Dona Galinda com febre
O sol nem tinha nascido
e o galo, no poleiro, cantou mais três vezes. A maioria das galinhas e dos
frangotes não esperou outro sinal e, num salto de asas abertas, já estavam fora
do galinheiro, olhando para os lados, tentando ver o dia que o galo vinha
anunciando.
Num canto, encolhida lá
no alto, perto do telheiro, Galinda apertava e afrouxava as pálpebras que
teimavam em se manter fechadas. Ela abriu o bico, espirrou, enfiou a cabeça
debaixo da asa e descobriu que estava com febre. Já tinha ouvido falar naquilo,
mas sentir pela primeira vez é sempre motivo de preocupação: uma surpresa.
Um pouco desengonçada,
ela desceu com um pulo curto, crente de que estava com dor de garganta: uma voz
diferente. Chegou perto da Dona Carijó e contou o que estava sentindo. Em
poucos minutos o terreiro todo sabia que Galinda estava choca. Maior respeito
quando ela passou com as penas arrepiadas, procurando água e comida. Precisava
tomar logo seu lugar no ninho. De acordo com Dona Carijó, já estava na hora.
Sem muito tato e meio
distraído, seu Cucurucu se aproximou de Galinda e bateu com a asa direita no
pé, cheio de pose. Galinda arrepiou suas penas, e da garganta lhe saiu um som
rouco, irritado, que o galo conhecia muito bem. Por isso deixou-a comendo em
paz.
Seu ninho não era
grande coisa: umas palhas ralas dentro de um caixote no puxado ao lado do
galinheiro: a galeria dos ninhos. Galinda conferiu os ovos e estranhou que
houvesse dez, em lugar dos oito que se lembrava de haver botado. Mas não
desconfiou de nada, achou que fosse engano de sua cabeça de galinha: muito
fraca em matemática. Tampouco desconfiou de dois deles, um tanto maiores que os
outros. Enfiou os pés pelos vãos entre os ovos, abaixou-se devagar até
aninhar-se com as asas levemente abertas para cobrir toda sua ninhada.
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Trecho extraído do primeiro capítulo de Galinda, uma história infantil ainda inédita.
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