quarta-feira, 26 de junho de 2013

QUESTÕES DE ESTÉTICA DA LITERATURA (59)

Continuemos acompanhando a discussão estabelecida pelo Dr. Vítor Manuel de Aguiar e Silva com as várias correntes teóricas a respeito do conceito de paraliteratura.
 
Pág. 127 - "Em terceiro lugar, Mouralis estabelece entre literatura e 'contraliteratura' - reduzida esta aos textos da chamada 'paraliteratura' - uma relação 'eminentemente conflitual', uma rede de tensões que actua como corrosão multiforme do 'campo literário', pois que a simples presença dos textos da 'contraliteratura' ameaça o equilíbrio deste mesmo 'campo', denunciando o seu carácter arbitrário. Tais conclusões e juízos carecem de adequada fundamentação empírica e teórica. Como demonstraremos em seguida, não existe, nos termos pretendidos por Mouralis, aquela relação 'eminentemente conflitual' entre literatura e paraliteratura, nem os textos desta consubstanciam modalidades múltiplas de subversão do 'campo literário'.  Mais uma vez paradoxalmente, Mouralis atribui à 'contraliteratura', expungida da 'vanguarda' literária, uma função intraliterária e extraliterária que só poderia desempenhar se confinada a essa mesma 'vanguarda'. Por outro lado, o carácter arbitrário que Mouralis imputa ao 'campo da literatura' exige alguns comentários e esclarecimentos: se, por 'carácter arbitrário', Mouralis entende a variabilidade diacrónica e sociocultural do 'campo da literatura', aquela expressão é inadequada; se, por 'carácter arbitrário', entende a seleção dos textos integrantes do 'campo literário' imposta, segundo determinada óptica, por uma das 'linhas de força que percorrem a sociedade global', torna-se indispensável saber qual a instância histórica que declara tal 'arbitrariedade', com que legitimidade o faz, etc. Se Mouralis afirma que o estatuto do texto literário e o estatuto do texto não-literário não são redutíveis nem à permanência de uma tradição, nem a caracteres objetivos existentes naqueles textos - problemática rápida e superficialmente tratada pelo autor -, não se  (pág. 128) entrevêem os fundamentos epistemológicos, lógicos ou de outra ordem susceptíveis de permitirem formular aquela imputação, a menos que, por imposição ideológica, se institua um juiz meta-histórico que aquilate o 'carácter arbitrário' das transformações operadas historicamente no 'campo da literatura'. Mas imposição ideológica equivale a negação da lógica da investigação científica."
 
 
(CONTINUA)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças