Horácio |
4.5. A teoria dos géneros literários desde o Renascimento ao neoclassicismo
"Na prática e na teoria literárias do Renascimento tardio, sobretudo após a difusão da Poética de Aristóteles e a sua combinação, ou fusão, com a Epístola aos Pisões de Horácio, a doutrina dos géneros literários alcançou um desenvolvimento, uma sistematicidade e uma minúcia que a transformaram, até ao advento do romantismo, num dos factores mais relevantes da metalinguagem do sistema literário.
No âmbito do que poderemos designar por classicismo renascentista, o género literário passou a ser concebido como uma entidade substantiva, autónoma e normativa. Cada um dos três géneros literários fundamentais - o épico, o dramático e o lírico - se subdividia noutros géneros menores e todos estes géneros, maiores e menores, se distinguiam uns dos outros com rigor e com nitidez, obedecendo cada um deles a um conjunto de regras específicas. Estas regras incidiam tanto sobre aspectos formais e estilísticos como sobre aspectos temáticos, constituindo a obediência de uma obra às regras do género a que pertencia um preponderante factor positivo na avaliação do seu merecimento estético. As regras eram extraídas quer dos teorizadores e preceptistas literários mais autorizados - sobretudo Aristóteles e Horácio -, quer das grandes obras da antiguidade greco-latina, elevadas pelo humanismo renascentista a modelos ideais das modernas literaturas europeias.
A poética do classicismo francês e do neoclassicismo europeu, em geral, acolheu substancialmente a noção de género literário elaborada pelo aristotelismo e pelo horacianismo do Renascimento O género foi concebido como uma essência inalterável ou, pelo menos, como uma entidade invariante, governada por regras bem definidas, vigorosamente articuladas entre si e imutáveis. Dentre as regras de âmbito geral, sobressaía a regra da unidade de tom, que preceituava a necessidade de manter rigorosamente distintos os diversos géneros: cada um possuía os seus temas próprios, o seu estilo, a sua forma e os seus objectivos peculiares, devendo o escritor esforçar-se por respeitar estes elementos configuradores de cada género em toda a sua pureza. Os géneros híbridos, resultantes da miscigenação de géneros diferentes, foram rigorosamente proscritos. Em França, o triunfo da poética do classicismo foi acompanhado por um notório declínio da tragicomédia."
(CONTINUA)
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