Plantador
de violetas
Houve
um tempo em que minha paixão eram as violetas. Como muitas outras paixões,
antes e depois dessa, minha paixão pelas violetas foi-se enredando em
dificuldades até esmorecer e se acabar, pois assim, em geral, acabam as
paixões. Cheguei a ter vinte pequenos vasos, todos eles cheios até a boca de
material cuidadosamente preparado segundo todos os manuais disponíveis. Alguns
dias depois de mergulhadas as folhas naquele material, não me lembro quantos,
surgiam as folhinhas. Muito verdes, tenras, rechonchudas como bebês
recém-nascidos.
Não
falhava um só de todos aqueles vasos. Todos os dias voltava à minha plantação
devidamente paramentado. Calçava umas botinas de mexer na terra, vestia uma
blusa de brim e uma calça velha, botava na cabeça um chapéu de palha. Não
importava que os vasos estivessem dentro de casa, protegidos contra o excesso
de luz. Fazia parte do ritual, e eu era um jardineiro, ora. Todos os dias ia lá
pingar algumas gotas de água por cima do pó de xaxim, tendo o cuidado de não
molhar as folhinhas. E elas eram lindas, naquela inocência de quem está
acabando de chegar ao mundo. Elas sorriam para mim, seu parteiro, um sorriso de
agradecimento.
Depois
de algum tempo, retirava a folha velha, já morta, e no vaso permanecia apenas o
pequeno pé de violeta, agora devidamente desmamado. Pareciam crescer saudáveis,
aquelas jovens bem nutridas, e eu acompanhava cheio de atenção aquele
crescimento.
Chegava
um dia (ainda segundo os manuais) que as plantas deveriam aproximar-se de uma
janela, pois estavam necessitando de mais luz. E com que prazer o aprendiz de
jardineiro ia colocando os vasos, um depois do outro, na soleira de janela, que
uma tábua tornava maior para que coubessem todas as minhas violetas.
Ah,
sim, depois das primeiras tentativas, aprendi que tanto mata a falta de água
como seu excesso. As violetas, na verdade, dão belas lições de vida. E eu,
aluno aplicado, botava água nos vasos com conta-gotas.
Elas
atravessavam o ano belas, bem viçosas, senhoras de um verde deslumbrante. E as
estações, ao sucederem-se, aumentavam minha ansiedade. Por que não floriam?
Nenhuma delas floria, nem como prêmio de consolação. Não sei por quê, nunca
descobri, mas minhas violetas nasciam estéreis.
Foi
com elas que também aprendi a não alimentar muitas esperanças nem ter muita
confiança, mesmo na natureza.
Hoje
não planto mais nada, mas pelo menos não preciso usar chapéu de palha.
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