Aquele seu medo que
já dura quase cinco meses mais parece uma gravidez redonda e latejante a lhe
esticar a pele, um esforço pesado, uma espécie de rancor latente. Mesmo nos
momentos em que a mente deveria estar distraída com as futilidades da vida, lá
está seu medo, como um tumor agachado no canto escuro, espiando. Pode não tê-lo
na frente dos olhos, pode até esquecê-lo por causa do costume, não pode, entretanto,
desfazer-se da pele esticada. A fadiga já lhe rouba o gosto da vida: ainda bem
que vai chegando a hora de resolver seu destino. O dinheiro está de volta no
caixa e só lhe resta esperar o desfecho. Qualquer resultado, mesmo um desastre,
será melhor do que a expectativa tensa em que vem vivendo.
Seu Filinto acaba de
chegar da tarde fria de junho, e Rita, uma flanela na mão, mantém meio corpo
enfiado no balcão de vidro, limpando prateleiras e mercadorias de um pó
imaginário. Protegido por tubos e caixas, vidros e pilhas de formulários, seu
rosto transpira muito vermelho, mas não é do esforço. Este é o momento pelo
qual tem esperado nos últimos meses. Não pode falhar. É preciso esconder-se,
pois não conseguirá aparentar uma calma há muito tempo perdida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças