por Menalton Braff — publicado 19/01/2014
Poucas vezes tenho confessado que em futebol meu gosto é bastante
restrito. Claro, existe um clube que me acompanha desde os cinco anos de idade.
Ou menos. E não preciso dizer qual é. Os movimentos dos jogadores, vejo
coreografados pelo improviso, e alguns são realmente belos. Uma jogada
inteligente, sobretudo fruto original, recém-inventado, ah, isso me agrada. Não
importa o clube do autor, mas é claro que sendo do time para o qual torço,
melhor ainda.
Neste mês de janeiro, quase todos os dias a televisão mostra
disputas de equipes de juniores. É fácil perceber que lhes falta experiência,
tamanhas são as bobagens que cometem. Mas no meio do lugar comum, das
tentativas de cópia de seus colegas mais velhos, eis que um daqueles garotos
inventa um lance que nunca se tinha visto, e isso promete para o futuro do
futebol. Sim, porque a mesmice nesse esporte é dura de aguentar.
Acontece que como conseqüência de tanto assistir às disputas
da Copinha, como carinhosamente a mídia a batizou, tenho ouvido como raramente
acontece o Hino Nacional Brasileiro. O Brasil é um país de chuteiras. Tenho a
impressão de que foi o Nelson Rodrigues o autor da frase. Se foi ou não, a
frase é verdadeira. O amor à pátria, e já disse isso aqui, começa com o futebol
e termina com ele. É impressionante como no dia seguinte a qualquer participação
nacional no esporte inglês, as bandeiras são enroladas, escondidas, talvez
rasgadas. Não tem futebol, então o Brasil que se frega.
Bem, mas meu assunto nem era pra ser tão sisudo. É que de
tanto ouvir nosso hino, algumas vezes cantado, voltei à minha infância, quando
se ouvia o hino houvesse futebol ou não. Naquele tempo, parece que havia
guerra, o que deixa nossos ânimos mais exaltados. No futebol muito pouca gente
morre ultimamente se o compararmos às outras guerras, aquelas com cheiro de
pólvora.
E de volta à minha infância, me lembro de uma curiosidade
que por muito tempo silenciei talvez por medo do ridículo, já não me lembro
mais. Mas um dia estávamos só minha mãe e eu em casa. Meus irmãos, chusma de
irmãos, esparramavam-se por pomares e quintais das redondezas. Então aproveitei
para dirimir minha dúvida.
− Mãe, o que é herói cobrado?
Meu pai, quando chegou da escola, foi consultado e nos deu
uma aula de elocução oral, com as palavras que nos fossem familiares, e me
lembro do exemplo que ele usou então.
− Ninguém diz, por exemplo, “O que é que você quer?”
E eu assustado:
− E como é que se diz, então?
− Que que ce qué?
Comecei a observar essas diferenças e a entender o Hino
Nacional. Não tive escolha, fui fazer o curso de Letras.
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