso pequenos.

O amor é o tema predominante, mas em sua negação, na impossibilidade de sua realização, e nisso pode-se descobrir a origem romântica do autor. Queira ou não, é descendente direto da primeira geração do Romantismo, sobretudo de Gonçalves Dias, passando por Álvares de Azevedo, o adolescente cujo rosto nunca foi beijado por uma virgem. Detectar sua origem é exercício de valoração do novel escritor que, utilizando temas tradicionais, cria, com seu timbre particular, uma visão inteiramente nova do assunto.

Mas há variações, como este belo apólogo lírico que é Sob os olhos da lua, cujos diálogos, além de poéticos, são de grande conteúdo humano. Portas é outro título que foge ao tema predominante. Trata-se de um conto que expressa o sufoco verdadeiramente kafkiano da personagem, e que na teoria literária contemporânea, pelo menos em algumas correntes, classifica-se como Realismo Mágico Metafísico.


Outro tema recorrente é o da fuga. As personagens, quase todas elas pertencentes ao mundo dos excluídos, pois não encontram seu lugar na sociedade, estão sempre em fuga. Mas não aquela fuga para o Paraíso, ninguém está pensando em Pasárgada. Em “O escritor”, foge-se para um espaço inexistente como lugar aprazível. É a fuga do ser, de si mesmo, do cerco social, mas a fuga para o nada.

Um dos recursos várias vezes utilizado nestes contos é a “estratégia do engodo”. Apenas como exemplos, os contos Aglomeração popular , em que o autor, de forma bastante inventiva utiliza o tema do Duplo, e Um conto jamais escrito, que vai soltando pistas falsas pelo caminho para pegar o leitor de surpresa, no final.

Em quase todos os contos as personagens sofrem verdadeiras contraturas físicas e morais em busca de sua identidade. É um tema da mais alta atualidade, desde que a aldeia ficou apenas na memória e a cidade grande engoliu as individualidades.

O Rafael Rodrigues começou, e começou muito bem.

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