quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

GRANDE SERTÃO: VEREDAS (23)

MUDANÇAS

O bando já estava a mais de um mês na Coruja. Nada de novo acontecia até...
Pág. 427 - "E se deu que chegaram lá dois homens, quando não se esperava, um deles se vendo que sendo patrão, e o outro algum vaqueiro de seu serviço. Aí logo se soube: era o dono daqueles lugares, do retiro do Valado, principalmente; e ele, conforme já disse, seô Habão se chamava."
Seô Habão, talvez por medo de tanto guerreiro armado, afirma que faz muito gosto em hospedá-los e fornecer-lhes cabeças de gado. Riobaldo não para de pensar.
Pág. 429 - "Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas."

Seô Habão informa que a bexiga do Sucruiú tinha acabado e pede informações sobre o estado da fazenda. Riobaldo, que não era de muita fala, resolve conversar com o patrão do lugar. Seô Habão monta novamente em seu bela cavalo gateado e se vai.
Pág. 433 - "Sobre assim, aí corria no meio dos nossos um conchavo de animação, fato que ao senhor retardei: devido que mesmo um contador habilidoso não ajeita de relatar as peripécias todas de uma vez."
São frequentes passagens metalinguísticas como essa.
Chegam notícias de um chefe companheiro, João Goanhá, que a muitas léguas também está perdido. Dois próprios são enviados em sua procura. A ideia de um pacto retorna com maior vigor.
Pág. 434 - "Adjaz o campo, então eu subi de lá, noitinha - hora em que capivara acorda, sai de seu escondido e vem pastar. Deus é muito c ontrariado. Deus deixou que eu fosse, em pé, por meu querer, como fui."
Ele procura o lugar adequado para um encontro.
Pág. 435 - "Ainda melhor era a capa-rosa - porque no chão bem debaixo dela é que o Careca dansa, e por isso ali fica um círculo de terra limpa, em que não cresce nem um fio de capim; e que por isso de capa-rosa-do-judeu nome toma. Não havia. A encruzilhada era pobre de qualidades dessas. Cheguei lá, a escuridão deu. Talentos de lua escondida."
Pág. 436 - "E não conheci arriação, nem cansaço.
Ele tinha que vir, se existisse. Naquela hora, existia."
Esperou muito tempo calado, decidido.
Pág. 437 - "Ao que não vinha - a lufa de um vendaval grande, com Ele em trono, contravisto, sentado de estadela bem no centro. O que eu agora queira."
Uma das frases ícones do romance:
Pág. 437 - "... o Diabo, na rua, no meio do redemunho...Ah, ri; ele não. Ah - eu, eu eu! 'Deus ou o Demo - para o jaguhnço Riobaldo!' "
Depois de chamar várias vezes o demônio, Riobaldo espera.
Pag. 438 - "Só outro silêncio. O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais.
-'Ei, Lúcifer! Satanaz, dos meus Infernos!' "
Pág. 440 - "Aí mesmo, no momento, fui escogitando: que a função do jagunço não tem seu que, nem p'ra que. assaz a gente vive, assaz alguma vez raciocina. Sonhar, só, não. O demônio é o Dos-Fins, o Austero, o Severo Mós. Apôrro!"
Num rastreamento dos epítetos usados para o diabo, descobriram-se mais de cento e cinquenta nomes diferentes.
O encontro para o pacto foi frustrado, mas quando Riobaldo volta para o bando já não é o mesmo. De quieto ensimesmado, torna-se falante, extrovertido.
Pág. 442 - "Eu tinha enjoo de toda pasmacez. Com Zé Bebelo, falei."
Riobaldo propõe ao chefe que se mande um espião para entrar no grupo de Hermógenes. Zé Bebelo acha que ninguém de seu bando tem tal competência a não ser eles dois, "Mas a gente somos garrotes remarcados."
Pág. 443 - "Daqui veio que Diadorim mesmo estranhou aqueles meus modos. A entender me deu, e eu reminiquei, com soltura de palavras: como é que ia tolerar conselho ou contradição? Agravei o branco em preto. Mas Diadorim perseverou com os olhos tão abertos sem resguardo, eu mesmo um instante no encantado daquilo - num vem-vem de amor. Amor é assim - o rato que sai dum buraquinho: é um ratazão, é um tigre leão!"
Pág. 444 - "- 'Nós dois, Riobaldo, a gente, você e eu... Por que é que separação é dever tão forte?...' Aquilo de chumbo era. Mas Diadorim pensava em amor, mas Diadorim sentia ódio. Um nome rodeante: Joca Ramiro - José Otávio Ramiro Bettancourt Marins, o Chefe, o pai dele?"
Riobaldo começa a entender? Enquanto isso, ousa opor-se ao chefe.
Pág. 445 - " - 'Sem tenção de descrédito ou ofensa, Chefe, mas duvido de que bem fizemos em restar todos aqui, comprando cura de doenças. Mais ajuizado certo não seria se ter remetido meia-dúzia de cabras, dos sãos, que tivessem ido buscar a munição nesse lugar, a Virgem-Mãe, e trazer? Munição já estava aqui, e a gente estava mais garantidos...' "
Até os cavalos estranham o comportamento de Riobaldo, que invoca Barzabú com frequência para aquietá-los. E eis que aquele seô Habão voltou montado no seu belo cavalão gateado.
Pág. - "Foi o seô Habão saltando em apeio,, e ele se empinou de dobrar os jaretes e o rabo no chão; o cabresto, solto da mão do dono, chicoteou alto no ar. - 'Barzabú!' - xinguei. E o cavalão, lão, lão, pôs pernas para adiante e o corpo para trás, como onça fêmea no cio mor. Me obedecia. Isto, juro ao senhor: é fato de verdade."
E contra qualquer espectativa, passando por cima de Zé Bebelo, seô Habão deu seu cavalo de presente para Riobaldo Tatarana.
Pág. 464 - "É de ver que, conforme em mim, nesses enquantos, eu já devia de estar fitando Zé Bebelo com um certo desprezo."

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