terça-feira, 27 de maio de 2014

QUESTÕES DE ESTÉTICA DA LITERATURA (100)



Vítor Manuel


Pág. 222 - "É necessário, porém, distinguir adequadamente entre o autor enquanto sujeito empírico e histórico, cujo nome civil figura em regra na capa e no frontispício das suas obras -um cidadão juridicamente identificável, com um determinado estatuto social, profissional, etc. - e o emissor que assume imediata e especificamente a responsabilidade da enunciação de um dado texto literário e que se manifesta sob a forma e a função de um eu oculta ou explicitamente presente e actuante no enunciado, isto é, no próprio texto literário.

(p. 223) Esta distinção fundamenta-se no sistema de regras pragmáticas a que demos o nome de ficcionalidade e que analisámos em 3.4. Com efeito, o emissor oculta ou explicitamente presente e actuante no texto literário é uma entidade ficcional, uma construção imaginária, que mantém com o autor empírico e histórico relações complexas e multívocas, que podem ir do tipo marcadamente isomórfico ao tipo marcadamente heteromórfico. Em qualquer caso, porém, nunca estas relações se poderão definir como uma relação de identidade, nem como uma relação de exclusão mútua - duas soluções antagonicamente extremas que defluem respectivamente de uma concepção biográfico-confessionalista e de uma concepção rigidamente formalista do texto literário -, devendo antes definir-se como uma relação de implicação. O teor desta relação, principalmente sob os pontos de vista psicanalítico, sociológico e ideológico, assume grande relevância em todo o processo da comunicação literária e só pode ser determinado e caracterizado com fundamento na análise do próprio texto literário, articulando-a com o estudo de outras fontes de informação exteriores ao texto e atinentes ao autor empírico e histórico, ao seu processo de produção literária, em geral, e ao processo de produção do texto em causa, em particular.
Por estas razões, torna-se teoricamente indispensável e didacticamente conveniente utilizar designações distintas para o autor como sujeito empírico e histórico e para o emissor como 'instância locutora integrada no texto e indissociável do seu funcionamento.'"

(CONTINUA)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças