O texto abaixo é o segundo capítulo do livro infantil Mirinda,
publicado pela Editora Moderna, em 2010. As imagens são da Semíramis Paterno.
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Mal ergueu a cabeça acima da boca de entrada do formigueiro,
publicado pela Editora Moderna, em 2010. As imagens são da Semíramis Paterno.
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Mirinda quer saber tudo
Mirinda
avistou pelas costas um homem imenso, que se
afastava com seus passos de
trovão.
- Então aquilo lá que é um homem? - Mirinda perguntou inutilmente, pois
todas ali eram de sua idade.
*
Os olhos de Mirinda eram diferentes dos outros olhos porque o brilho de
suas pequenas lentes vinha de seu interior. Eram uns olhos que viam muito e
queriam explicação para tudo. Ela era muito curiosa e, obtivesse resposta ou
não, fazia perguntas da hora em que acordava até o formigueiro todo cair no
mais profundo silêncio.
Quando pouco passava de uma pupa branquela, ela viu a chuva e quis saber
como se consegue manter tanta água lá no alto e por que aquele rio se
transformava em gotas. Consultou algumas das colegas consideradas muito
espertas e de nada adiantou. Elas também não sabiam. Depois de consultar os
mais sábios dos mais velhos, com o mesmo resultado, Mirinda foi até a Rainha,
pois não se conformava com a falta de conhecimento. Sua Alteza a Rainha parecia
muito ocupada, mesmo assim se aproximou.
- A senhora, dona Rainha, é minha última esperança.
- Diga, minha filha.
- A senhora pode me dizer como é que um rio fica voando no alto e depois
se transforma em gotas e cai na terra?
A Rainha fez primeiro cara de quem está refletindo, em seguida enrugou a
testa e arregalou uns olhos de zanga.
- Mas então a menina não vê que estou muito ocupada botando os ovos do
dia? Agora não tenho tempo para futilidades. Volte outra hora.
Decepcionada, Mirinda virou-se e tratou de subir para o campo, onde
encontraria suas colegas, que brincavam de carregar pedaços de folha lá em
cima, fora do formigueiro. Sentou-se numa folha morta de capim e ficou
apreciando o jogo.
As formigas, tanto adultas quanto jovens, sentiam-se embaraçadas com as
perguntas de Mirinda e algumas chegavam a pensar que se tratava de um caso de
doença.
Algum tempo depois, com o mistério da chuva ainda sem solução, Mirinda
distraiu-se brincando no campo e se deu conta de que tudo estava coberto de
sombras. Naquela noite e no dia seguinte ela perturbou o sossego do formigueiro
querendo saber como é isso - um tempo em que tudo é claro e outro tempo em que
não se vê quase nada.
Como nas questões anteriores, ninguém conseguia explicar os fenômenos.
Um dia, recentemente, um bando de adolescentes resolveu afastar-se mais
do formigueiro e foram parar na beira do córrego. Aquela beleza de água
deslizando sem barulho, correndo para seu destino.
As formiguinhas todas lavaram os seis pés na beira do córrego depois
voltaram para o campo e se puseram a brincar de carregar pedaços de folhas.
Uma, entretanto, estava faltando no grupo. Quem poderia ser? Mirinda, é claro.
Ela tinha ficado lá na beira do córrego, trepada nas grimpas de um pé de
guanchuma, tentando descobrir o que havia do outro lado, lá onde quase não se
podia enxergar.
No resto daquele dia e nos dias seguintes, a pergunta perturbadora: o que
há lá do outro lado do córrego?
Ninguém conseguia responder.
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