Págs. 45 e 46 - "Nos séculos posteriores, desde a Idade Média até ao romantismo, tal concepção (
a linguagem literária como desvio em relação à linguagem usual) manifestou-se com frequência e, por vezes, com muito vigor na retórica, na poética e na prática literária europeias. Para utilizarmos a terminologia latina tão frequente até o século XVIII, diremos que a
uerborum exornatio, as
uerba peregrina, as
uerba ficta, as
uerba uetera, os
tropi, as
figurae elocutionis foram outros tantos instrumentos de que os escritores, em geral, lançaram mão para provocar o 'estranhamento' da linguagem usual.Nalguns períodos históricos e nalgumas correntes literárias - mencionemos, por exemplo, o
trobar clus e o
trobar ric dos trovadores provençais, o maneirismo e o barroco -, intensificou-se e refinou-se esse 'estranhamento', ao passo que noutros períodos e noutras correntes literárias - citemos o classicismo renascentista italiano e o classicismo francês -, em que predominam ideais de equilíbrio estético e de sóbria elegância estilística, se verifica o seu atenuamento.
E em todos os períodos se verifica também uma variação desse 'estranhamento' em função dos géneros literários cultivados, pois que a um
genus humile como a égloga, por exemplo, cabe um estilo com parcos ornatos, enquanto a um
genus sublime como a tragédia e a epopeia se exige um estilo rico em ornatos. Em todos os exemplos mencionados, porém, o que ocorre é sempre uma gradação - nuns casos, de carácter diacrónico; noutros, de teor sincrónico-estrutual - do 'estranhamento', mas nunca a sua rejeição ou a sua desvalorização radical."
(CONTINUA)
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