segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

NOITE (11)

O MESTRE FAZ ALTOS NEGÓCIOS

O mestre apressa o motorista. Faltam poucos minutos para o compromisso marcado.

Pág. 57 - "Estavam a meia encosta da colina, à frente dum velho portão colonial de onde se tinha uma ampla vista do estuário e da cidade. (...) "O trilar dos grilos raspava a face do silêncio."

Observar a bela imagem criada com a última frase.


Pág. 58 - "- ... seja discreto. Não preciso dizer nada. Olhe e escute. Se não quiser, não olhe nem escute. Nem pense. (...) Venho aqui a negócios. Depois continuaremos o nosso passeio. Está entendido?"
(...)
"Aproximavam-se duma casa assobradada, de aspecto severo, com uma fila de seus janelas no andar superios e, no andar térreo, uma grande porta central com duas janelas de cada lado."
(...)
"... os três companaheiros entraram e foram levados para uma ampla sala ricamente iluminada pelas muitas lâmpadas do imponente lustre de pingentes de vidro que pendia do teto... (...) O que, porém, mais chamou a atenção do Desconhecido foi uma imagem do Coração de Jesus que pendia da parede, numa moldura debruada de pequenas lâmpadas azuis e amarelas. (...) ...a dona da casa murmurou um discreto 'com licença' e apagou as lâmpadas coloridas."
Pág. 59 - "- Não é para me gabar - disse ela, parada no meio da sala, com o chapéu do mestre e o do corcunda nas suas delicadas mãos de criança - mas meus clientes são gente escolhida. Só vem aqui a fina flor da sociedade."
(...)
"- Sabem? Agora mesmo tenho nos aposentos lá de cima um banqueiro, um industrial e um deputado. Ah! Mais tarde vem outro figurão... Mas façam o favor de sentar, que eu vou pendurar estes chapéus no cabide."
(...)
A mulher voltou. Caminhava na ponta dos pés e falava aos cochichos, como se tivesse doente grave em casa."
(...)
"- O nosso homem não apareceu?
- Ainda não. Ele marcou para as onze e meia, não foi? Ainda faltam cinco minutos."
Pág. 60 - "Do andar superior veio o rumor duma voz de homem, seguida do cascatear duma risada feminina.
- Não foi fácil convenceer o comendador - disse o mestre, batendo a cinza do cigarro sobre o cinzeiro. - A senhora compreende, é um cidadão casado, de responsabilidade, muito conhecido na alta roda."
(...)
"- Ah! Graças ao bom Deus, na minha casa não há perigo. Mandei até a criada embora e eu mesma estou fazendo todo o serviço. E depois o senhor sabe, sou mesmo que um túmulo. - Espalmou a mão sobre o peito. - Segredo que cai aqui é segredo morto e sepultado."
(...)
"- O outro dia esteve aqui um moço, trazido por aquele figurão que o senhor conhece... o general, se lembra?" (...) ... ele ficou aqui embaixo. Era simpático, bem falante. Conversa vai, conversa vem, eu quando vi tinha desatado a língua e respondido a todas as perguntas dele. (...) E se não fossem as amizades que tenho com esses figurões ... o deputado, o senhor sabe... - Piscou o olho. - Pois é. Se não fossem essas boas amizades, acho que a polícia dava uma batida aqui e eu tinha de fechar a casa e ainda por cima era capaz de ir parar na cadeia. "
Pág. 61 - "- Nada de mal pode acontecer a esta casa, que está sob a proteção do Coração de Jesus. Além disso a madama vai todos os domingos à missa, se confessa e toma a comunhão pelo menos uma vez por mês.
A mulherzinha remexeu-se, inquieta, na poltrona. O mestre franziu o cenho.
- Nanico, cale a boca, não diga inconveniências."
- (...) - como é que um cavalheiro como o senhor, tão educado e gentil, pode andar com um homem como esse... São coisas que não compreendo, palavra de honra.
- Ora, madama, o nanico não é mau."
Ergueu a cabeça e soltou uma alegre baforada de fumaça.
- Ah! Antes que o comendador chegue, a senhora não me podia pagar a comissão a que tenho direito?
Ela hesitou.
- E se ele não vier?
- Vem."
Pág. 62 - "Ela soltou um suspiro, ergueu-se, saiu da sala e poucos minutos depois, voltou trazendo uma cédula. Entregou-a ao mestre, que a meteu no bolso sem examiná-la.
- Esta é a parte mais desagradável do negócio - disse ele, limpando os dedos no lenço."
(...)
De repente soou uma campainha no corredor. A madama teve um sobressalto.
- Deve ser ele!"
"O Desconhecido olhava dum lado para outro, com a vaga impressão de que tudo aquilo já havia acontecido antes, e que ele não estava vendo e ouvindo aquelas pessoas, mas sim lembrando-se delas..."
"Do corredor veio a voz excitada da madama e um arrastar de passos. (...) ... passou a ponta dos dedos pelos cabelos das têmporas e sua boca se abriu num rictus que lhe pôs à mostra os dentes amarelados."

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