
Resenha: O peso da gravata
Até ler essa obra, desconhecia por completo Menalton Braff.
Aliás, só dei uma chance para seu trabalho porque o autor foi vencedor do
Prêmio Jabuti, o que é um excelente feito. Ao terminar a obra, entendi o motivo
das indicações e passei a ter apreço pelo trabalho do escritor. Afinal,
transmitir intensidade e profundidade em um conto, que é uma narrativa bem mais
curta, é tarefa árdua. Felizmente, Braff domina essa arte.
Devido à quantidade de contos da obra, torna-se impossível
que se fale, detalhadamente, de cada um dos textos. Isso tornaria a resenha
enfadonha e tiraria o sabor do descobrimento por parte do leitor. Então,
deter-me-ei nos dois primeiros trabalhos, sendo o primeiro deles o que dá nome
ao livro.
“As três notas curtas e uma longa, da Quinta: torpedo.
Gonçalo segura o volante com a mão esquerda, liberando a direita para ver que
porra de mensagem é esta agora: não esquecer a recepção logo mais às cinco.
Joga o aparelho no banco do carona e bate com a mão espalmada na testa: droga,
droga, droga!” (p. 9).
O primeiro conto do livro abre a obra muito bem e é a
promessa, cumprida, aliás, de um bom livro pela frente. Braff começa já com uma
crítica social, mostrando o qual alienante é o peso das obrigações. Atualmente,
as pessoas “sérias” são esmagadas até que desapareçam. Cabe a uns poucos
corajosos quebrar esse julgo, cada um com a sua maneira. Uns criam um clube da
luta; outros tomam uma atitude mais prática como a do nosso protagonista.
O segundo conto da obra, O Violinista, é um texto muito
curto que narra o encontro de um crítico que reencontra um músico pelo qual
possui enorme apreço. Contudo, tal músico, apesar do talento ímpar, tocava em
um local onde o público não o apreciava e ainda o ignorava, o que cria uma
revolta naquele que é fã e crítico de sua obra.
“Parei em sua frente, horrorizado com o que via, indignado
com a crueldade do destino: o maior talento com que cruzei na vida submetido à
indiferença de um público que não era o seu. Cravei-me no granito da escada
numa tentativa desesperada de proteger meu amigo de corpos mais pesados, com
seus ouvidos de arame farpado. Em alguns momentos, esqueci com os cotovelos as
lições de boas maneiras” (p. 17).
Em relação a parte física, sobram também apenas elogios. A
capa representa bem a ideia da obra, apesar de não ser completamente original.
A diagramação interna, por sua vez, é um show à parte. A Primavera trabalhou
bastante na parte gráfica, apresentando um trabalho editorial de alto nível, o
mais bonito que eu já vi nas obras da editora. A revisão também está ótima,
ajudando ainda mais no processo de leitura.
Em suma, apesar de O Peso da Gravata não ter sido o melhor
livro de contos que eu já li, é uma obra inteligente, interessante e que
demonstra todo o potencial do autor. Sem dúvidas, um livro que merece ser lido.
Certamente, desbravarei outros trabalhos do autor.
“Ontem, depois de quatro anos, resolvi meu túmulo. Era noite
e o cemitério, com seus ricos jazigos alternados com pobres sepulturas rasas,
não me assustaram, apesar da hora” (p. 29).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças