Toninho vê o mundo
Uma das graças da vida é podermos quase todos os dias fazer
alguma coisa pela primeira vez. Assim nos renovamos no que fazemos.
Já não sei quantos prefácios e orelhas, quantas resenhas de
livros assinei ao longo da vida. Nunca tive a preocupação de colecionar ou
organizar o que escrevo, como fazem alguns amigos meus. Não me dou tanta
importância assim. Mas imagino que tenha sido um razoável número de textos.
Pois o que estou escrevendo neste momento (uma resenha) é algo pela primeira
vez. Jamais imaginei me deparar com o livro de poemas de um poeta que ainda não
ultrapassou os dez anos de vida.
Isso é surpreendente.
Dizer que o Antonio P. Ventura é filho de um casal de poetas
ajuda a entender o fenômeno, mas não explica tudo. Tudo bem que a Débora, sua
mãe, e o Antonio Ventura, o pai, sejam poetas, mas conheço muito filho de
poetas que preferem os esportes, os mistérios tecnológicos, e outras coisas
mais práticas da vida. Imagino que o Toninho não teria tido o contato que teve
com a arte da palavra, pelo menos nesta fase da infância. Mas isso é apenas um
dado dos incontáveis elementos de que se faz um poeta.
Seu primeiro livro, Toninho,
o poeta A-Ventura, aqui na minha frente, me olha e me desafia. Por não
decifrá-lo, posso até mesmo ser devorado. Mas como decifrar tal amor pelas
palavras, de um menino com sua idade, que diz coisas como “A chuva é boa para
muitas coisas:/ dormir, contar histórias de terror ou não.” Ou “Ó pássaro sem
limites de tempos e espaços!”
Quem conhece o Toninho, sabe que ele não é um adulto de
tamanho reduzido. Ele tem o riso das crianças, gosta de brincar como todas as
crianças, fala como criança, mas tem uma coisa que nem toda a criança tem: ele
ama a leitura. Sua mãe costuma dizer que é um devorador de livros. Desde
clássicos como a Odisseia, de Homero
e O Inferno, de Dante (em forma
reduzida e facilitada, evidentemente) até autores contemporâneos (sem
facilitação alguma), ele devora. E isso está em sua poesia, ou seja, quando a
criança pega uma caneta, ela se transforma e passa a ver o mundo com um acúmulo
de conhecimentos muito raro de se encontrar em sua idade.
Mas tratando do livro mais diretamente, notam-se duas linhas
temáticas bem distintas. De um lado, e como predominância, seu contato amoroso
com a natureza. Chuva, lua, sol, as estações, o sabiá são todos assuntos
recorrentes em sua poética. A criança que se fascina com aquilo que vê, com
aquilo que lhe dão os sentidos. É uma poesia mais sensorial, mas ligada à
percepção direta do mundo.
Em menor quantidade, não menos importante, contudo, surgem
temas reflexivos como a passagem do tempo, e o próprio fazer poético, em
metalinguagem de rara beleza, como este
O autor
O autor
diz poemas
que são cisnes
maravilhosos
que vivem
no lago.
Felizes.
O Toninho já vê o mundo com os olhos da poesia. Ele é uma
estrela que ilumina o céu de Mococa, mas é esperar um pouco mais porque uma
noite destas vai aparecer no firmamento para que o país inteiro o possa ver.
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