quinta-feira, 2 de julho de 2015

QUESTÕES DE ESTÉTICA ESTÉTICA DA LITERATURA (145)

Horácio
Muito se tem ainda que falar dos gêneros literários, conceito com mais de dois mil anos de história até chegar aos nossos dias. Continuemos, portanto.
4.5. A teoria dos géneros literários desde o Renascimento ao neoclassicismo

"Na prática e na teoria literárias do Renascimento tardio, sobretudo após a difusão da Poética de Aristóteles e a sua combinação, ou fusão, com a Epístola aos Pisões de Horácio, a doutrina dos géneros literários alcançou um desenvolvimento, uma sistematicidade e uma minúcia que a transformaram, até ao advento do romantismo, num dos factores mais relevantes da metalinguagem do sistema literário.



No âmbito do que poderemos designar por classicismo renascentista, o género literário passou a ser concebido como uma entidade substantiva, autónoma e normativa. Cada um dos três géneros literários fundamentais - o épico, o dramático e o lírico - se subdividia noutros géneros menores e todos estes géneros, maiores e menores, se distinguiam uns dos outros com rigor e com nitidez, obedecendo cada um deles a um conjunto de regras específicas. Estas regras incidiam tanto sobre aspectos formais e estilísticos como sobre aspectos temáticos, constituindo a obediência de uma obra às regras do género a que pertencia um preponderante factor positivo na avaliação do seu merecimento estético. As regras eram extraídas quer dos teorizadores e preceptistas literários mais autorizados - sobretudo Aristóteles e Horácio -, quer das grandes obras da antiguidade greco-latina, elevadas pelo humanismo renascentista a modelos ideais das modernas literaturas europeias.
A poética do classicismo francês e do neoclassicismo europeu, em geral, acolheu substancialmente a noção de género literário elaborada pelo aristotelismo e pelo horacianismo do Renascimento O género foi concebido como uma essência inalterável ou, pelo menos, como uma entidade invariante, governada por regras bem definidas, vigorosamente articuladas entre si e imutáveis. Dentre as regras de âmbito geral, sobressaía a regra da unidade de tom, que preceituava a necessidade de manter rigorosamente distintos os diversos géneros: cada um possuía os seus temas próprios, o seu estilo, a sua forma e os seus objectivos peculiares, devendo o escritor esforçar-se por respeitar estes elementos configuradores de cada género em toda a sua pureza. Os géneros híbridos, resultantes da miscigenação de géneros diferentes, foram rigorosamente proscritos. Em França, o triunfo da poética do classicismo foi acompanhado por um notório declínio da tragicomédia."

(CONTINUA)

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