O INTERROGATÓRIO
A noite está começando.
Pág. 23 - "Eram exatamente nove e quarenta e cinco, segundo o relógio do corcunda, quando o amigo entrou no café."
(...)
"O corcunda não escondia seu contentamento.
- Até que enfim chegou o meu príncipe - exclamou. E, apontando para o homem de gris, disse: - Mestre, apresento-lhe um amigo."
Pág. 24 - "O rosto (...) apresentava traços regulares e de certa distinção: a testa era ampla, o nariz afilado e longo, as sobrancelhas arqueadas; um fino bigode muito bem aparado debruava-lhe o lábio superior."
Está apresentado o trio que irá percorrer as ruas da cidade.
Pág. 24 - "- De onde vem o amigo? - indagou."
(...)
"- Está bem. Se não quiser dizer, não diga. Aquele que guarda sua boca, guarda seu coração.
- Isso é da Bíblia - explicou o anão. - O meu amigo conhece as Escrituras de cabo a rabo. Parece mentira, mas ele passo0u vários anos num seminário e só não se ordenou porque... Conto?"
(...)
"-m Não se ordenou porque foi expulso. Uma verdadeira injustiça. Quem perdeu no fim das contas foi a Igreja, porque ele hoje podia ser um sacerdote de primeira ordem."
(...)
"- Você tem o dinheiro e nós temos a experiência: vamos fazer uma grande farra. Conhecemos todas as bibocas da cidade."
Pág. 25 - "De novo o corcunda e o amigo ficaram com as cabeças muito juntas, ciciando segredos e olhando sempre para o Desconhecido."
(...)
"O homem do cravo levou as pontas dos dedos à boca, para esconder um bocejo. O corcunda explicou:
- O mestre acaba de acordar. Às vezes ele troca o dia pela noite."
Pág, 26 - "O homem esguio apertou o nó da gravata e o Desconhecido viu como eram longas, bem modeladas as suas mãos, ágeis os seus dedos e bem cuidadas as suas unhas."
Pág. 27 - "- Um relógio, um belo relógio de ouro, da melhor marca..."
(...)
"- Vicro esmagado, mostrador partido, ponteiros parados... às seis e... quarenta e sete! - O mestre apertou o pulso do outro e perguntou com blandícia: - Pode me dizer exatamente que foi que aconteceu às seis e quarenta e sete?
Repetiu a pergunta uma, duas, três vezes, sem alterar a voz. O Desconhecido sacudia a cabeça negativamente.
- Não sabe? - interveio o corcunda.
- Não me lembro."
(...)
"- Você está fugindo de alguém ou de alguma coisa...
- Não me lembro."
Pág. 28 - "Num gesto brusco, o Desconhecido libertou o pulso que o anão retinha, fincou os cotovelos sobre a mesa e cobriu o rosto com ambas as mãos. Estava irremediavelmente dominado por aqueles dois homens e não via jeito de livrar-se deles."
Deve-se observar que se trata de uma novela nitidamente psicológica. Muito mais do que as ações, interessam os movimentos interiores das personagens.
Pág. 29 - "- Dê-nos então algum indício. Diga por exemplo, como se chama, onde mora... Hem?
O homem de gris continuava calado e tenso, e pela primeira vez desde que se vira extraviadfo na cidade e na noite, regozijava-se com sua incapacidade de pensar, de lembrar-se."
Pág. 30 - "O corcunda paertou-lhe o braço:
- Vamos, crápula, confesse!
- Não me lembro.
O mestre interveio:
- Calma rapazes! Nanico, já lhe disse que isso não são modos para um anfitrião."
Pág. 31 - "... num gesto furioso, agarrou o retrato que desenhara e rasgou-o em quatro pedaços, dizendo:
- Quem não é por nós é contra nós"
(...)
"Foi nesse intante que o Desconhecido voltou a cabeça e a atenção para o homem que ewstava sentado sozinho a uma das mesas próximas, e cuja presentaça ele até então só sentira dum modo nebuloso..."
Era um home todo de branco, com cara de santo, que atraía os animais com sua bondade. Sua visão animou o homem de gris.
Pág. 32 - "Por trás da criatura, num plano recuado, o homem de gris via as caras repulsivas das prostitutas e de seus machos, que pareciam todos já meio embriagados e não cessavam de soltar gargalhadas e palavrões."
Uma das características do que se convencionou chamar de Neo-realismo (a Geração de 30) é ambientar suas tramas em ambientes degradados, com personagens fragilizadas. Isso nem sempre acontece com a literatura de Erico Verissimo, que muitas vezes adquire tonalidades épicas, com heróis muitas vezes idealizados.
Pág. 32 - "... ele se sentiu tomado por uma inexplicável sensação de bem-estar e paz - a certeza de que finalmente encontrava um amigo, alguém capaz de livrá-lo do magro e do corcunda."
O trecho refere-se ao homem de branco com cara de santo.
Pág. 33 - "A prostituta de quinze anos tornou a entrar no café abraçada com um homem grisalho e triste, e ambos passaaram numa aura de pó de arroz barato. O garçom gritou para a cozinha:
- Salta um bife a cavalo com bastante cebola.,"
Pág. 34 - "O mestre ergueu-se, chamou o garçom, pagou a despesa e disse ao corcunda: 'Allons!' "
Pág. 35 - "- Será uma noite inesquecível ... - murmurou o corcunda, caminhando ao lado do seu prisioneiro. O homem do cravo esperava-os à porta, junto da qual o Desconhecido parou, voltando a cabeça para trás. O monge tornou a fazer-lhe um aceno."
A noite está começando.
Pág. 23 - "Eram exatamente nove e quarenta e cinco, segundo o relógio do corcunda, quando o amigo entrou no café."
(...)
"O corcunda não escondia seu contentamento.
- Até que enfim chegou o meu príncipe - exclamou. E, apontando para o homem de gris, disse: - Mestre, apresento-lhe um amigo."
Pág. 24 - "O rosto (...) apresentava traços regulares e de certa distinção: a testa era ampla, o nariz afilado e longo, as sobrancelhas arqueadas; um fino bigode muito bem aparado debruava-lhe o lábio superior."
Está apresentado o trio que irá percorrer as ruas da cidade.
Pág. 24 - "- De onde vem o amigo? - indagou."
(...)
"- Está bem. Se não quiser dizer, não diga. Aquele que guarda sua boca, guarda seu coração.
- Isso é da Bíblia - explicou o anão. - O meu amigo conhece as Escrituras de cabo a rabo. Parece mentira, mas ele passo0u vários anos num seminário e só não se ordenou porque... Conto?"
(...)
"-m Não se ordenou porque foi expulso. Uma verdadeira injustiça. Quem perdeu no fim das contas foi a Igreja, porque ele hoje podia ser um sacerdote de primeira ordem."
(...)
"- Você tem o dinheiro e nós temos a experiência: vamos fazer uma grande farra. Conhecemos todas as bibocas da cidade."
Pág. 25 - "De novo o corcunda e o amigo ficaram com as cabeças muito juntas, ciciando segredos e olhando sempre para o Desconhecido."
(...)
"O homem do cravo levou as pontas dos dedos à boca, para esconder um bocejo. O corcunda explicou:
- O mestre acaba de acordar. Às vezes ele troca o dia pela noite."
Pág, 26 - "O homem esguio apertou o nó da gravata e o Desconhecido viu como eram longas, bem modeladas as suas mãos, ágeis os seus dedos e bem cuidadas as suas unhas."
Pág. 27 - "- Um relógio, um belo relógio de ouro, da melhor marca..."
(...)
"- Vicro esmagado, mostrador partido, ponteiros parados... às seis e... quarenta e sete! - O mestre apertou o pulso do outro e perguntou com blandícia: - Pode me dizer exatamente que foi que aconteceu às seis e quarenta e sete?
Repetiu a pergunta uma, duas, três vezes, sem alterar a voz. O Desconhecido sacudia a cabeça negativamente.
- Não sabe? - interveio o corcunda.
- Não me lembro."
(...)
"- Você está fugindo de alguém ou de alguma coisa...
- Não me lembro."
Pág. 28 - "Num gesto brusco, o Desconhecido libertou o pulso que o anão retinha, fincou os cotovelos sobre a mesa e cobriu o rosto com ambas as mãos. Estava irremediavelmente dominado por aqueles dois homens e não via jeito de livrar-se deles."
Deve-se observar que se trata de uma novela nitidamente psicológica. Muito mais do que as ações, interessam os movimentos interiores das personagens.
Pág. 29 - "- Dê-nos então algum indício. Diga por exemplo, como se chama, onde mora... Hem?
O homem de gris continuava calado e tenso, e pela primeira vez desde que se vira extraviadfo na cidade e na noite, regozijava-se com sua incapacidade de pensar, de lembrar-se."
Pág. 30 - "O corcunda paertou-lhe o braço:
- Vamos, crápula, confesse!
- Não me lembro.
O mestre interveio:
- Calma rapazes! Nanico, já lhe disse que isso não são modos para um anfitrião."
Pág. 31 - "... num gesto furioso, agarrou o retrato que desenhara e rasgou-o em quatro pedaços, dizendo:
- Quem não é por nós é contra nós"
(...)
"Foi nesse intante que o Desconhecido voltou a cabeça e a atenção para o homem que ewstava sentado sozinho a uma das mesas próximas, e cuja presentaça ele até então só sentira dum modo nebuloso..."
Era um home todo de branco, com cara de santo, que atraía os animais com sua bondade. Sua visão animou o homem de gris.
Pág. 32 - "Por trás da criatura, num plano recuado, o homem de gris via as caras repulsivas das prostitutas e de seus machos, que pareciam todos já meio embriagados e não cessavam de soltar gargalhadas e palavrões."
Uma das características do que se convencionou chamar de Neo-realismo (a Geração de 30) é ambientar suas tramas em ambientes degradados, com personagens fragilizadas. Isso nem sempre acontece com a literatura de Erico Verissimo, que muitas vezes adquire tonalidades épicas, com heróis muitas vezes idealizados.
Pág. 32 - "... ele se sentiu tomado por uma inexplicável sensação de bem-estar e paz - a certeza de que finalmente encontrava um amigo, alguém capaz de livrá-lo do magro e do corcunda."
O trecho refere-se ao homem de branco com cara de santo.
Pág. 33 - "A prostituta de quinze anos tornou a entrar no café abraçada com um homem grisalho e triste, e ambos passaaram numa aura de pó de arroz barato. O garçom gritou para a cozinha:
- Salta um bife a cavalo com bastante cebola.,"
Pág. 34 - "O mestre ergueu-se, chamou o garçom, pagou a despesa e disse ao corcunda: 'Allons!' "
Pág. 35 - "- Será uma noite inesquecível ... - murmurou o corcunda, caminhando ao lado do seu prisioneiro. O homem do cravo esperava-os à porta, junto da qual o Desconhecido parou, voltando a cabeça para trás. O monge tornou a fazer-lhe um aceno."
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