Ao sair para o mato, não queria nem ler outdoor para
descansar. Mas uma distração na hora de arrumar as malas foi fatal
por Menalton Braff
— publicado 03/06/2013 14:21
Não faço a menor ideia de quem tenha inventado férias,
recessos, essas coisas pelas quais sempre esperamos com ansiedade, e não
confesso com orgulho meu desconhecimento, pois ainda não entrei na era da
deficiência como vantagem, coisa muito comum na Bruzundanga de nossos dias. Já
ia dizer nossos dias hodiernos, de pura brincadeira, mas me lembrei de que há
muitas pessoas me exigindo certo respeito com a língua, isto é, aquele respeito
pão, pão; queijo, queijo. Pois meus leitores (se é que os há), mesmo não
sabendo a origem do recesso, sempre que posso entro macunaimicamente em “Ai,
que preguiça!”. Então chegaram esses dias depois do dia 30 de maio, uma
quinta-feira, em que a maioria aproveitou para emendar até a segunda, o
conhecido fim de semana prolongado. E com esses dias todos sem compromissos,
combinei com a minha mulher: entramos em recesso. Estávamos precisando com
urgência, principalmente ela, porque seu motor já andava a pique de ferver.
Ao sair para o mato nesse recesso, pensei, não leio nem outdoor quando estou de folga. Carrego sempre no bolso tal propósito se a ordem é descansar. Uma distração na hora de arrumar as malas me foi fatal. Acrescentei entre os pedaços da casa que costumo levar em viagem O povoado, do William Faulkner, que preciso terminar de ler. Ao desfazer as malas e dar com o livro me olhando silencioso, muito fechado em si, pensei, bem, quando as vistas cansarem, tenho uma encosta coberta por um cafezal para ver. Adiante um pouco, altos morros com peraus no meio de verdes de todos os tons. Mais perto, árvores apontando para o céu, as folhas refletindo o sol, os bandos de canários da terra circulando em nossa volta, terra, pedras, grama, jardins. Neste caso, a leitura do Faulkner não vai atrapalhar meu descanso quisperança. Mas crônica, quisperança, como dizia minha mãe. De jeito nenhum.
Ao sair para o mato nesse recesso, pensei, não leio nem outdoor quando estou de folga. Carrego sempre no bolso tal propósito se a ordem é descansar. Uma distração na hora de arrumar as malas me foi fatal. Acrescentei entre os pedaços da casa que costumo levar em viagem O povoado, do William Faulkner, que preciso terminar de ler. Ao desfazer as malas e dar com o livro me olhando silencioso, muito fechado em si, pensei, bem, quando as vistas cansarem, tenho uma encosta coberta por um cafezal para ver. Adiante um pouco, altos morros com peraus no meio de verdes de todos os tons. Mais perto, árvores apontando para o céu, as folhas refletindo o sol, os bandos de canários da terra circulando em nossa volta, terra, pedras, grama, jardins. Neste caso, a leitura do Faulkner não vai atrapalhar meu descanso quisperança. Mas crônica, quisperança, como dizia minha mãe. De jeito nenhum.
Até agora não entendi por que veio parar aqui o notebook
(aqui em Bruzundanga virou notebook). Mas veio. E com ele, de repente, a ideia
de que poderia falar em uma crônica das coisas que tenho visto por cá. Mas
falar de quê? Das seriemas? Que sei eu de seriemas além de que têm pernas
compridas e vêm fazer serenatas de madrugadinha debaixo da minha janela? Não,
melhor não falar dessas coisas que me entram pelos sentidos, mas cuja essência
sou incapaz de captar. Tenho os sentidos abertos para o ambiente, esse ambiente
que, tenho certeza, me ajuda a descansar. Por outro lado, resolvemos ficar
isolados do mundo, sem televisão, telefone, sem nada de longe que nos
distraísse.
Ora, se não posso falar do ambiente que me acolhe com
carícia por pura incompetência minha e se do exterior não nos chegam novidades,
o notebook não veio para me servir? Parado, olhando o horizonte por trás do
verde escuro do cafezal, súbito a ideia: a própria crônica, seu fazer, ou
melhor, a falta de assunto pode virar minha matéria. E não me acusem de
cabotinice porque os grandes também fizeram isso, os grandes, como o Machado de
Assis, nosso inventor. A metacrônica foi prática machadiana muitas vezes quando
a rua do Ouvidor e outras bandas do Rio de Janeiro não lhe diziam nada. Você,
meu caro leitor, pode alegar uma diferença de grau com a qual tenho o dever de
concordar, mas a imitação do processo não pressupõe a ambição da equivalência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças