domingo, 10 de fevereiro de 2013

OS SUSTOS DE GALINDA

   Dona Galinda com febre

O sol nem tinha nascido e o galo, no poleiro, cantou mais três vezes. A maioria das galinhas e dos frangotes não esperou outro sinal e, num salto de asas abertas, já estavam fora do galinheiro, olhando para os lados, tentando ver o dia que o galo vinha anunciando.

Num canto, encolhida lá no alto, perto do telheiro, Galinda apertava e afrouxava as pálpebras que teimavam em se manter fechadas. Ela abriu o bico, espirrou, enfiou a cabeça debaixo da asa e descobriu que estava com febre. Já tinha ouvido falar naquilo, mas sentir pela primeira vez é sempre motivo de preocupação: uma surpresa.




Um pouco desengonçada, ela desceu com um pulo curto, crente de que estava com dor de garganta: uma voz diferente. Chegou perto da Dona Carijó e contou o que estava sentindo. Em poucos minutos o terreiro todo sabia que Galinda estava choca. Maior respeito quando ela passou com as penas arrepiadas, procurando água e comida. Precisava tomar logo seu lugar no ninho. De acordo com Dona Carijó, já estava na hora.

Sem muito tato e meio distraído, seu Cucurucu se aproximou de Galinda e bateu com a asa direita no pé, cheio de pose. Galinda arrepiou suas penas, e da garganta lhe saiu um som rouco, irritado, que o galo conhecia muito bem. Por isso deixou-a comendo em paz.

Seu ninho não era grande coisa: umas palhas ralas dentro de um caixote no puxado ao lado do galinheiro: a galeria dos ninhos. Galinda conferiu os ovos e estranhou que houvesse dez, em lugar dos oito que se lembrava de haver botado. Mas não desconfiou de nada, achou que fosse engano de sua cabeça de galinha: muito fraca em matemática. Tampouco desconfiou de dois deles, um tanto maiores que os outros. Enfiou os pés pelos vãos entre os ovos, abaixou-se devagar até aninhar-se com as asas levemente abertas para cobrir toda sua ninhada.
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Trecho extraído do primeiro capítulo de Galinda, uma história infantil ainda inédita.  

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