
Síndrome da Competição
O
homem, que sobreviveu a todos os cataclismos que em milênios se abateram sobre
nosso pequenino e azul planeta, sobreviveu ao ataque furioso de todas as feras
para as quais sua mesquinha carne seria o alimento salvador; o homem superou
secas inclementes e dilúvios devastadores; o homem conseguiu tais façanhas
porque era um ser social. Do grupo lhe vinham as forças para resistir. E a vida
em sociedade, nascida antes de sua fraqueza e da necessidade de sobrevivência
do que de uma deliberação, só foi possível graças a um sentimento hoje escasso
no mercado: o espírito de solidariedade.
Paul
Swezzi, pensador norte-americano, em seu livro Capitalismo monopolista (Ed.
Zahar, 1964 – 2º edição), no décimo nono capítulo, afirma que o capitalismo,
desde seu nascimento, vem-se entranhando na própria carne do ser humano, a
ponto de transformar tudo (inclusive sua vida afetiva) em valor de troca. E ao
transformar assim o ser humano, incute-lhe uma outra necessidade: a eficiência
como condição para a vitória.
Todos os meios de transmissão de conhecimento e valores são mobilizados para a defesa da idéia de que o homem vale na proporção do sucesso que obtenha. Somos medidos invariavelmente pelo número de derrotas que impomos a nossos adversários. Sim, porque aquela velha expressão “nossos semelhantes” já está há algum tempo fora de moda.
E
se o mundo e sua infeliz humanidade são divididos entre vencidos e vencedores,
então que vençamos. Esse é o pensamento dominante. E é assim que entramos em
estado permanente de campeonato. Minha cidade tem um edifício de dez andares, e
a sua não tem. Nós temos três shoppings, e vocês só têm um. Então não se para
mais de concorrer. Existem campeonatos de edifícios altos e campeonatos de
número de shoppings. Tudo é competição.
Na
sociedade da competição, ninguém mais fala em ser bom; é necessário ser o
melhor. E isso, mesmo que o melhor seja de baixa, baixíssima qualidade. Estar
por cima, ser o primeiro, eis o que interessa.
Nesse
tipo de sociedade, a criança ainda tem algum valor, que é o investimento de
risco. Ela é vista como o produtor e consumidor do futuro. Para isso é preciso
prepará-la, ou seja, para que seja eficiente produtor e ótimo consumidor. Os
velhos, bem, que fazer com esses trastes que não produzem mais nada e só
consomem remédio?
É
com apreensão que se volta nosso olhar para o futuro. Se a sociedade humana
sobreviveu graças ao espírito de solidariedade, extinto esse, pode-se ter muita
esperança quanto ao futuro? Se vivemos
no meio de adversários, que precisamos eliminar para vencer, vamos conquistar
um mundo deserto.
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