quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

GRANDE SERTÃO: VEREDAS (29)

O SEQUESTRO

A pressa de Riobaldo era para surpreender o Hermógenes em casa.
Pág. 524 - "Nos nove dias, atravessamos. Todos; bem, todos, tirante um. Que conto."
(...)
"O que era, no cujo interior, o Liso do Sussuarão? - era um feio mundo, de capim seco em apraz e apraz, e que se ia e ia, até não-onde a vista não se achava e se perdia. Com tudo, que tinha de tudo. Os trechos de plano calçado rijo: casco que fere faíscas - cavalo repisa em pedra azul. Depois, o frouxo, palmo de areia de cinza em-sobre pedras. E até barrancos e morretes. A gente estava encostada no sol."

Mas as preocupações com a alma não dão sossego a Riobaldo.
Pág. 526 - "O senhor sabe. O que me mortifica, de tanto nele falar, o senhor sabe. O demo! Que tanto me ajudasse, que quanto de mim ia tirar cobro? - 'Deixa, no fim me ajeito...' - que eu disse comigo. Triste engano. Do que não lembrei ou não conhecesse, que a bula dele é esta: aos poucos o senhor vai, crescendo e se esquecendo... "
(...)
"Diadorim se chegou, com uma avença. Diadorim, todo formosura.
- 'Riobaldo, escuta: vamos na estreitez deste passo...' - ele disse, e de medo não tremia, que era de amor - hoje sei.
- 'Riobaldo, o cumprir de nossa vingança vem perto... Daí, quando tudo estiver repago e refeito, um segredo, uma coisa, vou contar a você...' "
Riobaldo descobre o demônio em toda parte.
Pág. 527/528 - "Eu queria tolerar, primeiro: porque o demo não era homem para mandar em mim e me pôr em raiva. Aí, era só eu forçar calma, tenteador; depois, com palavras de energia boa, eu acautelava evitando a jerimbamba, e daí repreendia esse Treciziano, revoltoso, próprio por autoridade minha, mas sem pau nem pedra. Que dessa - chefe eu - o O não me pilhava."
(...)
"Ele era o demo, de mim diante... O Demo!... Fez uma careta, que sei que brilhava. Era o Demo, por escarnir, própria pessoa!"
(...)
"Cortei por cima do adão... Ele Outro caíu do cavalo, já veio antes do chão com os olhos duros apagados... Morreu maldito, morreu com a goela roncando na garganta!"
Pág. 529 - "Ah-oh! Aoh, mas ninguém não vê o demônio morto... O defunto, que estava ali, era mesmo o do Treciziano!
A morte dele deu certo. E era, segundo tinha de ser? E tinha de ser, por tanto que o demo não existe! As tramoias, armadilhas..."
Pág. 530 - "Que, como conto. Aquele Treciziano tinha redobrado destino de triste-fim de louco. Pois nem bem três léguas andadas, daí depois, a gente saía do Liso, como que a ponto: dávamos com uma varzeazinha e um esporão de serra; chapadas, digo. Apeei na terra cristã. Se estava no para ver esses campos crondeubais da Bahia."
E agora a verdadeira razão da Travessia:
Pág. 531 - "Ao que, por isso, não tardamos; não tivessem a primeira notícia da gente. Não se tomou nem um dia de fôlego. A trote e a chouto, vencemos uma grande noite - e demos lá, no luzir d'alva."
Era a casa do Hermógenes, mas ele não estava lá. Fizeram grandes estragos, matando uns poucos homens e animais. Por fim...
Pág. 531 - "De seguida, tochamos fogo na casa, pelos quinze cantos mortos. Armou incendião: queimou, de uma vez, como um pau de umburama branca... E de lá saímos, quando o fogo rareou, tardezinha."
Pág. 532 - "A gente traspassava de cansaços, e sobre de sono. Mas, trazia presa, já em muito nosso poder, estava a merecida, que se queria tanto - a mulher legal do Hermógenes."
(...)
"Devia de ter sido bonita, nos festejos da mocidade; ainda era."

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