segunda-feira, 19 de março de 2012

SITE DIVIRTA-SE TRAZ MATÉRIA SOBRE MENALTON


Dentro da alma encardida
Nova edição de À sombra do cipreste, de Menalton Braff, redescobre a voz de um dos principais nomes da literatura brasileira contemporânea
André Di Bernardi Batista Mendes - Estado de Minas

Clique aqui para acessar a publicação original. 
Em 2000, o escritor Menalton Braff ganhou o Prêmio Jabuti. Depois de sumir das prateleiras por pouco mais de cinco anos, À sombra do cipreste, obra que revelou o autor gaúcho, volta às prateleiras pela Global Editora. Moacyr Scliar não erra ao dizer, na orelha da edição: “Não tenham dúvida os leitores: estamos diante de um notável contista. (…) O que temos aqui é o conto em sua melhor expressão”. Chama a atenção a intensidade dramática de cada texto, o poder de síntese desse autor que elege o comum, o dia a dia, os segredos e os dilemas de pessoas ordinariamente especiais.

Menalton tem, ou descobriu, um jeito específico de olhar a vida. Fala de rituais, daqueles que se cumprem com a chegada da morte ou crescem da rotina de adultos e crianças. Dores essencialmente humanas. “Todos sabem, mas quando seca o coração e há flores murchas no vaso ao redor da mesa, os olhos não vertem mais lágrimas”, escreve.

Menalton inventa contos que vão “anoitando” aos poucos – certeiros, justos, sem a exuberância do mais, sem a precariedade do menos. Não são contos, são relâmpagos. Só o necessário para fazer pensar. Histórias de Jandira, de Gaspar, de Ana e João Pedro, Cacilda e Rodolfo. Surgem personagens que transitam pela vida, prisioneiros da imobilidade permanente. O que antes era estranho, apenas dormia, de repente se transforma, cresce pelo dia afora, um sol intenso.

Todo bom escritor é assim: sem critérios, mas com júbilo e alegria. Com bons olhos mira ao redor e apenas vê para imaginar vida e movimento. O escritor cumpre o prometido ao descobrir para os outros. Esse gaúcho não deixa também de demonstrar respeito e admiração pelas mulheres. Não à toa, várias citações, de Lygia Fagundes Telles a Clarice Lispector, amparam e tentam, de certa forma, ordenar a essência dos textos.

Braff recria intensidades de encontros possíveis que não se realizam, da crispação que devora e incendeia a vida comum, enigma cheio de descomunhão e glória. Em todos os contos de À sombra do cipreste surgem fagulhas, desvendamentos. O autor arrasta o seu barco para “a superfície do acontecer”, respeita o mistério que, ladino, sobe e desce dos acontecimentos. Ele sabe do mistério que mora em cada alma encardida, nas cinzas. No peito de cada personagem mora um vulcão, ou uma árvore.

Menalton descobre pontas de icebergs. Apesar de tudo, existe o horizonte, “este espaço das aventuras”. Sim, Braff não resiste e conta o segredo da esfinge: “Todas as estátuas são feitas do mesmo barro.” Com um tanto de poesia e autoridade, escreve sobre as sombras do tal cipreste antigo, “erguido para as nuvens”, fala de crianças que apenas brincam de ser crianças. Do singelo ele ensina, enxerga e sente – vivencia com seu estilo próprio, com suas palavras, as rotinas que o silêncio sugere. Menalton quase chega ao muito da essência humana, “esse caldo grosso e corrosivo, quase nunca inocente”.

Em quase todos os contos, surge sorrateiro, como quem não quer nada, como quem se impõe, o silêncio, palavra constante que se repete. O silêncio muda e auxilia. Abaixo, sobre e principalmente dentro das sombras, das sobras das coisas, dos descuidos. Não há aflição, Menalton não se ilude julgando isso ou aquilo.

No cotidiano, as pessoas são iguais em tudo, na pressa, no preço, na defesa e muito mais no ataque. Os contos de À sombra do cipreste revelam, jogam luz sobre o que existe no sótão, revelando bocados de um sol que insiste, que entra pela janela.

No vizinho, no próximo, no muito perto está o vespeiro ativo, fogo estranho que queima no cerne do plácido dia a dia. No cotidiano, a carne é fraca. Transparece fácil. Por isso deve ser tão difícil contar. Sem maiores alardes, Menalton parece chegar a um tipo de constatação angustiante, que gera progressiva (corrosiva) apreensão: “Não há nada fora de lugar, todos os papéis cumprem-se rigorosamente.”

Pouso do Sossego Outro lançamento que merece atenção é Tapete de silêncio, o 18º livro de Menalton Braff. Ele conta a história de uma pequena e bucólica cidade, Pouso do Sossego, que esconde fatos escabrosos dificilmente revelados a pessoas que não sejam da estrita confiança dos donos do poder.

O que fariam dez homens reunidos no coreto da praça da matriz numa noite chuvosa? O escritor desenvolve sua narrativa em dois planos: o primeiro dura uma noite e é contado em primeira pessoa por Osório, comerciante cujo olhar conduz o leitor ao longo de trágicas horas. No segundo momento, a narrativa é desenvolvida em terceira pessoa por meio de flashbacks que retomam acontecimentos do passado. Menalton fala de poderes: poder econômico, político, poder moral. Os homens dessa história têm dever a cumprir: manter a ordem, a honra do lugar onde vivem.

À SOMBRA DO CIPRESTE
- De Menalton Braff
- Global Editora
- 112 páginas
- R$ 25
TAPETE DE SILÊNCIO
- De Menalton Braff
- Global Editora
- 128 páginas
- R$ 25 

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