E prosseguimos acompanhando as reflexões de Vítor Manuel a respeito da literatura.
Págs. 49, 50 e 51 - "... das diversas análises que Jakobson consagrou à função estética (...) da linguagem verbal, durante os anos de desenvolvimento do formalismo russo (...), conclui-se que, em seu entender, nos textos em que aquela função actua como dominante as estruturas verbais adquirem valor autónomo, orientando-se os sinais linguísticos para si mesmos, para 'a sua forma externa e interna', e não para uma realidade extralinguística - orientação própria da função referencial - ou para a subjetividade do autor - orientação própria da
função expressiva. Quer dizer, Jacobson considera indissociáveis a função estética (...) da linguagem e a natureza autotélica do texto poético.
Esta conceituãção jakobsoniana da função estética da linguagem revela-se consonante em grande medida, mas não inteiramente, com a caracterização da arte, em geral, e da poesia, em particular, proposta por Sklovskij no seu ensaio 'A arte como procedimento'. Segundo Sklovskij, que lembra a doutrina aristotélica, já por nós mencionada, de acordo com a qual a linguagem poética deve ter um 'carácter estranho e surpreendente', o discurso poético distingue-se do discurso prosástico - para Sklovskij, neste contexto, 'prosa' contrapõe-se a 'literatura', designando a comunicação linguística quotidiana - pelo facto de ter sido sujeito a um 'procedimento de entranhamento' ou 'desfamiliarização' (priëm ostranenija) ou mesmo a um procedimento de 'deformação' (...), que tornam perceptível em si mesma a sua construção verbal, libertando-a da tendência para a automatização, para a economia de meios, para a rotina, enfim, que domina o discurso prosástico. Em virtude desse 'procedimento de desfamiliarização' a que são submetidos os seus constituintes fonéticos e lexicais, a sua ordenação das palavras e as suas construções semânticas, o texto poético solicita que a percepção do leitor se fixe nele mesmo, com o máximo de força e duração. Todavia, a fixação da percepção do leitor no texto poético não se esgota em si mesma, numa autotelicidade pura, pois que a sua finalidade última a transcende, consistindo numa visão nova, em ruptura com a habituação percepcional imposta pela experiência vital do dia a dia, do mundo e da vida: 'E eis que para dar a sensação da vida, para sentir os objectos, para ter a experiência que a pedra é de pedra, existe o que se chama arte. A finalidade da arte reside em dar uma sensação do objecto como visão e não como reconhecimento; o procedimento da arte é o procedimento de singularização dos objectos e o procedimento que consiste em obscurecer a forma, em aumentar a dificuldade e a duração da percepção'. Enquanto Jakobson hipostasia a autonomia dos sinais verbais do texto ´poético, conexionando directamente a autonomização da palavra poética com seu esvaziamento referencial, Sklovskij valoriza os artifícios técnico-formais e semânticos do texto poético em estreita corelação com uma finalidade cognoscitiva que atribui ao mesmo texto poético (grifo nosso)."
(CONTINUA)
Págs. 49, 50 e 51 - "... das diversas análises que Jakobson consagrou à função estética (...) da linguagem verbal, durante os anos de desenvolvimento do formalismo russo (...), conclui-se que, em seu entender, nos textos em que aquela função actua como dominante as estruturas verbais adquirem valor autónomo, orientando-se os sinais linguísticos para si mesmos, para 'a sua forma externa e interna', e não para uma realidade extralinguística - orientação própria da função referencial - ou para a subjetividade do autor - orientação própria da
função expressiva. Quer dizer, Jacobson considera indissociáveis a função estética (...) da linguagem e a natureza autotélica do texto poético.
Esta conceituãção jakobsoniana da função estética da linguagem revela-se consonante em grande medida, mas não inteiramente, com a caracterização da arte, em geral, e da poesia, em particular, proposta por Sklovskij no seu ensaio 'A arte como procedimento'. Segundo Sklovskij, que lembra a doutrina aristotélica, já por nós mencionada, de acordo com a qual a linguagem poética deve ter um 'carácter estranho e surpreendente', o discurso poético distingue-se do discurso prosástico - para Sklovskij, neste contexto, 'prosa' contrapõe-se a 'literatura', designando a comunicação linguística quotidiana - pelo facto de ter sido sujeito a um 'procedimento de entranhamento' ou 'desfamiliarização' (priëm ostranenija) ou mesmo a um procedimento de 'deformação' (...), que tornam perceptível em si mesma a sua construção verbal, libertando-a da tendência para a automatização, para a economia de meios, para a rotina, enfim, que domina o discurso prosástico. Em virtude desse 'procedimento de desfamiliarização' a que são submetidos os seus constituintes fonéticos e lexicais, a sua ordenação das palavras e as suas construções semânticas, o texto poético solicita que a percepção do leitor se fixe nele mesmo, com o máximo de força e duração. Todavia, a fixação da percepção do leitor no texto poético não se esgota em si mesma, numa autotelicidade pura, pois que a sua finalidade última a transcende, consistindo numa visão nova, em ruptura com a habituação percepcional imposta pela experiência vital do dia a dia, do mundo e da vida: 'E eis que para dar a sensação da vida, para sentir os objectos, para ter a experiência que a pedra é de pedra, existe o que se chama arte. A finalidade da arte reside em dar uma sensação do objecto como visão e não como reconhecimento; o procedimento da arte é o procedimento de singularização dos objectos e o procedimento que consiste em obscurecer a forma, em aumentar a dificuldade e a duração da percepção'. Enquanto Jakobson hipostasia a autonomia dos sinais verbais do texto ´poético, conexionando directamente a autonomização da palavra poética com seu esvaziamento referencial, Sklovskij valoriza os artifícios técnico-formais e semânticos do texto poético em estreita corelação com uma finalidade cognoscitiva que atribui ao mesmo texto poético (grifo nosso)."
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