quinta-feira, 21 de maio de 2015

QUESTÕES DE ESTÉTICA DA LITERATURA (139)

Continuamos com algumas transcrições do livro LITERATURA E RESISTÊNCIA, do prof. Alfredo Bosi.

Ora, há um discurso entre acadêmico e mercadológico que valoriza esses vários subconjuntos exclusivamente em função dos seus conteúdos. O conteudismo, que o formalismo estruturalista acreditava morto e enterrado para todo sempre, mostrou, na cultura contemporânea, que resistiu e está muito bem de saúde. Que o digam os estudos culturais que sobretudo nos Estados Unidos, mas também nas suas periferias, substituíram a interpretação literária e a crítica estética pela exposição nua e crua do assunto, valorizando-o, se politicamente correto, e condenando-o, se politicamente incorreto.




Falei há pouco em convenção. É a palavra que convém para ajuizar os modos expressivos desse hipermimetismo. Convenção: palavra-chave para o historiador da literatura educado na compreensão social de todo fenômeno simbólico. Quem se dedica ao entendimento da formação de uma literatura como sistema deve examinar em profundidade o fenômeno da convenção. Não há consolidação de estilos, não há tradição cultural sem a vigência de certos padrões temáticos e formais. Há padrões clássicos, barrocos, arcádicos; e até mesmos os românticos, inimigos jurados de todo  maneirismo, acabaram criando convenções temáticas e expressivas de longa duração. Quanto a mim, pensei que ao menos as convenções parnasianas estivessem defuntas sem remissão. Enganei-me: lendo traduções requintadas de poetas neoneovanguardistas, o crebro estalar de mármores partidos voltou a perfurar meu pobre ouvido. Alberto de Oliveira, Francisca Júlia, ainda hão de dar-vos o reconhecimento devido, posto que tardio.
Mas por que estranhar? Chegou a hora da Expo-2000, chegou a hora de exibir todas as convenções, combiná-las, apresentá-las e sobretudo vendê-las em nobre capa de papel vergê, em lustroso papel cuchê.
Ora, é pela análise da convenção (que subsiste, não confessada embora, na prática do hipermimetismo) que alcançamos o outro pólo deste universo pós-moderno de extremos.

(CONTINUA)

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