Raquel Naveira*
Raquel Naveira nasceu em Campo Grande, Mato Grosso do Sul,
no dia 23 de setembro de 1957. Formou-se em Direito e Letras pela FUCMT, atual
Universidade Católica Dom Bosco, onde exerceu o magistério (Literatura
Brasileira, Literatura Portuguesa e Literatura Latina), desde 1987 até 2006.
Curso Superior de Língua e Literatura Francesas pela Universidade de Nancy
(França).Mestre em Comunicação e Letras pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie, de São Paulo.
Lecionou na Universidade Santa Úrsula, do Rio de Janeiro, de
2006 a 2007 e deu cursos na Casa da Leitura e na Sala de Leituras/RJ.
Professora do Curso de Letras da Faculdade Anchieta, de São Bernardo do
Campo/SP, desde julho de 2008. Dá cursos sobre literatura na Casa das Rosas/SP.
Professora do Curso de Pós-Graduação intitulado “Práticas e Vertentes do Ensino
e Aprendizagem da Língua Portuguesa e Literatura”, da UNINOVE/ SP (2008).
Pertence à Academia Sul-Mato-Grossense de Letras e ao Pen
Clube do Brasil. Escreveu vários livros, entre eles:Abadia (poemas, editora
Imago,1996) e Casa de Tecla (poemas, editora Escrituras, 1999), finalistas do
Prêmio Jabuti de Poesia, da Câmara Brasileira do Livro. Os mais recentes são o
livro de poemas Portão de ferro(Escrituras, 2006) e o livro de ensaios
Literatura e drogas - e outros ensaios (Nova Razão Cultural, 2007), adotado em
toda rede estadual do Rio de Janeiro. Escreveu ainda o infanto-juvenil, Pele de
Jambo e o livro de ensaios,Fiandeira.
Unindo história e poesia, publicou os romanceiros Guerra
entre irmãos (poemas inspirados na Guerra do Paraguai) e Caraguatá (poemas
inspirados na Guerra do Contestado), que se transformou no curta-metragem
"Cobrindo o céu de sombra", monólogo com a atriz Christiane Tricerri,
sob a direção de Célio Grandes.
Lançou o CD “Fiandeiras do Pantanal”, onde declama seus
poemas, acompanhada pela voz e a craviola da cantora Tetê Espíndola.
A obra de Raquel Naveira tem enorme fortuna crítica, sendo
reconhecida e apreciada por escritores e críticos como Fábio Lucas, Hernani
Donato, Paulo Bonfim, Lygia Fagundes Telles, Nelly Novaes Coelho, Nélida Piñon,
Antônio Houaiss, Lêdo Ivo e outros.
Raquel Naveira produziu e apresentou o programa literário
"Prosa e Verso", por seis anos, no canal universitário (canal 14, da
NET), onde já entrevistou Adélia Prado, Zuenir Ventura, a atriz Cássia Kiss
(vídeo no Youtube) e Ignácio de Loyola Brandão.
Profere palestras, participa de feiras de livros, eventos
universitários e culturais, fazendo leituras de seus poemas por todo o País.
(site da UBE)
AZEITE
Assim como o Sr. Grandet, célebre personagem de Balzac,
autor da Comédia Humana, guardava com avareza moedas de ouro sob a escada de
seu soturno casarão no interior da França, meu avô português guardava azeite.
Empilhava latas e latas no vão formado pelos degraus de madeira, em estranhas
construções. Eu observava as figuras: o galo de Barcelos, de fundo preto,
pintura colorida, crista vermelha; os olivais, as pontes sobre os rios e a
mulher de xale florido que certamente se chamava Maria e dançava o vira. O
azeite vindo da aldeia de Figueira da Foz, pertinho de Coimbra, se misturava em
nossas refeições à salada, ao pão, ao vinho, ao peixe, às lembranças da
terrinha.
O azeite é mesmo um elemento extraordinário, milenar. Na
culinária é ouro líquido, que dá sabor, aroma e acidez aos pratos. Mas também
servia como unguento, bálsamo, perfume, combustível para iluminação. Teve um
papel fundamental para os povos antigos do Mediterrâneo e do Oriente. Os santos
óleos acompanhavam o começo e o fim, o alfa e o ômega, o batismo e a extrema-unção,
purificando e protegendo as almas pelos caminhos do mundo dos vivos e dos
mortos.
O azeite de oliva é extraído da azeitona, fruto da oliveira.
A oliveira é árvore sagrada, símbolo da paz, da força e da fecundidade. Os
gregos acreditavam que era um presente da deusa Atena ou Minerva, deusa da
sabedoria, que trazia a prosperidade e a luz que alimentava as lâmpadas. Os
reis de Israel, como Davi, eram ungidos com azeite que lhes conferia
autoridade, poder e glória. Os soldados eram untados de azeite antes de
enfrentar os campos de batalha.
Gosto da passagem bíblica que conta a história da viúva de
Sarepta. Essa mulher sem nome, do povoado de Sarepta, é um exemplo de
humildade, fé, coração bom e hospitaleiro. Era tempo de seca. O profeta Elias
foi enviado por Deus à casa da viúva, onde ela vivia com seu filho único. O
profeta pediu que ela preparasse um bolo para ele. Ela explicou que só tinha um
punhado de farinha de trigo e um pouco de azeite para fazer um bolo para ela e
seu filho que comeriam e, depois, morreriam de fome. Súbito, ela sentiu nos
olhos do profeta uma doçura estranha. Foi tomada por uma reverência, um
reconhecimento de santidade. O Deus de Elias não era seu deus. Ela era pagã e
pobre. Decidiu com sabedoria e coragem dividir o pouco que tinha com aquele
peregrino do deserto. Apostou. Correu o risco. E nunca mais a farinha da panela
se acabou nem faltou o azeite da botija, até que a chuva descesse sobre aquela
terra.
Faz tanto tempo. Meu avô, minha avó. Sentávamos à mesa, o
retrato estampado na lata parecia ouvir as histórias sobre as ruas estreitas de
Alfama, os versos de Camões e Pessoa, as colheitas de uva, as receitas de
bacalhau. À tardezinha, quando da porta da cozinha, avistavam-se as luzes da
cidade, minha avó pegava uma colher de azeite, despejava numa tigela branca e
benzia quebranto. Os lábios murmuravam preces, o azeite sumia misteriosamente
na água. A febre e a opressão cessavam.
Desde cedo vivi o ritual do azeite. Fui toda ungida: o
corpo, os cabelos, a pele, o plexo solar, a mente, o espírito sedento. O óleo
escorria até a orla dos meus vestidos, encharcando-me de orvalho. É por isso
que flui de mim uma energia espessa, alaranjada e quente.
Caro amigo, Menalton, uma alegria estar no seu blog. Obrigada pelo carinho e atenção. Admiro-o como mestre e escritor. Abraço fraterno.
ResponderExcluirRaquel Naveira
Raquel, divulgar amigos de valor é um prazer.
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Menalton