quinta-feira, 6 de agosto de 2015

QUESTÕES DE ESTÉTICA DA LITERATURA (149)

Diderot
4.6. Os géneros literários na poética romântica

"No século XVIII, sobretudo durante a sua primeira metade, a doutrina classicista sobre os géneros literários encontrou ainda muitos propugnadores, em particular com as chamadas correntes neoclássicas ou arcádicas. Todavia, as profundas modificações ocorridas no domínio das ideias estéticas durante o século XVIII - século de crise e de gestação de novos valores em todos os planos - não podiam deixar de envolver a problemática dos géneros literários. Certos princípios filosóficos e ideológicos que avultam na cultura europeia setecentista - a crença no progresso contínuo da civilização, da sociedade e das suas instituições, das ciências e das letras, o espírito modernista e antitradicional daí decorrente, a admissão do relativismo dos valores, etc. - necessariamente haviam de afectar, na sua coerência global a teoria clássica dos géneros.



 Com efeito, afirmar o progresso dos valores literários e defender o relativismo destes mesmos valores equivalia a negar o carácter imutável dos géneros, a admitir que as obras dos escritores gregos e latinos não possuíam o estatuto de realizações paradigmáticas e supremas dos diversos géneros e, portanto, equivalia a concluir pela historicidade e pela variabilidade, no tempo e no espaço, dos géneros e das regras. Novas formas literárias, que se desenvolvem e adquirem grande importância ao longo do século XVIII, como o romance, a autobiografia, o drama burguês, etc., contribuem para corroborar empiricamente aquelas conclusões.
Ainda no século XVIII, o movimento pré-romântico alemão, conhecido pelo nome de Sturm und Drang, proclamou uma rebelião total contra a teoria clássica dos géneros e das regras, pondo em evidência a individualidade absoluta e a autonomia radical de cada obra literária e sublinhando o absurdo de estabelecer partições no seio de uma actividade criadora única. A estética do génio, ao conceber a criação poética como irrupção irreprimível da interioridade profunda do poeta, como actividade alheia e refractária a modelos e a regras, forçosamente havia de condenar a existência dos géneros."

(CONTINUA)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças