Acesse a publicação original
Desde que o esporte deixou de ser uma questão de saúde,
qualidade de vida, para tornar-se uma questão econômica com altíssimos
faturamentos, temos assistido a cenas lamentáveis, para não dizer grotescas.
Desde que o esporte deixou de ser uma questão de saúde,
qualidade de vida, para tornar-se uma questão econômica com altíssimos
faturamentos, temos assistido a cenas lamentáveis, para não dizer grotescas.
A pressão que a mídia exerce sobre os atletas exigindo-lhes
resultados é simplesmente monstruosa. E pior. Os órgãos da imprensa conseguem
contaminar o público em geral com seu vírus. As pessoas acabam acreditando que
um atleta tem o dever da vitória, numa transferência ridícula dos êxitos
alheios para suprir as frustrações próprias.
Ora, um atleta tem o dever de fazer o melhor que humanamente
conseguir. Sem o que muitas vezes ocorre, com a agressão e a violência ao
corpo, como se esse fosse apenas uma máquina que se repõe com facilidade.
É lastimável o nível da maioria dos jornalistas postos a
campo a fim de realizar o desiderato dos investidores e exploradores do
esporte. São geralmente ingênuos, sem a menor noção do papel que desempenham,
mas que desempenham muitas vezes burlescamente. Acredito até que alguns
conheçam a modalidade que se botam a comentar. As emissoras e os jornais,
altamente patrocinados, contratam alguns especialistas que deverão impressionar
o respeitável público. Os demais, que se pode chamar de generalistas, esses são
dignos de pena.
Conhecer a modalidade que comentam, podem conhecer. Alguns,
pelo menos. Mas de ser humano, do verdadeiro sentido do esporte, não entendem
um mínimo para evitar uma das cenas monstruosas a que se assistiu nestas
Olimpíadas 2012. Não interessa saber a que empresa pertence nem o nome do
infeliz. E isso porque não houve grande variação nas transmissões, nos
comentários e nas reportagens.
Uma jovem brasileira acabava de ficar em terceiro lugar, ou
seja, estava desclassificada para disputar a final dos cem metros rasos
femininos. Ora, a própria mídia, durante muito tempo alimentou as ilusões da
moça, pressionando para que mostrasse resultado, para que honrasse o
investimento que alguém havia feito em seu sucesso.
A moça em causa subiu a rampa na direção da sala onde
deveria juntar seus pertences, e o fez com as lágrimas riscando seu rosto. A
derrota nunca é causa de regozijo. O público em volta observava provavelmente
condoído com a tristeza daquela moça vestida de verde e amarelo, representante
de um remoto país da América do Sul, aquele triângulo imenso coberto de
florestas e índios.
O jornalista não perdeu a oportunidade. O câmera focou o
rosto da infeliz criatura, e o repórter, microfone em punho, fez de tudo para
interromper seu choro. Perguntas não só tolas, algumas até ofensivas. Mas é
claro que ele não percebeu o que estava fazendo. No esporte, como na economia,
não existe tristeza, este sentimento inferior observado em alguns seres
humanos.
Pois não é que o repórter pediu à moça que se conservasse a
seu lado observando uma outra fase da competição? No meu tempo de jovem a gente
chamava isso de crueldade. Hoje me parece que ninguém mais sabe o que seja
isso, tão banalizados vão os atos desumanos.
Quando a câmera cortou o plano maior, onde outras moças
estiveram correndo, e fechou sobre o rosto da indigitada atleta, o repórter
disse entre sorrisos que seu canal estava na casa de parentes da jovem, se ela
gostaria de enviar alguma mensagem. Meu deus do céu, se isso não é grosseria,
não sei mais o que seja.
A atleta, fungando ainda, muito simplesmente virou as costas
e desapareceu no túnel de saída.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças