quarta-feira, 7 de novembro de 2012

QUESTÕES DE ESTÉTICA DA LITERATURA (35)


      
Roland Barthes

Louis Hjelmslev
Continuamos transcrevendo capítulos parciais e/ou integrais do livro Teoria da Literatura, de Vítor Manuel de Aguiar e Silva.
Págs. 81 a 85

"2.7. O sistema semiótico literário como uma semiótica conotativa


O primeiro contributo relevante para a construção de uma teoria dotada da capacidade de descrever e explicar o sistema semiótico da literatura encontra-se nos Prolegómenos a uma teoria da linguagem de Hjelmslev. No pensamento do grande linguista dinamarquês, os conceitos de sistema, de processo e da sua interacção possuem um carácter universal e por isso, ao analisar a linguagem 'natural', Hjelmslev foi conduzido a incluir no âmbito da sua teoria linguística aspectos fundamentais da ciência literária, da filosofia das ciências e da lógica formal, afigurando-se-lhe frutuoso e necessário um enfocamento interdisciplinar que possibilite que ciências como a história, a ciência literária, a logística, a matemática, etc., possam contribuir 'in its own way to the general science of semiotics by investigating to what extent and in what manner its objects may be submitted to an analisys that is in agreement with the requirements of linguistic theory.'

Sob o ponto de vista do seu potencial aproveitamento e desenvolvimento no domínio da estética, em geral, e da teoria da literatura, em particular, assume a maior importância a distinção estabelecida por Hjelmslev, no parágrafo 22 dos Prolegómenos a uma teoria da linguagem, entre semióticas denotativas, semióticas conotativas e metassemióticas. Por semiótica, entende Hjelmslev uma 'hierarchy, any of whose components admits of a further analisys into clases defined by mutual relation, so that any of these classes admits of an analisys into derivates defined by mutual mutation,' ou, numa reformulação mais simples que não atraiçoa esta definição, um objecto em que é possível distinguir dois 'planos' - o da expressão e o do conteúdo - , por sua vez constituídos por quatro 'estratos' - a substância da expressão, a forma da expressão, a forma do conteúdo e a substância do conteúdo. Existem semióticas, como as línguas naturais, por exemplo, cujos planos não constituem, em si mesmos, uma semiótica. São semióticas denotativas. Outras semióticas existem, todavia, em que o plano da expressão é já uma semiótica. São semióticas conotativas. Existem ainda outras semióticas cujo plano de conteúdo constitui em si mesmo uma semiótica. São as metassemióticas.

Por conseguinte, uma semiótica conotativa é uma semiótica cujo plano da expressão é constituído pelos planos do conteúdo e da expressão de uma semiótica denotativa. A relação existente entre uma semiótica denotativa e uma semiótica conotativa pode ser representada por um esquema como o seguinte:

            PLANO CONOTATIVO DAA EXPRESSÃO - PLANO CONOTATIVO DO CONTEÚDO
PLANO DENOTATIVO DA EXPRESSÃO - PLANO DENOTATIVO DO CONTEÚDO

Ou utilizando um diagrama mais simples, mas menos rigoroso:

                        EXPRESSÃO                     /             CONTEÚDO
       EXPRESSÃO    /      CONTEÚDO

..........................................................................................................................................................

(...) Posteriormente, sobretudo após a publicação dos Éléments de sémiologie (1964) de Roland Barthes, diversos autores, invocando Hjelmslev, começaram a definir e a caracterizar a 'linguagem literária' como uma semiótica conotativa, visto que o seu plano de expressão é constituído por uma semiótica denotativa (uma língua natural).

(CONTINUA)

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