O professor Vítor Manuel continua discutindo as diversas designações para as várias modalidades da paraliteratura. Acompanhemo-lo.
Pág. 119 - "A designação de 'literatura de massas' põe em foco a natureza e o condicionalismo do processo comunicativo que é próprio de tal literatura e que se reflecte nos caracteres dessa mesma literatura. O público receptor da 'literatura de massas' não é um público constituído por um grupo, bem delimitado e apresentando relativa homogeneidade social e cultural, mas um público que constitui uma massa , isto é, um meio humano numericamente muito volumoso, heterogêneo na sua formação cultural e no seu estatuto económico-social, amorfo e carecente (pág. 120) de relações fundadas numa presença convivente, embora os seus membros, submetidos a um comum sistema de relações tecnoburocráticas, serviços e obrigações comunitários, reajam de modo relativamente uniforme a determinados estímulos.
A constituição deste público processou-se através de certas transformações económico-sociais e políticas - aparecimento de uma extensa camada social média, fixação crescente das populações nos espaços urbanos, diminuição do índice de analfabetismo, democratização do ensino e da cultura, etc. - e graças também à indispensável acção de alguns factores de ordem tecnológica e de ordem financeira. Se não fosse possível produzir o livro em grandes quantidades, com rapidez e a baixo custo - e isso foi-se tornando cada vez mais factível, desde o início do século XIX, graças ao contínuo aperfeiçoamento dos meios tecnológicos utilizados pela indústria gráfica - e se não fosse possível obter meios financeiros avultados com os quais se podem constituir poderosas empresas editoriais e gráfico-editoriais que, servidas por adequadas técnicas de organização e de marketing, difundem e impõem os seus produtos no mercado da leitura de um país ou até de vários países, não teria sentido falar-se de 'literatura de massas'. Tais transformações (pág. 121) económico-sociais, políticas e tecnológicas ocorreram durante o século XIX e, sobretudo, durante o século XX, tanto em países capitalistas como em países socialistas. Anteriormente ao século XIX, todavia, não se terão verificado alguns fenómenos de produção e de consumo literários que permitam falar da existência de 'literatura de massas'? Julgamos que sim. O Prof. José António Maravall, por exemplo, fundamentando-se em argumentos que se afiguram pertinentes, caracteriza a cultura do barroco espanhol como uma cultura de massas e inclui a produção teatral e romanesca do século XVII espanhol no tipo midcult e, em muitos casos, no tipo masscult.
O conceito e a designação de 'literatura de massas' - como os conceitos e as designações de 'cultura de massas' e 'arte de massas' - têm sido utilizados nos últimos anos por muitos escritores, sociólogos, políticos, etc., não somente sem qualquer conotação pejorativa, mas até com uma conotação fortemente positiva. Como escreve o sociólogo norte-americano Daniel Bell - a quem se deve a cunhagem da expressão 'sociedade pós-industrial' -, segundo a perspectiva de muitos críticos contemporâneos - e.g., Susan Sontag, Richard Poirier -, carece de validade a distinção de 'arte superior' (highbrow art) e 'arte inferior' (lowbrow art), devendo considerar-se a chamada 'arte elevada' como elitista e artificial e aparecendo portanto a designação de 'cultura de massas' como laudatória. Para outros estudiosos da arte e da literatura, porém, as designações de 'arte de massas' e 'literatura de massas' possuem irremediavelmente um significado depreciativo, não se podendo dissociar de um negativo juízo de valor emitido sobre as obras por elas abrangidas."
(CONTINUA)
Pág. 119 - "A designação de 'literatura de massas' põe em foco a natureza e o condicionalismo do processo comunicativo que é próprio de tal literatura e que se reflecte nos caracteres dessa mesma literatura. O público receptor da 'literatura de massas' não é um público constituído por um grupo, bem delimitado e apresentando relativa homogeneidade social e cultural, mas um público que constitui uma massa , isto é, um meio humano numericamente muito volumoso, heterogêneo na sua formação cultural e no seu estatuto económico-social, amorfo e carecente (pág. 120) de relações fundadas numa presença convivente, embora os seus membros, submetidos a um comum sistema de relações tecnoburocráticas, serviços e obrigações comunitários, reajam de modo relativamente uniforme a determinados estímulos.
A constituição deste público processou-se através de certas transformações económico-sociais e políticas - aparecimento de uma extensa camada social média, fixação crescente das populações nos espaços urbanos, diminuição do índice de analfabetismo, democratização do ensino e da cultura, etc. - e graças também à indispensável acção de alguns factores de ordem tecnológica e de ordem financeira. Se não fosse possível produzir o livro em grandes quantidades, com rapidez e a baixo custo - e isso foi-se tornando cada vez mais factível, desde o início do século XIX, graças ao contínuo aperfeiçoamento dos meios tecnológicos utilizados pela indústria gráfica - e se não fosse possível obter meios financeiros avultados com os quais se podem constituir poderosas empresas editoriais e gráfico-editoriais que, servidas por adequadas técnicas de organização e de marketing, difundem e impõem os seus produtos no mercado da leitura de um país ou até de vários países, não teria sentido falar-se de 'literatura de massas'. Tais transformações (pág. 121) económico-sociais, políticas e tecnológicas ocorreram durante o século XIX e, sobretudo, durante o século XX, tanto em países capitalistas como em países socialistas. Anteriormente ao século XIX, todavia, não se terão verificado alguns fenómenos de produção e de consumo literários que permitam falar da existência de 'literatura de massas'? Julgamos que sim. O Prof. José António Maravall, por exemplo, fundamentando-se em argumentos que se afiguram pertinentes, caracteriza a cultura do barroco espanhol como uma cultura de massas e inclui a produção teatral e romanesca do século XVII espanhol no tipo midcult e, em muitos casos, no tipo masscult.
O conceito e a designação de 'literatura de massas' - como os conceitos e as designações de 'cultura de massas' e 'arte de massas' - têm sido utilizados nos últimos anos por muitos escritores, sociólogos, políticos, etc., não somente sem qualquer conotação pejorativa, mas até com uma conotação fortemente positiva. Como escreve o sociólogo norte-americano Daniel Bell - a quem se deve a cunhagem da expressão 'sociedade pós-industrial' -, segundo a perspectiva de muitos críticos contemporâneos - e.g., Susan Sontag, Richard Poirier -, carece de validade a distinção de 'arte superior' (highbrow art) e 'arte inferior' (lowbrow art), devendo considerar-se a chamada 'arte elevada' como elitista e artificial e aparecendo portanto a designação de 'cultura de massas' como laudatória. Para outros estudiosos da arte e da literatura, porém, as designações de 'arte de massas' e 'literatura de massas' possuem irremediavelmente um significado depreciativo, não se podendo dissociar de um negativo juízo de valor emitido sobre as obras por elas abrangidas."
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